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Mais um filme de Robert Eggers: “O Homem do Norte” vai além da vingança viking

30/05/2022

Para começar, o cinema de Robert Eggers não agrada a todos. E não é feito para agradar a todos. Pelo contrário, ele provoca, gera discussão e causa desconforto. Conhecido por seus filmes anteriores A Bruxa (2015) e O Farol (2019), Eggers traz em seu novo trabalho, “O Homem do Norte” uma mesma dinâmica de surrealismo, culto ao místico, e violência, já visto em seus outros longas. Mas agora no universo Viking. O diretor e Sjón escreveram o roteiro cuja maior inspiração foi a lenda de Amleth, personagem viking que inspirou o famoso e conhecido, “Hamlet” de William Shakespeare.

 

Do roteiro bem explorado (ainda que nada original) ao elenco excepcional, O Homem do Norte entrega uma história repleta de diálogos fiéis que, por sua vez, são capazes de transpor a época viking (entre meados de 700 d.C. e 1000 d.C.) para as telas. Claramente vemos uma preocupação e muito trabalho histórico de caracterização dos personagens que envolvem gestos e costumes corporais, além de dialetos específicos nas falas. E essa preocupação e execução merece ser notada e exaltada.

 

Na trama acompanhamos o pequeno Amleth (Alexander Skarsgård) que, ainda jovem, presenciou o brutal assassinato de seu pai, o Rei Aurvandil War-Raven (Ethan Hawke) morto pelo irmão, Fjölnir The Brotherless (Claes Bang). Então, seu tio se torna o novo rei e deliberadamente se apropria da mãe de Amleth, a rainha Gudrún (Nicole Kidman). Nesse cenário ele se vê obrigado a fugir, e aí, acompanhamos o protagonista que passa por diversos contratempos, dentre elas, uma profecia (com Björk). Ele então cresce, se torna um adulto e se vê pronto para retornar e concretizar sua vingança. Um guerreiro viking absurdamente violento, mas que no decorrer de seu plano, conhece Olga (Anya Taylor-Joy) trazendo mais dinâmica para a história que vai além de apenas vingança.

 

O livro O Herói de Mil Faces, do escritor e mitologista Joseph Campbell traz uma discussão sobre o famoso personagem de nomes diferentes que aparece em histórias dos mais variados povos pelo mundo. Esse herói encara qualquer desafio e, basicamente, os entrega uma mesma história ou jornada. Ruma a vingança! É uma mistura de místico e simbólico que já está impregnada em nosso imaginário e o arquétipo está feito. No longa de Eggers vemos essa ideia do herói de mil faces carregado de questões místicas envolvendo os deuses nórdicos. A preocupação com a história de um povo é um ponto alto do filme e nos é apresentada por meio de uma carga simbólica dos deuses, dos rituais, das crenças e dos costumes de forma muito significativa e fiel. Mesmo misturando com a ficção. Funciona e funciona muito bem.

 

Em O Homem do Norte acompanhamos um trabalho técnico primoroso. Trilha sonora, maquiagem, figurino, direção de fotografia, desenho de produção e por aí vai. São takes que nos apresentam imagens que mais se parecem com quadros de arte. Dito isso, o espetáculo fica a cargo da técnica, já que a história em si, embora com excelentes diálogos, não nos apresenta nada de novo quando pensamos em Hamlet, O Rei Leão e Viking. É um filme que nos apresenta cenas sem filtros e fica a dúvida com relação ao público alvo da obra. De novo: o cinema de Robert Eggers não é feito para agradar a todos.

 

Ainda que O Homem do Norte seja menos autoral do que A Bruxa e O Farol, estamos diante de algo que não necessariamente é um problema, já que Eggers nos apresenta a uma nova abordagem viking. Nos apresenta uma construção da história (sem novidades e já conhecida) que traz novos fragmentos e muita pesquisa histórica envolvida. Robert Eggers é cinema puro e de alta qualidade. E segue deixando a curiosidade no espectador pensando em novos trabalhos do diretor, e pairando a ansiedade do que está por vir. Além disso, permanece gerando discussões. Assim como fez com os longas-metragens anteriores. Afinal, arte é isso também! Refletir, pensar e gerar debate.

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