A Justiça Eleitoral do Paraná impugnou a divulgação da pesquisa produzida pela AtlasIntel sobre a corrida pela Prefeitura de Curitiba. A decisão da juíza Cristine Lopes saiu no final da tarde desta quinta-feira (25) e obrigou alguns veículos de comunicação a retirar dos seus sites as matérias produzidas. Em decisão editorial, o HojePR não publicou os resultados do levantamento.
Apesar do motivo da impugnação ter sido a reclamação do Partido da Mobilização Nacional (PMN) em não ter sido incluído na pesquisa o nome do pré-candidato do partido Roberto Requião, o HojePR entendeu que a enorme discrepância dos resultados apresentados pela AtlasIntel, em parceria com a CNN Brasil, em relação às avaliações de outros institutos merecia cautela.
Pesquisa de opinião pública é coisa séria. Em período eleitoral ela tem obrigação de medir o humor do eleitorado e demonstrar com eficácia a sua intenção de voto, apesar da famosa margem de erro.
A pesquisa eleitoral atende, também, as estruturas dos candidatos, norteando a estratégia e ditando o planejamento da campanha de acordo com os resultados levantados junto ao eleitorado.
Ao longo dos anos, grandes institutos aprimoraram a maneira de aferir essa intenção, adotando critérios científicos cada vez mais precisos para revelar a vontade da população em um determinado momento da corrida eleitoral.
Diante disso, causou estranheza a pesquisa da AtlasIntel. Os números obtidos pela empresa paulista surpreenderam pela extravagância de não apenas contrariar os resultados de outros institutos, mas de inverter as posições dos candidatos por meio de um critério esdrúxulo de aferição.
Segundo registro da pesquisa na Justiça Eleitoral, a AtlasIntel realizou a sondagem por meio de um critério chamado Recrutamento Digital Aleatório (Atlas RDR). Nesse modelo, diz a empresa, os entrevistados são identificados durante navegação de rotina na internet, a partir de qualquer dispositivo: smartphones, tablets, laptops ou PCs. Trocando em miúdos, uma pesquisa elaborada por whatsapp.
Segundo a AtlasIntel, esse novo modelo evita um eventual impacto psicológico no entrevistado que, sem a figura do entrevistador lhe apresentando as opções de candidatos, ficaria mais à vontade para escolher um nome que realmente lhe agradasse.
Segundo uma fonte consultada pelo HojePR, especialista em pesquisas eleitorais, tais critérios não inspiram confiança à medida que excluem da avaliação, por exemplo, eleitores menos favorecidos e com dificuldade de acesso à internet.
Outro ponto que essa fonte ressalta é o fato de que, entrevistando eleitores acostumados a transitar nas redes sociais, a AtlasIntel acabaria por criar uma vantagem àqueles candidatos que trabalham bem nessa área. Isso explicaria o deputado cassado Deltan Dallagnol ter aparecido em primeiro, enquanto em outras pesquisas ele sempre foi o quinto mais lembrado.
Dallagnol tem, só no Instagram, mais de 1,5 milhão de seguidores. O ex-deputado Paulo Martins, que também aparecia bem colocado na pesquisa impugnada, tem 339 mil seguidores, assim como a jornalista Cristina Graeml, com 569 mil seguidores.
Esse novo e estranho critério, que escolhe entrevistados de acordo com sua movimentação na internet, estabelece uma avaliação desigual, e irreal, entre os candidatos e acaba por explicar porque os mais citados em todas as outras pesquisas apareceram mal colocados no levantamento da AtlasIntel.
Basta comparar: o deputado Luciano Ducci tem 12 mil seguidores no Instagram. O vice-prefeito Eduardo Pimentel tem pouco mais de 50 mil. O ex-governador Beto Richa não chega a 30 mil seguidores e o deputado Ney Leprevost tem 41 mil.
Diante desses números parece óbvio que produzir uma pesquisa por meio de entrevistas com eleitores escolhidos na internet e, provavelmente, com elevado uso das redes sociais, daria vantagem a candidatos com maior penetração virtual.
Esses critérios já deveriam ter sido suficientes para que a Justiça Eleitoral sequer tivesse permitido que essa pesquisa fosse realizada. Em outros tempos, o rigor da Justiça determinou que muitas pesquisas, muito mais confiáveis que essa, não vissem a luz do sol.
Vale citar que o HojePR não pretende estabelecer juízo de valor acerca do instituto AtlasIntel, nem tampouco desqualificar qualquer candidatura colocada na disputa eleitoral deste ano. No entanto, é extremamente cara ao HojePR a responsabilidade com os seus leitores. E é nossa missão publicar somente informações confiáveis e exaustivamente checadas.