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Justa homenagem de Aroldo Murá a Mônica Rischbieter

25/02/2022

(Do Blog de Aroldo Murá) –

Ela só soube da sua demissão do Teatro Guaíra por um amigo. Mas avisou que o Estado pode ter problemas em função da Lei Aldir Blanc, conforme parecer da Procuradoria do Estado. Tudo no condicional que alguns burocratas teimam em ignorar.

Mônica Rischbieter estava há tempos convidada para ser personagem do meu livro de perfis de notáveis paranaenses, “Vozes do Paraná”. Só agora, em meados de fevereiro, ela concedeu a primeira das entrevistas para o livro. Lamento que tenha ocorrido quando ela foi despedida – simplesmente, sem um aviso, sem uma explicação – da posição que ocupou (e muito bem) na área cultural do Paraná por pelo menos 12 anos. Soube da saída do cargo de superintendente do Teatro Guaíra pelo telefonema de um amigo.

Mônica não saiu batendo. Mas tem posição crítica sobre atos que, mais cedo ou mais tarde, poderão criar problemas a administração do Estado. Um deles, o de o governo gastar –  eventualmente – num festival de bandas e fanfarras, como querem alguns burocratas, recursos da Lei Aldir Blanc em 2022. O que, segundo a Procuradoria do Estado definiu a Mônica, seria ilegal; simplesmente porque a lei “morreu” no último dia de 2021.

EPIFENÔMENO?
Mônica não é nenhum epifenômeno na vida paranaense, tem tradição, currículo e história.  Esteve, em parte com seus pais, Karlos e Fanchette Rischbieter, em momentos históricos do Paraná. Como os de governos de Ney Braga, o modernizador do Estado, e os primeiros dias do homem público Jaime Lerner, de quem, anos depois, seria secretária de Estado da Cultura.

Numa ampla deambulação de memória, o site foi recolhendo algumas rememorações (sempre bem fundamentadas) de Mônica:

– Ney Braga foi uma referência, era amigo dos meus pais e o acompanhei. Depois vem o Jaime Lerner, desde a época da prefeitura, que amava o que fazia. Rafael Dely, Ceneviva, Ficinski, Angel,  o time dele era de gente que fazia. A Lucia Camargo também merece citação, com certeza. A Mara Moron, era diretora artística do teatro. Yara Sarmento também, foi super importante.

O Teatro Paranaense de Comédias foi retomado quando o João Luiz Fiani entrou na secretaria, em 2015 ou 16. Retomamos, com Gabriel Vilela, “Hoje é Dia de Rock”. Montamos quatro espetáculos. “Acho que é importante ressaltar que as pessoas que trabalham no teatro amam o teatro. É talvez uma das maiores diferenças de ter trabalhado no Guaíra com outro lugar do mundo. As pessoas vestem a camisa do teatro, isso que me faz mais falta em ter saído.”

Beija Flor Filmes
“Tive uma empresa chamada WG7PR, que hoje se tornou a Beija Flor Filmes, do Gilberto Barone Filho. Ele foi meu sócio, depois fez o “Alice Junior”, que ganhou prêmios e teve ótima repercussão, está disponível na Netflix. Fizemos “Casos e Causos”, da RPC. Fizemos documentário sobre as cantoras do rádio, o longa “Mistérios”, sobre Valêncio Xavier. Foi o último trabalho da Lala Schneider, foi minha amiga“. “E um documentário sobre a fé, na Bahia, em que entrevistamos gente muito pobre e velha. Se chama Brasil Santo. Passou no Canal Brasil, não fez sucesso, mas gosto muito de ter feito. A última entrevista foi em Aparecida do Norte (SP), entrei na primeira loja de santinhos que vi. Ele dizia que rico não ia lá, a não ser em casos de doença muito séria, câncer, etc. E o pobre não, vem para tudo. A fé do pobre é genuína. Mas parei de fazer cinema porque a gente gasta demais e ganha muito pouco, infelizmente” conta.

Avó e mestra
“Aprendi francês em casa com minha avó, Helene, francesa, mulher que teve capital importância na formação de grandes paranaenses que ela ajudou a que fossem especializar-se em França. Gente como Maurício Schulman, Belmiro Castor, Jaime Lerner, Rafael Dely.

– Estudei no Sion, mas não gostei muito. Era o método Montessori, com nove fichas por semana. Eu não dava conta, acabava devendo para a semana seguinte. Depois fui para o Anjo da Guarda, fui aluna da Vera Miraglia, ela resolveu abrir uma turma de 2º ano. Fui da primeira turma, com o Luca, a Veroca, uma turma de 10 alunos. Tinha aula com ela e a Laura, irmã da Vera.

“Depois morei um ano em Brasília, em 1975, quando meu pai estava no ministério. A gente não podia usar o nome Rischbieter para não ter regalias, pois meu pai era ministro. Usávamos Garfunkel. A única vez que eu usei meu nome foi quando quis entrar em um baile em Cabeçudas. E já tinham entrado umas “dez filhas” do Rischbieter naquele baile”, diverte-se.

“Fiz o segundo ano do ensino médio. Depois voltei e fiz cursinho no Dom Bosco. Passei em Psicologia, fiz dois anos, mas não consegui fazer anatomia e desisti. Depois me formei em Pedagogia na Tuiuti e fiz especialização em Educação Especial na PUCPR. E ainda, antes de me formar, dei aulas por quatro anos no Anjo da Guarda.”

PEDAGOGIA
“Aprendi uma lição muito importante sobre Pedagogia: se uma criança acha que é burra, ela não aprende. Ela precisa acreditar que é inteligente. Mas não gosto do modelo de escolas, no século 21 não dá mais para pensarmos em reunir 30 crianças e exigir que todas aprendam da mesma forma todas as disciplinas, é um modelo de formação de soldados russos.”

“Acho que escolas, no modelo tradicional, podem ser perigosíssimas. Uma criança que começa cedo e vai mal na escola, fica marcada para o resto da vida. As escolas têm que ter um tamanho e uma estrutura de professores que olhem para cada indivíduo, de forma particular. É inconcebível que em 2022 ainda tenhamos média 70 para todas as pessoas, em todas as disciplinas. Já se chegou num consenso que o indivíduo é único e diferenciado.”

“Acho que meu interesse pelas escolas veio por eu ter sofrido no Sion e ter sido salva pelo Anjo da Guarda, isso me fez refletir muito sobre pedagogia. Minha memória não é boa. O Anjo da Guarda e o Google salvaram minha vida”, sentencia.

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