Revisitar os primeiros momentos do avanço do Sars-CoV-2, que ficou conhecido como coronavírus, é como assistir a um filme de terror após ter visto o trailer. Parece óbvio o que está por vir, mas as personagens insistem por escolher o caminho mais perigoso e os detalhes, que para elas não indicam nada, saltam aos seus olhos.
A sensação de impotência ao assistir a esse filme lembra muito os primeiros meses após a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o surto iniciado na China configurava uma pandemia, marco que completa cinco anos nesta terça-feira, 11. O salto de casos não freava, o número de mortos crescia enquanto sistemas de saúde e serviços funerários colapsavam, e parte de nós não podia fazer muito mais do que esperar por respostas e orientações no isolamento.
A trama, contudo, extrapola os limites do terror e proporciona momentos emocionantes que surpreenderiam o mais hábil roteirista de filmes dramáticos e romances. O coração bate mais forte ao ver profissionais de saúde e de outros serviços considerados essenciais se arriscando para ajudar o maior número possível de pessoas, e tropeça com cada avanço dos cientistas no desenvolvimento de imunizantes e tratamentos.
E o que era um filme se torna uma série que dura, ao menos até agora, cinco temporadas. Sim, pesquisadores e profissionais da saúde alertam: o problema da covid ainda não chegou ao fim. Revisitar o que ocorreu é uma oportunidade de aprender lições que talvez não tenhamos assimilado ou sequer percebido.
Por isso, o Estadão preparou uma linha do tempo com os principais acontecimentos desde o surgimento do vírus. Confira a seguir a primeira das três partes da cronologia.
Primeiros atos
• 31 de dezembro de 2019
O escritório da OMS é informado de casos de “pneumonia de causa desconhecida” na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China. Em 3 de janeiro, eram 44 casos registrados.
• 9 de janeiro de 2020
A OMS avisa que, segundo as autoridades chinesas, o surto é causado por um novo coronavírus.
• 17 de janeiro de 2020
O Ministério da Saúde brasileiro publica um comunicado às vigilâncias sanitárias de portos e aeroportos para que reforcem os cuidados e orientações aos viajantes por causa de um vírus desconhecido que tem causado pneumonia em moradores de uma cidade da China. Naquele momento, duas pessoas já haviam morrido.
• 23 de janeiro de 2020
A cidade de Wuhan, local de origem do novo coronavírus, inicia o isolamento social a fim de conter uma epidemia. Brasileiros que vivem na China relatam o temor com o coronavírus. Eles contam que as ruas das cidades estão desertas e que adotam medidas preventivas em relação à doença.
• 30 de janeiro de 2020
Após reunião de especialistas, o diretor-geral da OMS classifica o surto do novo coronavírus como uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC, na sigla em inglês), o mais alto nível de alarme da agência internacional. O mundo registra mais de 9,6 mil casos e 213 mortes.
“Não sabemos o tipo de dano que esse novo coronavírus pode causar se ele se espalhar por um País com um sistema de saúde mais frágil. Precisamos agir agora para ajudar os países a se prepararem para essa possibilidade”.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
Uma semana antes, o mesmo comitê já havia se reunido duas vezes, mas chegara à conclusão de que “era muito cedo” para declarar alerta global.
Chegada ao Brasil
• 04 de fevereiro de 2020
Mesmo sem casos no País, o Ministério da Saúde decreta “emergência de saúde pública em território nacional” devido ao avanço do novo coronavírus.
• 09 de fevereiro de 2020
Chegam ao Brasil dois aviões da Força Aérea com 31 brasileiros resgatados na província de Hubei, epicentro do coronavírus. Eles ficam isolados em Anápolis, na região de Brasília.
• 26 de fevereiro de 2020
O Ministério da Saúde confirma o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Trata-se de um paciente de 61 anos que havia voltado da Itália, País que atraía a atenção do mundo todo devido à explosão de infecções.
• 07 de março de 2020
Mundo ultrapassa 100 mil casos confirmados de covid.
Pandemia
• Março de 2020
A OMS declara que a rápida expansão do novo coronavírus configura uma pandemia. São mais de 118 mil casos em 114 países e pelo menos 4.291 mortes registradas.
“Milhares de outras pessoas estão lutando pelas suas vidas em hospitais. Nos próximos dias, esperamos ver o número de casos de covid-19, o número de mortes e o número de países afetados escalar ainda mais”.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
• 17 de março de 2020
A Secretaria da Saúde de São Paulo confirma a primeira mortepelo novo coronavírus no País.
• 21 de março de 2020
Brasil ultrapassa 1 mil casos confirmados de covid.
Quarentena
• Março de 2020
Em março de 2020, vários governadores anunciam que vão decretar quarentena para conter o avanço do novo coronavírus.
• 20 de março de 2020
Pais dividem tarefas domésticas com os filhosdurante quarentena em casa.
Profissionais da saúde fazem apelo para população ficar em casa; ato tem aplausos pelas janelas.
Fechamento de lojas deixa ruas de São Paulo vazias.
• 02 de abril de 2020
Mundo ultrapassa 1 milhão de casos confirmados.
Queda de Mandetta
• 16 de abril de 2020
Após semanas de desavenças, o presidente Jair Bolsonaro demite o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O oncologista Nelson Teich é escolhido para assumir a pasta.
Sistema de saúde do País começa a colapsar
• Abril de 2020
Na segunda quinzena de abril, hospitais públicos e privados de vários Estados dão sinais de sobrecarga. O Amazonas enfrenta uma situação crítica.
• 29 de abril de 2020
Maranhão chega a 90% de ocupação dos leitos de UTI e 112 mortes por covid-19.
Com saúde em colapso, governo do Amazonas anuncia uso de contêineres frigoríficos para mortos do coronavírus.
Pernambuco registra fila por UTI; profissional já tem de optar quem levar primeiro, diz secretário.
• 30 de abril de 2020
Estado do Rio tem 2.209 profissionais de saúde afastados por covid-19.
Grande SP tem 89% dos leitos de UTI ocupados e informa que vai transferir pacientes para o interior.
• 03 de maio de 2020
Brasil ultrapassa 100 mil casos de covid confirmados.
Máscaras
Elas já haviam aparecido no carnaval, mas, diante de mais evidências científicas, tornaram-se artigo essencial no combate à pandemia e, especialmente entre o fim de abril e início de maio, viraram alvo de decretos em vários Estados.
• Abril de 2020
Contra coronavírus, cidades e Estados começam a exigir uso de máscaras caseiras.
Uso de máscara é anunciado como obrigatório no transporte público em São Paulo.
• Maio de 2020
Com recomendação ou obrigatoriedade, todos os Estados já têm orientação para uso de máscara.
Câmara aprova uso obrigatório de máscara em locais públicos em todo o País.
Um novo acessório da moda: as máscaras.
• 09 de maio de 2020
Brasil ultrapassa 10 mil mortes por covid.
Mais um ministro da Saúde cai
• 16 de abril de 2020
Em 15 de maio de 2020, vinte e oito dias após assumir como ministro, Nelson Teich deixa o posto em meio a divergências com Jair Bolsonaro. Entre as principais rusgas estava a defesa fervorosa do presidente à cloroquina no tratamento da doença, ao passo que Teich, ciente dos estudos que não mostravam redução na mortalidade e dos efeitos colaterais, era contrário. Quem assume o cargo é Eduardo Pazuello.
Mortes em ascensão
• 16 de abril de 2020
Em 19 de maio de 2020, o Brasil registra, pela primeira vez, mais de 1 mil mortes por covid em 24 horas. São 1.179 óbitos em um dia.
• Maio de 2020
O drama do lado de fora do hospital.
Em São Paulo, risco de morte de negros por covid-19 é 62% maior em relação aos brancos.
Com 4.552 registros a mais, mortes em casa crescem 14% no País; alta no Amazonas chega a 94%.
Perto do colapso funerário, famílias no Pará esperam mais de um dia pela liberação de corpos.
Asilos já contabilizam 29 mortes pelo coronavírus no interior de São Paulo.
Famílias de vítimas da covid-19 revivem dor da morte a cada dia.
• 31 de maio de 2020
Brasil supera 500 mil casos de covid.
Transparência
• 08 de junho de 2020
Em 8 de junho de 2020, após atrasos na divulgação e tentativa de interferência nos dados sobre covid por Bolsonaro, os veículos Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo e UOL anunciam uma parceria para buscar as informações necessárias e apresentá-las ao público.
Em uma iniciativa inédita, equipes desses veículos dividem tarefas e compartilham as informações obtidas para que os brasileiros possam ter dimensão da evolução de casos e do total de óbitos provocados pela covid-19.
Flexibilização em meio a mortes
• 10 de junho de 2020
Enquanto governadores de quase todo o Brasil flexibilizam as regras de isolamento, o País registra a maior média de óbitos provocados pelo novo coronavírus em todo o mundo, superando os Estados Unidos e o Reino Unido.
Em uma semana, são 7.197 mortes por covid-19, uma média de 1.028 por dia.
• 8 de agosto de 2020
Brasil chega a 100 mil mortes por covid.
Resultados animadores
• Novembro de 2020
Vitória da ciência! Em novembro, os dados da terceira fase de estudos das vacinas mais promissoras contra a covid-19 começam a ser divulgados.
Vacina contra coronavírus da Pfizer tem eficácia de mais de 90%.
Vacina contra coronavírus da Moderna tem 94,5% de eficácia.
Vacina de Oxford contra covid-19 tem eficácia de até 90%.
Início da vacinação
• Dezembro de 2020
O início de dezembro é marcado pela aprovação do uso emergencial de vacinas e pela campanha de vacinação no Hemisfério Norte.
O Reino Unido é o primeiro País do Ocidente a aprovar o uso de uma vacina contra covid-19. A vacina é a da Pfizer.
Britânica de 90 anos é a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer fora da fase de teste.
Agência dos Estados Unidos autoriza imunizante da Pfizer.
Começa vacinação nos EUA; enfermeira de NY recebe 1ª dose da vacina da Pfizer.
Estados Unidos autorizam o uso emergencial da vacina da Moderna.
Organização Mundial da Saúde (OMS) aprova uso emergencial da vacina Pfizer-BioNTech.
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