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INVESTIGAÇÃO

PF diz que ‘Contador de Lulinha’ movimentou R$ 525 milhões em dois anos

03/06/2024

estadão

O contador João Muniz Leite, sua mulher, Aleksandra Silveira Andriani, e as empresas ligadas ao casal movimentaram R$ 525.778.863,00 entre 2020 e 2021, embora Muniz declarasse salário de R$ 26 mil no período. Essa é a conclusão do inquérito policial da Polícia Federal (PF) que o investigou e serviu de base para o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, pedir à Justiça as ordens de busca feitas contra Muniz durante a Operação Fim da Linha.

A coluna teve acesso à íntegra do inquérito. Deflagrada no dia 9 de abril, a Operação Fim da Linha mirou a captura de parte do sistema de transporte de São Paulo pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Ela atingiu as diretorias de duas empresas de ônibus: a UPBus e a Tranwolff, que teriam lavado dinheiro da facção obtido com o tráfico de drogas.

Muniz ficou conhecido como o Contador do Lulinha por ter trabalhado para Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem também prestou serviços. Muniz chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato no processo do caso do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sérgio Moro.

De 11 de novembro de 2019 até 31 de julho de 2023, segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, Lulinha manteve uma de suas empresas, a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, registrada no mesmo endereço do escritório de Muniz, na zona oeste da capital. A defesa de Lulinha diz que as investigações sobre o contador nunca atingiram o filho do presidente.

Os papéis da PF mostram que era 12 de maio de 2022 quando o delegado Flávio Vieitez Reis, supervisor do Grupo de Investigações Sensíveis da Superintendência da PF em São Paulo, enviou ao juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, os autos da investigação sobre a lavagem de dinheiro para que o caso fosse apreciado pela Força Tarefa X, do Gaeco.

Eram três os alvos citados na portaria que instaurou o inquérito n°. 020/2022: o Contador de Lulinha, Aleksandra Andriani e Mayra Marcílio Daher. O delegado explicava que o prêmio de R$ 40.076.100,78 do concurso 2.363 da Mega Sena foi o fato que deu origem à investigação. Isso porque um dos ganhadores do bolão vencedor foi o traficante de drogas Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta – a aposta foi feita em uma casa lotérica em Pinheiros, na zona oeste. Cara Preta fora assassinado no dia 27 de dezembro de 2021, em uma emboscada na zona leste de São Paulo.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou que pelo menos parte dos valores recebidos pelo traficante foram movimentados por empresas que tinham Mayra como responsável, sendo que o contador Muniz teria recebido as demais cotas do bolão. Muniz também era o contador de Cara Preta, que usava o nome falso de Eduardo Camargo de Oliveira, indícios que, segundo o delegado, demonstravam “que o bilhete muito provavelmente foi adquirido como forma de se ‘lavar’ valores obtidos ilicitamente por integrantes do PCC”.

O delegado suspeitava que Muniz estivesse por trás das empresas em nome de Mayra, para onde Cara Preta transferira os valores do prêmio de loteria – o contador ficara com 2 cotas do bolão e o traficante com 3. Os federais disseram que também acharam depósitos sem justificativa feitos por empresas do núcleo familiar de Muniz para casas lotéricas que somavam R$ 2 milhões e apostas feitas por Muniz e sua mulher que somavam R$ 2,5 milhões, a grande maioria em 2021, “o que pode indicar se tratar de um meio de lavagem de dinheiro”.

Como não havia, em tese, crimes federais no caso – apurava-se o possível envolvimento de funcionários na Caixa, no esquema –, o delegado pediu o auxílio do Gaeco. O trabalho de apuração da PF havia começado em 20 de janeiro de 2022. Os promotores decidiram continuar a investigação dos fatos, no âmbito da força-tarefa, permanecendo o inquérito sob a responsabilidade da PF.

No meses seguintes, os federais descobriram que o traficante repassou parte de seus recursos a incorporadoras e construtoras que atuam no mercado imobiliário da capital – seis delas foram identificadas no inquérito da PF, uma das quais movimentou R$ 41 milhões. Ao mesmo tempo analisaram montantes de capitais que circularam entre as conta correntes de Cara Preta e as das empresas de Mayra, que, segundo os investigadores, tinham Muniz como contador – uma delas tem as iniciais do nome do contador, a JML Assessoria.

Foto: Reprodução Facebook

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