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O que se sabe até o momento sobre as explosões no STF? Entenda os detalhes

14/11/2024

estadão

A Praça dos Três Poderes permaneceu isolada até a manhã desta quinta-feira (14), após um incidente com duas explosões na noite de quarta-feira (13). O incidente é investigado pela Polícia Federal (PF) nas vertentes de terrorismo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Um carro com explosivos foi encontrado no estacionamento da Câmara dos Deputados, nas imediações de um dos prédios anexos da Casa. O proprietário do veículo é Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, encontrado morto próximo à sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Veja o que se sabe até agora sobre o incidente com explosões na Praça dos Três Poderes.

Horas antes de morrer, Francisco Luiz, conhecido como “Tiü França”, fez publicações nas redes sociais que indicavam pretensões terroristas, além de criticar os líderes dos Três Poderes. Em 2020, Francisco Luiz foi candidato pelo PL a vereador de Rio do Sul, cidade no oeste catarinense. Recebeu 98 votos e não foi eleito. O PL, na ocasião, ainda não abrigava o ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou à sigla somente no ano seguinte.

Explosão na busca e apreensão

A PF e governo do Distrito Federal (GDF), por meio das polícias civil e militar, seguem apurando as circunstâncias da explosão. O inquérito da polícia distrital identificou que Francisco Luiz alugou uma casa na região da Ceilândia, em Brasília. Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que estima que houve planejamento “de médio a longo prazo” para a ação de Francisco Luiz.

Um exemplo da complexidade desse planejamento, segundo o diretor-geral, ocorreu na operação de busca e apreensão na casa alugada por Francisco Luiz. A entrada no local foi feita por um robô. Ao abrir uma das gavetas, houve uma explosão descrita por Rodrigues como “gravíssima”. “O uso do robô salvou a vida de alguns policiais. Se tivessem ingressado na residência, certamente não sobreviveriam à intensidade da explosão”, afirmou o diretor-geral da PF.

Trailer alugado

Durante as operações da PF, um trailer alugado por Francisco Luiz foi identificado em um estacionamento próximo à Câmara. O veículo foi alugado “há alguns meses”, segundo Andrei Rodrigues.

No interior do trailer, foram localizados “bombas tubo”, que consistem em tubos de PVC recheados com pólvora. O material seria utilizados para maximizar o potencial de explosões. Dentro do carro, também foram localizados documentos e um celular.

Onde foi o atentado?

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, as duas explosões na Praça dos Três Poderes ocorreram por volta das 19h30. A primeira explosão envolve um carro estacionado na Câmara dos Deputados. A segunda explosão ocorreu em frente ao prédio do STF.

O sargento Santos, da PM do Distrito Federal, informou ao Estadão que o veículo com explosivos no estacionamento da Câmara foi parcialmente destruído por um incêndio, contido por seguranças próximos ao local. Segundo o relato do sargento, os policiais avistaram um homem saindo correndo do carro, mas presumiram que ele estava fugindo do fogo. Na verdade, tratava-se de Francisco Luiz, proprietário do carro e detonador da bomba.

Confronto com seguranças do STF e explosão fatal

Minutos antes dessa explosão, Francisco Luiz acessou o Anexo IV da Câmara para usar o banheiro. A movimentação avistada pelos policiais e relatada pelo sargento Santos se refere ao trajeto de Francisco Santos até o STF. Ele tentou entrar na sede da Corte, mas foi impedido por seguranças.

As circunstâncias foram narradas por um desses seguranças em depoimento à polícia. Segundo o servidor público Natanael da Silva Camelo, “o indivíduo (Francisco Luiz)” se aproximou da estátua da Justiça, que fica na frente do prédio do STF, trazendo “consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua”.

O depoimento segue com Natanael dizendo que, com a aproximação dos seguranças do STF, Francisco Luiz abriu a camisa e os advertiu para não se aproximarem. O servidor público disse ter visto objeto semelhante a um relógio digital, o qual, segundo o segurança, julgou se tratar de uma bomba. “(Francisco Luiz) pegou um extintor, desistiu e o colocou no chão. Saiu com os artefatos para a lateral e lançou dois ou três artefatos, que estouraram”.

Em seguida, Natanael conta que Francisco Luiz “acendeu o último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”. O servidor afirmou ter visto “algo” atado ao corpo do morto, mas não soube precisar o que era.

Na noite de quarta-feira, a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, anunciou que a Praça dos Três Poderes permaneceria isolada até que se tenha garantia de segurança no local. O corpo de Francisco Luiz permaneceu estirado no local do falecimento até o início da manhã desta quinta, sob a suspeita de que algum explosivo ainda estivesse ativo. Após a retirada do corpo, o cordão de contenção passou a isolar somente arredores da sede do Supremo.

Celina é vice-governadora, mas está à frente da gestão da crise, uma vez que o titular do cargo, Ibaneis Rocha (MDB), se encontra em Roma, na Itália, para uma visita ao Papa Francisco.

PF trabalha com vertentes de terrorismo abolição do Estado Democrático de Direito

A Polícia Federal trabalha com as vertentes de terrorismo e tentativa de abolição ao Estado Democrático de Direito, disse Andrei Rodrigues em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira.

Questionado sobre a hipótese do “lobo solitário”, ou seja, de uma ação individual e sem participação de terceiros, Rodrigues afirmou que o inquérito não descartará nenhuma hipótese de imediato e que, a nível pessoal, possui “ressalvas” com essa expressão.

“Ainda que a ação visível seja individual, por trás dessa ação nunca há só uma pessoa. Há sempre um grupo ou ideias de um grupo”, disse Andrei Rodrigues. “A investigação dirá se há outras conexões”.

Relatoria de Alexandre de Moraes

Durante a coletiva na manhã desta quinta-feira, Andrei Rodrigues afirmou que a alusão de Francisco Luiz à ré Débora Rodrigues, que pichou a inscrição “Perdeu, mané” na estátua da Justiça à frente do Supremo, indica uma “relação direta” entre o atentado desta quinta com o Ataque aos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023.

O autor das explosões desta quinta deixou uma mensagem inscrita no espelho da casa alugada na Ceilândia. “Débora Rodrigues, por favor não desperdice batom! Isso é para deixar as mulheres bonitas! Estátua de merda se usa TNT”, diz a frase. “É um dos elementos, não é o único”, disse Rodrigues sobre a relação entre os dois episódios de ataque aos prédios públicos.

Se comprovado o teor político do atentado desta quinta, o processo seria relatado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, pelo princípio do “juiz prevento”. Trata-se de um dispositivo de órgãos colegiados por meio do qual o relator de uma determinada ação fica com a guarda de outra causa de natureza semelhante. É o caso da investigação do atentado desta quarta-feira e de Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos sobre o 8 de Janeiro.

Perfis do autor indicam pretensões terroristas

Nas redes sociais, Francisco utilizava o apelido de “Tiü França” e se demonstrava adepto de teorias da conspiração. Horas antes de morrer, fez publicações que indicavam pretensões terroristas. “Pai, ‘Tiü França’ não é terrorista, né? (…) Ele apenas soltou uns foguetinhos para comemorar o dia 13″, diz um texto publicado pelo homem morto, fazendo referência à data desta terça-feira. Os perfis de Francisco Luiz foram retirados do ar.

Visitas ao STF e a gabinete na Câmara: ‘Raposa no galinheiro’

Em outra publicação, Francisco Luiz publicou uma fotografia em que aparece no plenário do STF. Na legenda, o catarinense afirmou que “deixaram a raposa entrar no galinheiro”. A fotografia não é datada, mas há registros de uma visita de “Tiü França” ao STF em 24 de agosto.

Também há registros de uma visita de “Tiü França” ao gabinete do deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC) no ano passado. Ao Estadão, Goetten disse ter percebido o amigo “alterado” na ocasião. “Diziam que estava com problemas mentais por causa da separação da mulher”, afirma o parlamentar, relatando não saber que Francisco Luiz estava em Brasília nesta quarta-feira.

“Conhecia ele, era um cara equilibrado. Sempre foi um cara ativo. Lamento muito o acontecido. Lamento a morte e lamento o que ele causou”, disse Jorge Goetten.

(Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

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