O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu, na entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta-feira (25), que houve corrupção na Petrobras mas, bem ao seu estilo, transferiu a culpa ao Ministério Público e o acusou de “oficializar o roubo” com delações premiadas. “Não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram. O que é mais grave é que as pessoas confessaram e, por conta das pessoas confessarem, ficaram ricas. Você não só ganhava liberdade por falar o que queria o Ministério Público, como você ganhava metade do que roubou. O roubo foi oficializado pelo Ministério Público, o que eu acho uma insanidade e uma aberração para esse País. A Lava Jato quase joga nome do MP na lama. MP é instituição séria que eu sempre valorizei, da mesma forma a PF”.
A entrevista com o candidato do PT à presidência foi bem mais amena que o encontro entre os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos com o presidente Jair Bolsonaro. A dupla global permitiu que Lula falasse o que quisesse quase sem interrupções. Bonner deixou de lado as caras e bocas, os risinhos irônicos e a soberba com que tratou Bolsonaro. Ao contrário, foi gentil e, por duas vezes, quase se traiu chamando Lula de presidente, ao invés de candidato. Sua companheira de bancada, Renata Vasconcellos, também deixou o estilo raivoso em casa. Não apresentou a fisionomia assustadora e não foi indelicada com Lula como foi com Bolsonaro. A entrevista foi ao estilo paz e amor.
Livre para falar o que quisesse, o candidato do PT prometeu a investigação de “qualquer crime” de corrupção na máquina pública brasileira caso seja eleito para um novo mandato. “Qualquer hipótese de alguém cometer qualquer crime, por menor ou maior que seja, essa pessoa será investigada, será julgada e punida ou absolvida. Assim que você combate a corrupção no País. Corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada”, disse.
Indagado pelos apresentadores, sem qualquer agressividade ou ironia, sobre escândalos de desvio de dinheiro público nas gestões petistas, Lula defendeu ter criado e fortalecido o aparato de combate à corrupção nos seus governos. “Foi no meu governo que a gente criou o portal da transparência, a CGU, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, Lei contra Lavagem de Dinheiro, criamos o Coaf e colocamos o Cade para combater os cartéis. O Ministério Público era independente e a Polícia Federal recebeu mais independência que em toda história”, descreveu.
Lula voltou a criticar a Lava Jato e disse que a operação errou ao “enveredar por um caminho político delicado”. O petista também afirmou que o objetivo da força-tarefa foi condená-lo. “Durante cinco anos, eu fui massacrado e tenho hoje a primeira oportunidade de falar sobre isso abertamente ao vivo. O que foi o equívoco da Lava Jato? Ela enveredou por um caminho político delicado, ultrapassou o limite da investigação e foi para um caminho político. Aconteceu exatamente o que eu previa. O objetivo da Lava Jato foi o Lula, condenar o Lula”, criticou.
Foi na defesa de sua aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que Lula disse as maiores sandices da entrevista. “Estou até com ciúmes do Alckmin, que sujeito esperto e habilidoso. Ele fez um discurso no dia 7 de maio, quando foi apresentado oficialmente ao PT, que eu fiquei com inveja. Ele foi aplaudido de pé”, afirmou.
Sobre a recepção da base petista em relação à formação de campanha com 10 partidos, o ex-presidente defendeu a união com o seu adversário nas eleições presidenciais de 2006. “Alckmin já foi aceito pelo PT de corpo e alma. Alckmin é uma pessoa que vai me ajudar, tenho confiança que a experiência como governador de São Paulo vai me ajudar a consertar esse País”, disse.
Outra asneira dita por Lula foi quando, questionado se o PT não foi um dos responsáveis pelo atual cenário de polarização na política, afirmou que polarização é diferente de estímulo ao ódio e que o Brasil era “feliz” quando a disputa política era entre PT e PSDB. “Feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização deste país era entre PT e PSDB. A gente era adversário política, trocava farpas. Quando a gente se encontrava em um restaurante, eu não tinha problema em tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra ou com o Alckmin. A gente não se tratava como inimigo. A militância é como torcida organizada. Política é assim. Você tem divergência, você briga, mas você não é inimigo”, afirmou.
Nesse ponto, Bonner finalmente deu uma dentro e citou o fato de Lula ter usado a narrativa do “nós contra eles” durante o seu governo e questionou se isso não estimula a polarização. Recebeu mais uma visão distorcida do petista: “polarização é saudável no mundo inteiro. Tem nos EUA, na Alemanha, na França, na Noruega, na Finlândia… Não tem polarização no Partido Comunista Chinês, no Partido Comunista Cubano. Quando se tem democracia, a polarização é saudável. É estimulante. Não podemos confundir polarização com o estímulo ao ódio”, disse.