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O que acontece no cérebro do indivíduo deprimido?

09/05/2022

A depressão é a doença psiquiátrica mais frequente na atualidade, sendo considerada por muitas autoridades em saúde como o “mal do milênio”. Dados de uma pesquisa realizada nos EUA apontam que uma em cada seis pessoas pode desenvolver depressão ao longo da vida.

 

Os principais sintomas dessa doença são humor deprimido, anedonia (habilidade de sentir prazer reduzida), irritabilidade, dificuldades de concentração e alterações no apetite e sono.

 

Apesar de tão frequente, são poucas as informações sobre a fisiopatologia da depressão. Em parte, essa carência de informações se deve à dificuldade da obtenção de informações sobre a patogênese de doenças no sistema nervoso central, devido à invasividade de técnicas diagnósticas.

 

Algumas técnicas disponíveis para documentar alterações cerebrais dependem de estudos post-mortem, com inúmeras limitações; já os exames de imagem dependem de marcadores de atividade neuronal para a detecção, o que encarece e muitas vezes, inviabiliza a técnica.

 

Pesquisadores renomados da área de neurociências afirmam que a depressão deve ser encarada como uma condição heterogênea, em que há o envolvimento de diversos sistemas neuronais e outras comorbidades.

 

Estudos epidemiológicos sugerem que entre 40 e 50% dos casos de depressão envolvem um componente genético, caracterizando a depressão como uma doença hereditária. No entanto, até hoje, não foram identificados os genes envolvidos na fisiopatologia da depressão.

 

A herança genética é só um dos inúmeros fatores envolvidos na patogênese da depressão. Os fatores não-genéticos, como estresse, trauma emocional, infecção viral (ex.: Borna vírus), estilo de vida, dieta, experiências de vida prévia, inclusive na fase intrauterina durante o desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC), podem estar envolvidos na etiologia da doença.

 

O estresse é um dos principais fatores de risco

Estudos sugerem que boa parte dos casos iniciam-se após um episódio de estresse intenso. Hoje em dia, muitos pesquisadores focam seus estudos nas alterações epigenéticas relacionadas à depressão, que podem ser transmitidas de mãe para filho, e são provocadas pela influência que o ambiente exerce sobre nossas experiências de vida e organismo.

 

O diagnóstico da depressão é essencialmente clínico. O médico avalia a presença de sintomas depressivos no paciente por pelo menos 2 semanas, e quando esses sintomas prejudicam a vida social e profissional do paciente.

 

Existem diversas classes de medicamentos disponíveis para o tratamento da depressão, e eles começaram a revolucionar a terapêutica dos quadros depressivos a partir da década de 1950.

 

As primeiras classes utilizadas foram as dos antidepressivos tricíclicos (ex.: imipramina) e dos inibidores da MAO (ex.: iproniazida). O uso desses fármacos no tratamento da depressão trouxe as primeiras luzes para o entendimento da neurobiologia da depressão.

 

O mecanismo de ação agudo desses fármacos, bem como dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ex.: fluoxetina), dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (ex.: duloxetina), baseia-se no aumento dos níveis desses neurotransmissores na fenda sináptica.

 

No entanto esse não é o único mecanismo desses fármacos. O efeito terapêutico dos antidepressivos só é observado após três ou quatro semanas de tratamento, devido à necessidade do remodelamento sináptico.

 

Estudos demonstraram que o uso crônico de antidepressivos pode contribuir para a neuroplasticidade (capacidade dos neurônios se adaptarem a diferentes situações/estímulos), devido ao aumento da concentração de neurotrofinas (fatores que estimulam o crescimento neuronal) no SNC.

 

Por isso, existem duas teorias que podem explicar a neurobiologia da depressão: a teoria monoaminérgica e a teoria neurotrófica. A teoria monoaminérgica refere-se à redução do conteúdo de neurotransmissores monoaminérgicos (noradrenalina, serotonina, dopamina) em regiões cerebrais responsáveis pelo controle das emoções e humor.

 

Já a teoria neurotrófica, reflete que, com o uso crônico dos antidepressivos, os níveis de neurotrofinas, como o BDNF, aumentam. Esses níveis aumentados contribuem para a plasticidade sináptica e arborização dendrítica nessas mesmas regiões do cérebro.

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