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27/04/2024



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Jovem Dionísio

 Jovem Dionísio

A esta altura do campeonato todos devem estar sabendo da banda curitibana Jovem Dionísio e seu mega sucesso “Acorda, Pedrinho”, primeiro lugar no Spotify nacional. Mesmo assim, não poderia deixar de fazer este registro em minha coluna cultural, além de abordar o fenômeno por outros aspectos.

Para quem esteve fora do planeta Brasil nos últimos meses, Jovem Dionísio é uma banda formada por cinco amigos de Curitiba que tocam pop rock alternativo e lançaram as primeiras composições próprias há três anos. Eles dizem que fazem “bedroom pop”, uma espécie de música com arranjo acústico intimista e base eletrônica caseira. No início, chamavam-se Huff e se apresentavam com um repertório de covers em churrascos e festinhas do colégio. A típica banda de jovens de classe média alta que surge e desaparece aos montes. Em 2019, em meio à pandemia, passaram a utilizar o nome atual, inspirado no Bar Aquarius, um pé sujo que frequentam em Curitiba, de propriedade do tal Dionísio. Um ano depois, tiveram seu primeiro sucesso: “Ponto de Exclamação”, que virou um remix do DJ Vintage Culture com a participação da dupla Future Class. Segundo uma fonte do grupo: “Eles entraram em contato pelo Instagram. Falaram que haviam gostado da música e gostariam de fazer um remix”. Ficou um vídeo daqueles bem fofos, que hoje tem mais de 15 milhões de visualizações no Youtube, e pode ser visto aqui. Numa entrevista que deram para o jornalista André Molina, na Rádio Educativa, no final do ano passado, os jovens dionísios falavam da surpresa com a viralização desta música e o monte de fãs que já tinham por todo país. Ou seja, o êxito de “Acorda, Pedrinho” não foi bem um acaso, veio sendo planejado.

 

 

Mas antes de falar sobre a popular “Acorda, Pedrinho”, gostaria de contar um pouco sobre a maldição do sucesso que corre entre as bandas de pop rock curitibanas.

Vários grupos estiveram às portas do sucesso a partir dos anos oitenta. A Blindagem foi criada em 1979, após a entrada de dois músicos, elementos da mítica banda A Chave. Em 1981 assinaram contrato com a Gravadora Continental e surgiu o disco “Blindagem”. A música “Marinheiro”, de Ivo Rodrigues, em parceria com Paulo Leminski, foi amplamente tocada em rádios do eixo Rio—São Paulo e a banda se apresentou nos principais programas de televisão em rede nacional. Mesmo assim, as vendagens não foram suficientes para que eles seguissem carreira fora daqui. Lembro de ter participado de uma mesa redonda, anos depois, com a presença de Paulo Juk, baixista da Blindagem, que contou o principal motivo do fim do contrato: “a gravadora nos disse — se vocês não vendem discos em Curitiba, vão vender aonde?”.

Nos anos 90 houve um surto de novas bandas de pop rock por aqui e a cidade chegou a ser batizada de Seattle brasileira pela mídia de São Paulo. Bandas como Beijo AA Força e Relespública chegaram a raspar na trave do sucesso, mas o grupo que foi mais longe chama-se Sr. Banana. Tocavam músicas em ritmo de rock, reggae, dancehall, ska e reggaeton e foram a primeira contratação da lendária gravadora britânica Virgin no Brasil. O seu primeiro disco foi lançado em 1995 e produzido pelo baixista da banda de Peter Tosh, George Fully. Deste primeiro disco, quatro músicas tiveram clipes que fizeram parte do TOP 20 da MTV, “Encontrar”, “Dignidade”, “Ritmo da Chuva” (versão ska de um clássico da jovem guarda composta por Demetrius e também já regravada pela banda Pato Fu) e “Tenho que te ver”. Estas músicas tocaram em rádios nacionais e duas delas fizeram parte da trilha sonora de novelas da Rede Globo, incluindo Malhação. O Sr. Banana foi campeão do Rockgol da MTV em 1995, vencendo a banda Raimundos na final. Em 1996 representou o Brasil no festival Sunfest na Jamaica tocando ao lado de Shaggy e Maxi Priest. No entanto, brigas internas acabaram com o Sr. Banana no auge do seu curto sucesso. Em tempo, hoje eles estão de volta com uma nova formação liderada por Fabiano Neves.

Essas histórias instigaram a lenda de que haveria uma “maldição da Petropen” contra o pop rock curitibano. Petropen é um grande posto de combustíveis localizado na metade da estrada entre Curitiba e São Paulo. A brincadeira é que as bandas fazem sucesso aqui, mas param no meio do caminho para o circuito nacional. Saiba mais no excelente livro Uma Fina Camada de Gelo: O rock Autoral e a Alma Arredia de Curitiba, de autoria de Eduardo Mercer.

Dez anos atrás, ainda houve A Banda Mais Bonita da Cidade, que se tornou um fenômeno das redes sociais com Oração, música que hoje está em 50 milhões de visualizações. Sérgio Martins, jornalista da Veja, escreveu: “Embora tenha ajudado na divulgação do grupo em todo o país, o sucesso prejudicou a relação do conjunto com a cena local — um fenômeno que o showbiz local chama de “autofagia curitibana”. Léo Fressato, autor de Oração, desabafa: “Chegamos a atingir o primeiro lugar no YouTube mundial, mas as pessoas daqui passaram a falar que não éramos uma banda tão boa assim”.

Agora voltemos ao sucesso do momento: “Acorda, Pedrinho”.

 

 

Os rapazes do Jovem Dionísio conheceram Pedrinho no bar Aquarius, hoje rebatizado de Bar do Dionísio. Ele é natural de Carambeí e trabalhou por muitos anos como garçom no Aquarius e no Luzitano, bar ao lado, ambos localizados na avenida João Gualberto, no Juvevê. É um senhor aposentado, que mora numa pensão próxima e passa o dia entre os dois bares, conversando com os antigos clientes e, às vezes, dormindo nas mesas dos botecos. Quando acorda, também gosta de jogar sinuca. O verso “acorda, Pedrinho, que hoje tem campeonato” surgiu como piada interna entre os caras do Jovem Dionísio, ganhou uma base dançante e estourou no Instagram e no TikTok. Todo mundo já postou, inclusive a Anitta. Veja o vídeo aqui.

O processo da composição do mega sucesso foi assim: a banda se internou num sítio em Irati, interior do Paraná, para fazer novas músicas. Todo dia eles acordavam, pegavam uma composição e, no fim do dia, tinham a meta de ter uma música fechada. No quinto dia apareceu ‘Acorda, Pedrinho’. O baterista Gustavo Mendes chegou com o refrão e precisavam da letra. Daí falaram: ‘Cara, vamos cantar sobre o bar’. Por ser uma piada interna, não dava para saber como seria a recepção de fora, mas sentiram que era uma ótima ideia. Antes de passar no teste do público, a música foi apresentada ao próprio Pedrinho e ao pessoal do Bar do Dionísio. Os músicos fizeram uma festa lá para lançar o disco “Acorda, Pedrinho”. O dono e os outros frequentadores se animaram muito, mas Pedrinho ficou mais contido, descreve o vocalista Bernardo Pasquali, numa matéria do site G1.

Com a viralização da faixa, o Jovem Dionísio é o primeiro grupo a liderar a parada do Spotify desde 2018, quando o trio pop Melim chegou ao topo com a balada Meu Amigo. O clipe de “Acorda Pedrinho” já passou a marca de cinco milhões de visualizações no YouTube, alcançando um sucesso sem precedentes para as bandas curitibanas.
Por acaso, sou frequentador ocasional do bar Luzitano, onde já tinha visto Pedrinho tirar suas sonecas. Hoje ele é o principal personagem das conversas, entre amigáveis e invejosas, dos frequentadores. O comentário é que já têm uns dez advogados atrás do Pedrinho, sugerindo processos para tirar uma casquinha do sucesso dos jovens dionísios. Será que Pedrinho resistirá, em sua inocência interiorana, ou se transformará no Fio Maravilha das Araucárias? Será que a “maldição da Petropen” atacará novamente? Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

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