Grandes eventos (festas), daqueles que incluem jantar servido em buffet, são fontes de histórias inacreditáveis, a demonstrar a capacidade do ser humano em se adaptar às exigências do protocolo.
Ops, falei em capacidade, mas já me corrijo, porque incapacidade também é um dos termos adequados. Ao lado dele, podem ser incluídos impaciência, falta de educação e falta de vergonha.
Tais solenidades têm em comum as discrepâncias de horário. São marcadas para determinada hora e iniciam muito depois. E são se limitam aos tradicionais atrasos das noivas. São homenageados que não chegam, autoridades que se atrasam, roteiros do cerimonial que precisam ser revistos e perrengues do gênero. O fato é que não se respeita a hora de começar – e muitas vezes, também a de terminar.
O ataque ao buffet é inevitável. Hermann Sheffield, amigo meu, apoiou um dos braços na mesa para alcançar uma fatia de queijo e levou uma garfada na mão. A dona do garfo, distinta senhora com óculos de grossas lentes, desculpou-se:
– Pensei que fosse a lagosta!
Dois garfos também podem tentar arrematar aquele último filé de peixe à romana, o que sempre resulta no desmantelamento da iguaria.
Porém, a arma preferida dos esfomeados na fila do buffet é a bundada. Pessoas trajando roupas assinadas por badalados costureiros perdem a linha à visão de um filé à moda Madeira ou de uma lasanha a quatro queijos. Então o rebolar do quadril afasta o adversário ou adversária e garante sua prioridade no repasto.
E não se pode esquecer os vexames nos banheiros. Sempre há quem beba demais e deposita o produto do exagero sobre os vasos sanitários. Aquele box pode ser interditado, o que não impede que o azedo aroma resultante da farra siga a castigar as narinas dos circunstantes.
Tempos atrás, em um clube de alta extração social, a acompanhante do mesmo Hermann deparou-se com uma família composta por mãe e três filhas a darem um tapa na maquiagem para as fotografias ao lado do marido e pai, homenageado com uma medalha na lapela.
– Vamos, Bebete, já está chegando a vez do pai – gritou a mãe da porta do banheiro.
Bebete não deu sinal de vida. Uma das irmãs golpeou a porta do box, exigindo sua presença. Foi o bastante para a moça gritar lá de dentro:
– Tenham paciência, já vou. Estou fazendo o número dois.
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