Vamos direto ao ponto mesmo. Filme sobre drogas. Essa semana eu estava afim de ver um filme sobre drogas. E não qualquer um. Eu estava afim de ver Trainspotting (1996, disponível no Max). E também estava afim de aparecer por aqui depois e te contar o que me levou a querer dar play nesse clássico absoluto do cinema entorpecido. Essa mistura perigosa de heroína, cena clubber dos anos 80, Iggy Pop (muito, mas muito Iggy Pop) e Ewan McGregor com sotaque escocês. Não tinha como não virar um ícone cult.
Inspirado no romance homônimo de Irvine Welsh, o filme se passa em Edimburgo, Escócia, e conta a história de Mark Renton (Ewan McGregor), um jovem desajustado que tenta lidar com o desemprego, os relacionamentos amorosos, as incertezas da vida e com o segundo protagonista da trama: o vício. Os amigos de Renton são um show à parte. Spud (Ewen Bremner) é um cara gente fina que comete pequenos furtos para sustentar os maus hábitos; Sick Boy (Jonny Lee Miller) é louco por heroína e filme do James Bond; Tommy (Kevin McKidd) é um garoto normal que acaba caindo no vício após terminar com a namorada; e Begbie (Robert Carlyle)… é só um cara muito louco.
Trainspotting é uma porrada. Em um ritmo perfeitamente frenético, a viagem, ou melhor, a bad trip, dura apenas 94 minutos. Renton narra os acontecimentos como um guia turístico desse universo da degradação total da mente e do corpo, submetendo o espectador a uma experiência alucinante. Em momentos críticos como a overdose e a reabilitação, parece que você está ali, bem pertinho. O longa consegue ser tão imersivo que até mesmo o nosso querido McGregor admitiu em entrevista recente que considerou usar drogas durante a produção.
Com certeza um dos filmes mais visualmente interessantes já feitos, Trainspotting também é responsável por cenas marcantes que mexem com a cabeça legal. Sequências como a do banheiro do bar mais nojento da cultura pop; Spud acordando após sujar os lençóis em um incidente intestinal e estragar o café da manhã da família toda; e a lendária a cena do bebê engatinhando no teto durante um delírio causado pela abstinência, não são fáceis de esquecer. E tudo isso rola ao som de “Lust for Life”, de Iggy Pop e com posters do vocal dos Stooges espalhados por todo lugar. Sério, tem muito Iggy Pop mesmo.
O filme conta com a direção de Danny Boyle, que uma década mais tarde seria o responsável por Quem Quer Ser Um Milionário (2008). Mal dá para acreditar. Trainspotting sabe tratar de um tema tão sério quanto trágico sem nunca perder aquele toque de humor ácido típico das produções britânicas. Assistimos a ascensão e queda do nosso herói Renton sem precisar ficar com aquele gostinho amargo no final. Tudo muito bem pensado. Ah, e eu recomendo assistir o filme com um bloquinho de notas para marcar as frases mais inteligentes e absurdas do filme. É uma atrás da outra. Que lição de vida.
Leia outras colunas da Isa Honório aqui.