HojePR

O compadre Olegário e a visita a Palmeira

16/05/2022

Uma das fases mais felizes da minha vida foi o período em que administrei a propriedade da família Guelmann perto da Estação Ferroviária de Desvio Ribas, no Município de Ponta Grossa.

 

O nome original da área adquirida por meu avô Salomão era “Fazenda Guavirova” e entre o final de 1967 e 1972 executei lá um projeto de florestamento de um milhão e seiscentas mil árvores, considerado modelo pelo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.

 

Foi, como disse, uma época extremamente feliz e uma fonte de experiências enriquecedoras para um jovem recém-entrado nos 20 anos. A convivência semanal com os Colaboradores responsáveis pelo trabalho me deu uma visão extraordinária acerca de como a relação patrão & empregado, mais que respeitosa, pode ser extremamente prazerosa e baseada em sentimentos de fraternidade e amizade.

 

Guardo daquele período histórias deliciosas e quero aqui compartilhar uma delas.

 

A propriedade era cortada por duas estradas de ferro. Quando o vovô a comprou, já existia a Curitiba-Ponta Grossa, jeito mais fácil de se chegar lá: o trem parava em Desvio Ribas e da Estação até a sede da fazenda o transporte era de charrete. Não peguei esta época. Bem mais tarde o Governo construiu a Ferrovia Central do Paraná e a antiga linha deixou de operar.

 

No trecho já sem uso da antiga Rede de Viação Paraná-Santa Catarina moravam o “Compadre Olegário” e a “Comadre Rita”. Olegário era funcionário aposentado da Rede e fazia parte da turma encarregada da manutenção da linha na época em que os trens transitavam. Não se sabe se por generosidade ou descuido da empresa os velhos continuaram morando na mesma casa onde criaram os filhos, que a essa altura já tinham ido embora.

 

Abro um parêntese para dizer que a Comadre Rita era extremamente ciumenta; o casal já era bem idoso mas ela mantinha o marido sob marcação cerrada, mesmo morando em lugar praticamente isolado.

 

Certa vez, Olegário foi intimado por amigos, todos aposentados da RVPSC, a acompanhá-los numa ida a Palmeira. A cidade era acessível a pé pelo leito da ferrovia que atravessava a ponte sobre o rio Tibagi, na divisa do município com Ponta Grossa.

 

Ressabiado, talvez pressentindo problemas com a mulher, Olegário tentou recusar o convite mas a pressão dos companheiros fez com que se juntasse a eles.

 

Chegando em Palmeira, e a pretexto de tomar uma cerveja, o líder da turma sugeriu que fossem à “zona”. É fácil imaginar a cena: um grupo de 3 ou 4 “rapazes”, o mais novo com seus 70 e muitos anos, numa tarde de folguedos!

 

Chegando no “estabelecimento”, beberam umas poucas cervejas e dançaram – apenas dançaram – com as moças.

 

Resumindo: na volta para casa, antes mesmo de os amigos cruzarem a ponte do Tibagi, a comadre Rita já estava inteirada de tudo. E ao entrar em casa, Olegário foi submetido ao interrogatório:

 

– “Olegário, é verdade que você esteve na Palmeira”?

 

Percebendo que seria inútil negar, Olegário assentiu e a mulher não perdoou:

 

– “Olegário, é verdade que você esteve na zona?”

 

Ciente de que havia caído numa arapuca, Olegário meneou a cabeça afirmativamente, enquanto Rita emendava:

 

– “Olegário, é verdade que você tomou cerveja?”

 

Um resmungo afirmativo, e o golpe fatal:

 

– “Olegário, é verdade que você dançou com uma puta?”.

 

Sentindo trilhos, dormentes e pontes ruírem sob seus pés, Olegário tentou a explicação que lhe pareceu a mais aceitável:

 

– “Dancei, Rita. Mas era uma puta séria”.


Foto: Estação Ferroviária de Palmeira/PR, em 1937. (Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná)

2 Comentários

  • Parabens Amigo Guelman , espetacular teus Causos !

  • Hahaha, baita contador de causos, você!

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *