O dono da indignação
Osiris de Brito foi uma das pessoas mais marcantes a passar por este pedaço do universo. Procurador da Assembleia Legislativa, a partir do anoitecer a vida lhe sorria. Boêmio, sua vasta cultura não permitia opiniões de ignorantes. Era indignado em tempo integral.
Mas também sabia se entusiasmar – e não só nas vitórias do Atlético. Quando Jaguar publicou meu primeiro texto em O Pasquim, Carta a Osíris de Brito, ele comprou o estoque à venda na banca da Boca Maldita e saiu distribuindo a quem encontrasse.
É o protagonista da linda declaração indireta de amor, feita por uma bailarina gringa com quem teve um caso ardente. A moça, depois de encerrado o affair, encontrou um namorado novo, a quem fez a seguinte confissão:
– Querido, me permite que en la hora suprema yo te llame de Osiris?
Fez parte da equipe que assessorou Amauri Silva no Ministério do Trabalho durante o governo João Goulart, ao lado de outros personagens antológicos da vida curitibana. Dizem que deixou saudades também na vida noturna carioca.
Morreu pouco antes de completar 60 anos. Em sua memória, Sérgio Mercer criou a Fundação Osiris de Brito, entidade que só existia quando os parceiros remanescentes se sentavam para saudar a vida e os feitos do amigo que havia partido.
Colecionava casos impagáveis. Em uma daquelas noites animadas, em que todos falavam de todos os assuntos, alguém afirmou que as pinturas de Goya eram as suas preferidas, como as duas Majas, a desnuda e a vestida.
Osíris manteve-se quieto, até não suportar mais aquela conversa disparatada para uma mesa de bar. Já vermelho de indignação, virou-se para o amante da pintura e proclamou:
– Eu comeria a Maja Desnuda.
E ante a incredulidade geral, completou:
– E comeria a Maja Vestida também.