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ESPORTES

Por que a SAF do Coritiba se tornou alvo dos torcedores e uma das mais criticadas do País?

07/04/2025

estadão

O Coritiba estreou na Série B de 2025 com vitória sobre o Vila Nova. Josué fez, aos 97 minutos de jogo, de pênalti, o gol que cravou 1 a 0 no placar. O clube, contudo, vai precisar mais do que isso para agradar aos torcedores, que colocam os gestores da SAF como alvos de cobrança.

No gabinete, a Treecorp, empresa detentora de 90% da SAF, trabalha com o saldo de dívidas e a construção do novo centro de treinamento do Coritiba, que custará R$ 100 milhões. Uma das metas desportivas é chegar na Libertadores até 2030, mas há um caminho longo.

A insatisfação dos torcedores está longe de ser com a administração em si, mas com os resultados ruins desde a mudança na gestão, em 2023. A conciliação passa pelos resultados dentro de campo, com o acesso para a Série A como obrigação.

No fim de março, cerca de 90 torcedores saíram de Curitiba até São Paulo para protestar contra a SAF. O destino era, mais especificadamente, o número 2055 da Avenida Faria Lima, onde fica a sede da Treecorp.

Faixas diziam “Fora Treecorp” e acusavam a empresa de golpe. Um dos sócios, Bruno D’Ancona, era outro alvo direto, com críticas de que ele estava desaparecido e não conhecia a realidade do Coritiba.

Foi esse movimento que o levou à Curitiba dias depois, em um encontro inédito dele com imprensa e torcedores, organizado pela presidência da associação, detentora dos outros 10% da SAF.

D’Ancona fez um mea culpa, admitindo erros na comunicação. Uma justificativa é de que o projeto da Treecorp para o Coritiba “ainda não nasceu”. Um dos sócios da empresa é o apresentador Roberto Justus, torcedor do São Paulo.

As cobranças a D’Ancona renderam o atendimento a outras demandas. Na estreia pela Série B, por exemplo, houve promoção em ingressos e na bebida do estádio, além do “Green Hell”, festa com sinalizadores verdes no Couto Pereira.

O público na estreia foi de 28.406 presentes, número elogiado pelo técnico Mozart. “Temos de exaltar o que o nosso torcedor fez, o número de torcedores que vieram ao estádio. Um número significativo. E a forma que nos apoiaram o tempo todo”, disse após a vitória, o treinador que, em 2024, levou o Mirassol à Série A.

Mozart, que levou o Mirassol à Série A, foi escolhido para comandar o Coritiba ainda em 2024. (Foto: @Coritiba via X)

SAF do Coritiba: primeira rebaixada e pior Série B da história do clube

Em 2023, quando o Coritiba mudou o modelo de gestão, o clube logo se tornou a primeira SAF do futebol brasileiro a ser rebaixada. A expectativa, obviamente, era outra. Os R$ 36 milhões aportados no futebol representaram, na época, o maior investimento na história do clube.

O espanhol Jesé Rodríguez, ex-Real Madrid, o argelino Islam Slimani e o grego Andreas Samaris, ambos com carreira na Europa, foram alguns dos nomes contratados. Eles não foram suficientes.

O roteiro ainda envolveu duas trocas de técnicos. António Oliveira deu lugar a Antonio Carlos Zago, que foi substituído por Thiago Kosloski. Já o nome escolhido para 2024 foi Guto Ferreira.

Entretanto, o treinador acabou como o primeiro de três técnicos na temporada. O Coritiba ainda contou com Fábio Matias e Jorginho. Nenhum deles conseguiu colocar o time, ao menos por uma rodada, no G-4.

Das sete vezes que o clube esteve na Série B por pontos corridos, essa foi a terceira em que o acesso não foi conquistado. Mais do que isso, foi a pior participação, com a equipe acabando na 12ª posição, com 50 pontos.

No Paraná, o time não vence o Estadual desde 2022, quando disputou a final pela última vez. O melhor resultado desde então foi a semifinal, em 2024. Neste ano, o Coritiba foi eliminado nas quartas de final pelo Maringá.

A Copa do Brasil, competição que mais paga no País, também é de lembranças ruins. No ano passado, a queda foi na primeira fase, com derrota por 3 a 2 para o Águia de Marabá. O fracasso se repetiu neste ano, com eliminação logo na estreia, para o Ceilândia.

O planejamento da SAF envolve o projeto Visão 2030, que estabelece metas como a participação na Sul-Americana e na Libertadores até 2030. Para isso, é claro, o acesso é necessário. Nos últimos dez anos, o Coritiba jogou a Série A em seis temporadas (2015, 2016, 2017, 2020, 2022 e 2023) e sofreu três rebaixamentos.

Representantes da Treecorp, associação do Coritiba e torcedores fizeram reunião para cobranças e explicações. (Foto: @Coritiba via X)

Pagamento de dívidas e construção de novo CT são ‘trunfos’ da SAF

Ainda na reunião com jornalistas e torcedores, Bruno D’Ancona tentou mostrar o lado bom da Treecorp no Coritiba e garantiu que não há interesse na venda da SAF. Segundo o empresário, foram investidos R$ 98 milhões no futebol em 2024, além de R$ 30 milhões, distribuídos entre melhoras no CT e no Couto Pereira, planejamento do novo CT e nas categorias de base. Para 2025, o futebol deve receber investimento total de R$ 120 milhões.

A expectativa também é pelo início das obras do CT de Campina Grande do Sul. A área de cerca de 400 mil m² foi comprada pelo Coritiba ainda em 2011. O projeto representa um custo de, no mínimo, R$ 100 milhões.

Esse é o mesmo valor que já foi pago em dívidas do clube desde que a Treecorp assumiu. O planejamento é quitar outros R$ 43 milhões de dívidas, entre recuperação judicial e parcelamentos tributários, neste ano.

A ideia é fechar o ano com 40% da dívida quitada. Em termos de comparação, o endividamento total no primeiro semestre de 2023 era próximo de R$ 270 milhões.

Com a Treecorp, o Coritiba apresentou superávit de R$ 12 milhões em caixa no segundo semestre de 2023, apesar do rebaixamento, superando a expectativa de déficit financeiro de R$ 155 milhões. Segundo balanço divulgado em abril de 2024, o lucro do período foi de R$ 34,6 milhões.

Atacante Josué garantiu a vitória do Coritiba sobre o Vila Nova com gol nos acréscimos no segundo tempo. (Foto: JP Pacheco/Coritiba)

Se considerado o ano inteiro, incluindo o período associativo do primeiro semestre, o lucro chega próximo de R$ 15 milhões. Já o superávit atinge R$ 49,6 milhões. A maior parte da receita vem de valores referentes aos direitos de transmissão, negociados pela Liga Forte União (LFU): R$ 33,5 milhões.

“Estamos atravessando um processo de reestruturação, em que temos que desenvolver o clube dentro e fora das quatro linhas”, projetou, na época, André Campestrini, diretor financeiro da SAF do Coritiba. “O business plan da visão 2030 prevê que esse período será concluído em 2025. Durante essa fase, estamos aplicando novas políticas de atuação e gestão do negócio. Estamos oferecendo perspectivas de continuidade, crescimento e credibilidade com profissionalismo”, concluiu.

Campestrini tem atuado interinamente como CEO desde a saída de Gabriel Lima, que assumiu o posto na LFU. Um novo nome ainda será apresentado pelo Coritiba.

Já para o futebol, até então, o ex-jogador Reginaldo Nascimento foi contratado para a função de coordenador técnico. Mozart avalia que o grupo está unido no propósito de subir para a Série A.

“Essa sinergia entre jogadores, torcedores, o próprio clube, que é feito de muitas pessoas, vai dando confiança. É importante essa conexão. O fato casa, em qualquer campeonato, mas na Série B, é determinante. Os jogos da Série B são muito duros e equilibrados”’, projeta Mozart.

O Coritiba volta a campo contra a Chapecoense, no sábado, às 16h, na Arena Condá, em Chapecó.

(Imagem abertura: Mariana Toneti/Coritiba)

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