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Halloween com terror, rock n’ roll e drag queen: The Rocky Horror Picture Show

20/10/2023

Entre a Sexta-feira 13 e o Halloween, a coluna da vez não poderia deixar de falar de um filme clássico de terror – ou melhor, terror, rock n’ roll e show de drag queens. Se você conhece bem o gênero, com certeza o que veio à mente foi The Rocky Horror Picture Show (1975, disponível no Star+). Nem um pouco convencional, e a cara dos anos 70, do jeitinho que a gente gosta por aqui. E que filme daora. Já vou logo avisando que mesmo para quem não curte musicais, como é o meu caso, não precisa ficar desconfiado. O longa não é considerado uma instituição do cinema cult à toa – a perfeita harmonia entre o áudio e o visual, e com cara de espetáculo teatral (o que faz sentido, já que se trata de uma adaptação de uma peça inglesa que estreou em 1973), o filme é uma viagem das boas. Então, tempere sua pipoca com pernas de aranha e troque a areia do seu gato preto – hoje é dia de filme de terror.

 

A história é a seguinte: Um casalzinho sem sal formado por Janet Weiss (Susan Sarandon) e Brad Majors (Barry Bostwick) estão noivos e saem em uma viagem juntos. Na estrada deserta e no meio da noite, o carro quebra e o único lugar por perto é um castelo esquisitaço, onde Janet e Brad decidem procurar ajuda. No casarão horripilante, o casal conhece o Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry), que veste lingerie e uma maquiagem marcante, e entrega uma super performance ao lado dos outros moradores ao som de “Sweet Transvestite”, revelando ser do planeta Transexual da galáxia Transilvânia (impossível não rir do trocadilho). Quando Janet, a boa moça de vestidinho rosa, e Brad, um cara super normal, aceitam passar a noite no castelo, eles são levados em uma jornada de descobrimento das suas sexualidades e abandono dos papéis de gênero – e claro, rola muita coisa estranha no caminho.

 

 

Apesar das cenas seguintes mostrarem um monstro criado em laboratório, assassinatos violentos e muito sangue, The Rocky Horror Picture Show logo revela ser sobre algo muito mais assustador: a repressão sexual. A estética única já entrega tudo, inspirada nas versões para as telas de Frankenstein, na moda proto-punk com jaquetas de couro e peças fetichistas pra lá de Vivienne Westwood e Sex Pistols e na androginia meio David Bowie. Os figurinos, de Sue Blane, misturam o masculino e feminino para criar uma verdadeira expressão artística. Tudo isso combinado com os cenários dignos de ficção-científica e uma história com um plano de fundo alienígena (os caras estavam muito nessa onda na década de 70, sério).

 

Drama. Muito drama. A atuação de Tim Curry é hipnotizante. O ator se mostra extremamente confortável em frente à câmera, em com certeza uma das melhores interpretações que já vi. As coreografias, diálogos e personagens são memoráveis, como o motoqueiro metido à Elvis Presley, Eddie (Meat Loaf), e o empregado da casa, Riff Raff, interpretado por Richard O’Brian, autor da peça original e co-escritor do filme. A narrativa também tem o complemento do narrador (Charles Gray), um criminologista com o sotaque mais britânico do universo que investiga o caso e ajuda o espectador a tirar a expressão de “não entendi” da cara. Ah, e o final é uma loucura.

 

 

O horror e o absurdo se encontram quando menos se espera, como na cena do jantar canibal, minha favorita. E toda a história é contada através das músicas que fazem parte de uma trilha sonora de rock n’ roll com linhas de guitarra eletrizantes. As letras são bem engraçadas e criam um belo contraste com a tensão deixada pelo instrumental das composições, que ainda são acompanhadas por boas performances vocais. Um musical nada irritante, raridade.

 

 

Apesar de alguns clichês, não dá para negar que o filme estava muito à frente do seu tempo. O longa foi lançado apenas seis anos depois da Rebelião de Stonewall, quando os movimentos pelos direitos LGBT+ lentamente começaram a ganhar espaço. Inclusive, na cena onde o Dr. Frank-N-Furter dá uma de cientista louco e cria um “homem ideal”, sua criação sai de um tanque com as cores do arco-íris, antes mesmo da invenção da bandeira do orgulho, que só aconteceria em 1978. Revolucionário, e muito divertido. Fazia um tempinho que eu não via um filme de terror (fora a péssima decisão de assistir A Freira 2 esses dias) e para entrar no clima de Dia das Bruxas, The Rocky Horror Picture Show foi uma boa.

 

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1 Comentário

  • Poxa, abri pensando que a coluna era sobre a versão encenada aqui no Guairinha com a Blindagem tocando ao vivo a trilha sonora, humpf!:P

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