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Sexo, drogas e Al Pacino: ‘The Panic in the Needle Park’

24/05/2024

Um filme de romance no parque. Era só isso que sabia sobre The Panic in the Needle Park (1971), o segundo filme de Al Pacino, onde o cara mandou tão bem que chamou a atenção de Francis Ford Coppola, diretor de O Poderoso Chefão (1972). Mas claro que, como nunca é “só um filme” com o Al Pacino, o romance está mais para uma relação conturbada entre dois viciados em heroína e o parque, é na verdade uma pracinha em um cruzamento em Nova Iorque onde o tráfico rola solto. Não vou mentir, foi uma baita surpresa (beleza que eu mosquei de não ler o título em português, “Os Viciados”. Falha minha).

Na Nova Iorque caótica do início dos anos 70, Bobby (Al Pacino) é um jovem viciado em heroína e traficante do tipo peixe-pequeno, que vive nos arredores do Needle Park (pt: parque da agulha). Quando seu caminho se cruza com o de Helen (Kitty Winn), uma garota que não tem onde morar, ele faz de tudo para conquistá-la com aquele jeitinho de cachorrinho pidão que é marca registrada dos alguns dos primeiros papéis do ator. Em um momento de fragilidade, Bobby apresenta a Helen ao Needle Park, que logo começa a fazer parte de sua vida, entre brigas, prostituição e problemas com a polícia.

The Panic in the Needle Park é baseado no romance de mesmo nome de James Mills, com o roteiro de  John Gregory Dunne e de ninguém menos que a fenomenal Joan Didion (autora de Slouching Towards Bethlehem, um conjunto de ensaios sobre a Califórnia nos anos 60, e O Ano do Pensamento Mágico). Com aquela pegada bem Nova Hollywood de cinema de autor, a câmera tem um olhar intimista sobre a vida dos dependentes químicos em uma época e lugar únicos na história contemporânea, captando suas rotinas, relações, gírias, e os mínimos movimentos que antecedem o momento antes de se injetar. Imersão total. Ponto para o nosso diretor, Jerry Schatzberg, que fez sua estreia com esse filmaço. 

Dói assistir a jornada de Bobby e Helen. Afinal, nada mais emocionante que um romance no estilo Sid e Nancy, em que você sabe como tudo vai acabar. E o que você faz quando vê a pessoa que você ama se afundar no vício? Começa a pegar pesado também, óbvio. Além de apreciar o cenário, as personagens, as atuações e os figurinos (me apaixonei pelos casacos maravilhosos), acompanhar o namorinho quase adolescente dos dois adictos se transformando em uma dependência doentia cada vez mais insustentável é uma bad trip à parte. 

Dramático e cru, o longa tem bem a cara de filme de começo de carreira, com espaço para Al Pacino mostrar todo o seu potencial. Dois anos antes, o ator recém saído do teatro fez o filme Uma Garota Avançada, e logo depois de Needle Park, já estava na pele do icônico Michael Corleone. Sem medo de deixar um gosto amargo no espectador, o final melancólico é realista. Quando tudo parece estar perdido, está mesmo. Pesado demais. Vale a pena.

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