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HojePR

Movimento Sala 17

07/04/2022

Conforme prometido no artigo anterior, hoje começamos uma viagem pela história do movimento que batizei como FRENTE FRIA.

 

A primeira manifestação cultural digna de registro da Frente Fria aconteceu no fim da década de setenta. Fiquei sabendo pelo relato dos principais participantes, uma vez que eu ainda morava em Brasília. Só voltaria pra Curitiba em 1979.

 

Tudo começou em abril de 1978, no auge da Ditadura Militar, quando o agitador cultural Antonio Thadeu Wojciechowski organizou um recital de poesia na sua sala da universidade (Sala 17 da PUC), durante as aulas de Literatura do Professor Leopoldo Scherner, com a participação de vários poetas. Foi um sucesso estrondoso. A sala e o corredor foram invadidos por cerca de 180 alunos que foram impactados pelas declamações.

 

Scherner e Thadeu deram, então, o pontapé inicial para a criação do Movimento Sala 17, que culminaria na publicação de três antologias: Sala 17, Reis magros e Sangra: cio. Além de Thadeu e de Scherner, Marcos Prado, Roberto Prado, Tatara, Roberto Bittencourt, Hamilton Faria, Paulo Leminski, Paulo Venturelli, Solda, Rettamozo, entre outros, como o juiz Edson Fachin, assinavam a autoria.

 

Para viabilizar a festa e o livro, cada autor, auxiliado com entusiasmo pelos amigos, vendeu rifas de um televisor colorido, que era a novidade da época. Ao fim da promoção acabaram entregando uma TV em Preto e Branco, pois o político que havia prometido doar a TV não cumpriu totalmente com o prometido. Políticos!

 

A propaganda boca a boca e a giz nos muros de Curitiba

Uma intensa movimentação nas universidades e colégios de Curitiba marca a trajetória e determina o sucesso do Sala 17. O pessoal da escolinha de arte, somados a outras centenas de alunos do Colégio Estadual, armados de giz e bom humor, picharam Curitiba inteira. A Universidade Católica também teve sua contribuição, com equipes indo de sala em sala convidando para o lançamento, que seria em 17 de outubro de 1978, na Casa Romário Martins, dirigida pelo Key Imaguire Jr. Colégios particulares, faculdades, Universidade Federal, colégios estaduais, de manhã, à tarde e à noite eram invadidos por 2 ou 3 poetas entregando de sala em sala os folhetos que anunciavam o evento e convidavam para o coquetel de lançamento. Poesia pop, de massa, que contou, inclusive, com vários eventos de distribuição de impressos e happenings em plena Rua XV, culminando com chuva de milhares de panfletos lançados simultaneamente de diversos prédios do Centro. Até Dalton Trevisan foi abordado na Rua das Flores e achou aquilo tudo muito engraçado.

 

Milhares de pessoas tomaram o Largo da Ordem em outubro de 1978 para o mais espetacular lançamento de livro da História de Curitiba

O lançamento da antologia Sala 17 foi colossal, épico, nada semelhante tinha acontecido na vida cultural da pacata Curitiba. Com 20 páginas para cada um dos 17 poetas escolhidos, o livro de 374 páginas foi disputado, roubado, rasgado, comprado, levado e, no final da festa, sobraram apenas duas caixas quase vazias dos 1.500 exemplares. Muita gente saiu sem poder comprar o seu. A gráfica entregou apenas 50% dos 3 mil livros naquele dia. E a equipe de vendas montada não aguentou o tranco. Ao final da festa ninguém conseguia acreditar no que havia acontecido. Às 5 horas da manhã, estavam Thadeu, Marcos Prado, Roberto Prado, Edilson Del Grossi e Roberto Bittencourt sentados na calçada tomando chopp, cercados por milhares e milhares de copos de plástico

* Este artigo contou com a colaboração luxuosa de dois pilares do Sala 17: Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado. Saiba um pouco da história de outro fundador do movimento, Leopoldo Scherner (clique aqui).

largados por todo o Largo da Ordem, pois, devido ao sucesso além do imaginado, faltou estrutura para receber tanta gente. Curitiba passou por lá. Até o Leminski trouxe livros e montou uma mesa para divulgar seus trabalhos.

 

A Sala 17 foi o elo para a vinda de dezenas de artistas para o centro deste Movimento, que seria a origem da Frente Fria. Músicos da grandeza de um Cabelo, falecido recentemente, Walmor Goes, o Frank, Rodrigo Barros Homem Del Rei, Luiz Antonio Ferreira, Beto Trindade, Adriano Sátiro, foram trazendo novas possibilidades para a arte feita pelos poetas. Centenas de canções nasceram à luz da bazófia, do chiste e da pilhéria, assim como do lirismo e da emoção. Eu, Sérgio Viralobos, aderi a esta turma por volta de 1980, junto com o músico Renato Quege, ajudando assim a radicalizar na desconstrução do discurso vigente e na criação de uma poesia em que a musicalidade ganhou contornos genuinamente curitibanos.

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