A pandemia foi e continua sendo uma fonte inesgotável de notícias falsas, as “fake news”, que para mim são uma espécie de “doença venérea” das redes sociais.
Em qualquer campo da atividade é notório que elas se tornaram um fenômeno global de enormes proporções, já que com a popularização da internet, acabam conferindo às notícias falsas um poder descomunal. E na pandemia, como vimos, elas proliferaram.
Antigamente dizia-se que a calúnia era como um travesseiro de penas aberto no alto da montanha, as quais nunca mais poderiam ser recolhidas. É o tema de uma fábula na qual um Sábio, mostrou ao propagador da mentira que o mal que ele causou não poderia ser reparado.
Olha, bons tempos aqueles.
Nem todas as notícias falsas sobre a Covid-19 causam prejuízo, e o que conto a seguir seria apenas uma “apropriação indébita” ou, melhor, uma “atribuição indébita”.
Logo no início da pandemia começou a circular poema atribuído a uma poetisa que viveu nos anos 1800 e que o teria escrito por ocasião de um surto epidêmico semelhante.
Logo em seguida descobriu-se que a mulher e a tal pandemia jamais existiram, mas aí a internet “decidiu” que o autor era o poeta uruguaio Mario Benedetti. Esse, que existe de verdade, de pronto desmentiu.
Bom, as agências de checagem logo verificaram que o poema é do cubano Alexis Valdés, que o publicou no Instagram em 12/04/2020.
O poema é muito bom e compartilho-o abaixo, com a tradução que me pareceu mais adequada e o desejo de que se torne realidade o quanto antes:
Esperança
Quando a tempestade passar
E se amansarem os caminhos
Seremos sobreviventes
de um naufrágio coletivo.
Com o coração dilacerado
Mas com destino abençoado
nos sentiremos felizes
apenas por estarmos vivos.
E daremos um abraço
ao primeiro desconhecido
e vamos louvar a sorte
de conservar um amigo.
E então vamos lembrar
De todos os que perdemos
e de uma vez aprenderemos
tudo o que não tínhamos aprendido.
Não seremos mais invejosos
pois todos teremos sofrido.
Não seremos mais preguiçosos
Seremos mais compassivos.
Valerá mais o que é de todos
O que eu nunca tinha conseguido
Seremos mais generosos
E muito mais comprometidos
Vamos entender o quão frágil
significa estar vivo
Vamos suar empatia
Por quem ficou e quem já tinha partido.
Vamos sentir falta do velho
que pedia esmolas no mercado,
não sabíamos o nome dele
e estava sempre ao nosso lado.
E quem sabe o pobre velho
era nosso Deus disfarçado
Nunca perguntamos seu nome
porque estávamos sempre apressados.
E tudo será um milagre
E tudo será um legado
E a vida será respeitada,
a vida que temos ganhado.
Quando a tempestade passar
Te peço Deus, desolado
que nos devolva melhores,
como Tu havia sonhado.