Não sei se o idiota é o dono de uma Saveiro, mas como uma extensa maioria de idiotas possuem esse tipo de camionete, com lona cobrindo o potente equipamento de som na carroceria, suponho que seja.
Todos os dias, sábados incluídos, por volta das 6h50 da manhã, ele passa pela avenida ao lado do prédio em que moro com o tum-tum na mais alta intensidade, fazendo tremer as redondezas.
Ainda não consegui identificar o idiota, posto que quando chego à janela o sinal já abriu e ele seguiu seu caminho, a deixar o abominável rastro ensurdecedor.
Temos algumas hipóteses sobre o sujeito. A Tânia acha que ele dá expediente noturno. É segurança de alguma balada, chapeiro em lanchonete, garçom, porteiro de edifício ou vigia. Pode ser. De minha parte, imagino que talvez trabalhe em alguma empresa da CIC, começando cedo o expediente todas as manhãs.
O hábito de se identificar por meios de signos em seus automóveis é antigo. Os preceitos religiosos são a maioria absoluta, liderados por “Deus é meu pastor”, dos evangélicos. Já os católicos mostram terços, de preferência. Os maçons exibem seus compassos e o GADU em destaque, os gaúchos levam a bandeira do Rio Grande e assim caminha a humanidade, como diria o falecido escritor Fábio Campana.
Em tempos de campanha política, abundam os chamados “perfurados” – ou “perfurated” para os mais sofisticados – ocupando todo o vidro traseiro.
Já os escudos de times de futebol caíram em desuso. Com o risco iminente de algum torcedor adversário riscar a pintura do carro, as preferências clubísticas ficam restritas a algum badulaque sobre o painel dianteiro.
Mas os exibicionistas do som são os mais descarados. Não respeitam a lei, muito menos horários, assim como não se interessam em saber se os circunstantes têm algum interesse na porcaria do seu som tecno-primário.
E por alguma razão desconhecida, grande parte deles demonstra sua imbecilidade ao volante de um veículo qualquer equipada com a última palavra em equipamentos saídos diretamente da era mesozoica.
Todas as manhãs, tenho saudade dos sinais de fumaça dos índios norte-americanos, do civilizado batucar do antigo telégrafo, das formas tradicionais de anunciar a chegada ou a mera passagem de alguma novidade sem enlouquecer ninguém.
Existem diversas formas de manifestar idiotice, nenhuma que se equipare a essa praga que é disseminar seus ruídos em público. Imagino que o infeliz responsável por isso também faça o mesmo no ambiente familiar e social – e nem quero pensar no odor que exala.