O jornalista Roberto Muggiati publicou no blog Pannis cum ovum um texto/resenha sobre o livro ‘Rato de Redação – Sig e a história do Pasquim’, do jornalista gaúcho Marcio Pinheiro. O Pasquim foi o símbolo da resistência na imprensa durante o regime militar, convém alertar aos mais jovens.
Pois bem. Publiquei em 1987 um pequeno livro de crônicas, ‘Cidades e Chuteiras’, com primoroso projeto gráfico de Miran. Não tinha mais que 60 páginas, mas recebeu boas críticas de alguns amigos condescendentes.
Certo dia toca o telefone. Era o secretário de comunicação do estado, Fábio Campana, pedindo que eu fosse ao Palácio Iguaçu. Ele estava com um visitante que eu gostaria muito de conhecer.
Peguei um exemplar do livro e lá fui. Para minha surpresa, dei de cara com o Jaguar, em carne, pouca, e osso. Fiz a ele a dedicatória de praxe e me vi seu anfitrião. Fábio tinha outros compromissos, portanto fomos beber no meu escritório.
Quase morri de vergonha, porque a cerveja estava quente naquele dia – é possível que tenha sido o único do ano – em que a temperatura andava acima de 25 graus. Como alertava Nireu Teixeira, não há nada pior em mesa de bar do que cerveja quente e torresmo gelado.
Lembrei ao Jaguar que o havia encontrado na SGB, agência de propaganda em que trabalhei, na Rua do Russell, no Rio, uns 15 anos antes. Jaguar tinha sido contratado para colocar vinhetas em um anúncio de página dupla do Ponto Frio, o que fez usando seus personagens, como o rato Zig e Hugo Bidê. Ele lembrava vagamente, talvez por estar sóbrio naquela manhã carioca.
Apesar da cerveja fumegante, demos muitas risadas. Jaguar gostava de diversos curitibanos, como o citado Miran, o cartunista Solda e Jaime Lerner.
Tempos depois, alguém avisou que o Pasquim, já na época editado exclusivamente por ele, o único do grupo fundador a permanecer na redação, tinha publicado um texto meu.
Fui ver: lá estava o ratinho a dizer que eu era uma revelação que vinha de Curitiba. Jaguar havia mandado fotografar as páginas do meu livro e assim mandou imprimir. O Pasquim ainda publicou outro texto meu, naquele mesmo ano. Tempos depois, o jornal acabou.
Passaram-se alguns anos. Já no governo Lerner, certo dia estou me preparando para desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, quando vejo na fila o velho cartunista. Não resisti a cutucar seu ombro e me apresentar:
– Jaguar, sou o Ernani Buchmann. Uma vez o Zig disse que eu era uma revelação que vinha de Curitiba.
Ele respondeu na tampa:
– E pelo jeito, continua vindo.