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O Paraná tem o ferry boat que merece?

25/02/2022

Os paranaenses que pretendem aproveitar o Carnaval para viajar para as praias do nosso Litoral – em especial Guaratuba – devem colocar na bagagem uma boa dose de paciência pois vão se deparar com um velho e crônico problema: filas e demora na travessia do ferry boat.

Essa é a expectativa causada por uma notícia divulgada no início da noite desta quarta-feira (23) pelo governo do Estado. Com o título “DER-PR determina restrição de veículos pesados no ferry boat durante o Carnaval”, o governo alerta que “a medida se mostra necessária diante da situação emergencial pela qual vem passando o serviço nos últimos meses”.

A restrição imposta pelo governo do Estado causa estranheza. No dia 9 de fevereiro, depois de meses de inoperância e de uma temporada inteira sem tomar nenhuma atitude para resolver os problemas do ferry boat, tais como longas filas, tempo de espera acima do limite e o vexame de um atracadouro afundado, o mesmo DER comemorava a contratação de uma nova empresa para a operação do ferry boat de Guaratuba.

Apesar do caráter emergencial da contratação, o diretor-geral do DER, Fernando Furiatti, mostrou-se satisfeito e empolgado com a “importação” da Internacional Marítima, empresa baiana que faz a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica. Para ele, os mais de 30 anos de mercado seriam, como num passe de mágica, suficientes para resolver os problemas. “Buscamos o histórico da empresa e ela tem, sim, capacidade de fazer a travessia”, disse Furiatti.

Ainda segundo ele, a empresa, contratada de maneira emergencial, logo, sem licitação, faria os investimentos necessários para normalizar a travessia e já chegava no Paraná com uma balsa extra, que entraria em operação junto com os três ferry boats do Estado. De acordo com Furiatti, a Internacional Marítima iria “atrás de empresas que têm balsas e rebocadores na região para que cumpra o compromisso de fazer uma travessia segura para todos que vão para a região”.

A empolgação do diretor levava a crer que, finalmente, teríamos uma administração competente no combalido ferry boat paranaense. Ledo engano. Os dias seguintes mostraram uma realidade bem diferente.

O que se percebe é que nada mudou no ferry boat paranaense. Ao contrário, na pressa de se instalar no Paraná, a empresa baiana sequer tomou o cuidado de pensar nos usuários do serviço, chegando ao cúmulo, por exemplo, de exigir que as tarifas fossem pagas apenas em dinheiro ou pix, criando transtornos para motoristas que normalmente pagavam em cartão de débito. A empresa sequer tomou o cuidado de instalar uma placa ou emitir algum aviso para deixar clara essa mudança.

Usuários do sistema reclamaram que o tempo de espera para a travessia Caiobá-Guaratuba foi superior a 1h30 nesta quarta-feira (23). Observaram, também, que nenhuma obra nos atracadouros foi iniciada. Ora, como o próprio caráter do contrato assinado pelo DER já diz, as obras deveriam ser emergenciais, ou seja, ter início imediato. Não há razão plausível para que os dias passem e nada seja feito. Já se passaram 15 dias da contratação da nova empresa e a única mudança foi o famigerado cancelamento de pagamento da tarifa por cartão. Nada mais.

É bom lembrar que, em setembro de 2021, o DER contratou uma empresa para ajudar na fiscalização e no gerenciamento do ferry boat. Ao custo de pouco mais de R$ 1 milhão, o Consórcio DSZ-Ferry deveria garantir a prestação de um serviço adequado e a execução de obras necessárias para uma travessia segura. Cabe perguntar se, com a troca de operador, esse consórcio teria sido mantido. É de se supor que sim, já que o prazo do contrato seria de 15 meses. Dessa forma, cobrar o início das obras necessárias não é função dessa empresa? Parece ser uma providência básica para quem está recebendo um valor tão alto por um serviço que, aparentemente, não está sendo feito.

Enquanto isso, a Agência Reguladora do Paraná (Agepar) permanece inerte. Ao que parece, sequer foi consultada pelo DER. Tanto que, nas matérias distribuídas pelo governo do Estado que trataram da dispensa da empresa anterior e da contratação da atual, o órgão responsável por regular as travessias marítimas sequer foi citado.

Diante dos problemas que continuam sem solução, perguntas ficam no ar. Os responsáveis pela contratação da empresa anterior, cujo contrato foi rescindido, serão responsabilizados por elaborar um edital que não primou pelas exigências básicas de melhor qualificação do operador? Serão responsabilizados por contratar uma empresa sem a preocupação de verificar a capacidade financeira dela e sem condições de disponibilizar equipamentos novos para a melhoria dos serviços?

A falta de rigor com a coisa pública está se repetindo com a contratação da empresa baiana. O novo operador está fazendo mais do mesmo: nenhuma nova embarcação,  os marinheiros são os mesmos e os atracadouros que afundaram não foram reparados. Esse desleixo é inaceitável.

Fica a sugestão do HojePR: enquanto a situação não estiver totalmente regularizada e os paranaenses não receberem um serviço decente, o caminho mais seguro é viajar para Guaratuba pela estrada de Garuva.

E para as autoridades responsáveis pela travessia da Baía de Guaratuba, fica mais uma pergunta: é esse o ferry boat que os paranaenses merecem? Seguramente não. Com a palavra o DER e a Agepar.

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