Os preços das passagens aéreas avançaram 22,65% em novembro, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice registrado no mês passado é o maior deste ano, superando até os 19,29% registrados em julho, até então a maior alta para um mês de 2024. O índice de novembro superou ainda os 19,12% de alta registrados no mesmo mês de 2023 e ocorreu mesmo com a queda de 3,74% no preço médio do litro do querosene de aviação.
Procuradas, as empresas aéreas citam fatores como o preço do combustível e até conflitos internacionais como determinantes para os valores das passagens (leia o posicionamento das empresas no fim do texto).
“A gente teve conhecimento dessa variação já no IPCA-15, divulgado há duas semanas. De fato, surpreendeu o mercado, mesmo. E, na verdade, ela veio bem mais alta do que se esperava”, afirma Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos.
A alta inclusive está fora do padrão histórico, segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, uma das principais agências de classificação de risco do País. “Se a gente pegar o padrão histórico dos últimos anos, a gente tem uma mediana de 10%. E a gente está falando aí de uma alta de 20%, mais ou menos. Então, é natural chamar a atenção”, avalia Agostini.
No geral, a inflação desacelerou no País no mês passado e ficou em 0,39%, 0,17 ponto percentual abaixo do registrado em outubro, que ficou em 0,56%.
Para os especialistas, fatores sazonais, como a proximidade das festas de final de ano, e econômicos, entre eles a oscilação do câmbio, que exerce forte influência no segmento, ajudam a explicar o cenário. “Vale lembrar que a desvalorização do real tem um impacto muito forte na aviação e isso ajuda a formar preço”, afirma Agostini.
Em relação à sazonalidade, Agostini lembra que houve queda de 11,5% nos preços das passagens aéreas em outubro deste ano. “Se a gente pegar, por exemplo, os dados do meio do ano, que também é um período de férias, tivemos alta de quase 20%. E, entre junho e agosto, tivemos queda. Nos meses com feriado, sempre tem ali uma alta dos preços”, diz.
Alexandre Maluf, da XP, lembra também que novembro contou com um feriado prolongado, no dia 15, uma sexta-feira, quando foi celebrada a Proclamação da República. Na quarta-feira seguinte, dia 20, foi comemorado o Dia da Consciência Negra em todo o País. “Claro que nesse cenário de feriado nacional emendado com renda forte e dólar depreciado, houve espaço aí para preços mais altos cobrados em novembro, em termos de passagens aéreas. Acho que essa alta demanda da população por viagens fez com que as companhias colocassem os preços para cima”, avalia o economista da XP.
As passagens aéreas são um subitem do grupo transportes. Segundo os dados divulgados nesta terça, o forte avanço desse subitem puxou a alta do grupo transportes, que avançou 0,89% em novembro, contrastando com o mês de outubro, quando foi registrada queda nos preços de -0,38%.
Em novembro, combustíveis como gasolina e etanol tiveram quedas, respectivamente de -0,16% e -0,19%. Já um dos principais insumos das companhias aéreas, o querosene da aviação, teve queda de -3,74% no acumulado do ano, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O preço médio ponderado do litro do querosene da aviação passou de R$ 3,74 o litro no dia 1º de janeiro para os atuais R$ 3,60.
Demanda alta
Já que não houve grande evolução no preço do insumo, outro fator que pode ter contado para o aumento das passagens aéreas pode ser a alta da demanda, proporcionada pela melhora na renda. Segundo Maluf, o Brasil vive em um contexto de renda muito forte. “A economia está crescendo, crescendo a passos firmes. A gente teve o PIB do terceiro trimestre divulgado há poucos dias e vimos uma variação de 4,1% no ano contra ano. Temos um cenário de consumo das famílias muito forte, desemprego em baixa, salários em alta, crédito forte, tudo isso é uma demanda sólida”, afirma o economista da XP.
Tradicionalmente, o mês de dezembro é o que apresenta variações mais altas nas passagens aéreas. Apesar disso, a tendência é a de que esse subitem feche o acumulado do ano com deflação, ou seja, queda.
Projeções
Para Alex Agostini, da Austin Rating, se a tendência do comportamento das passagens aéreas se confirmar, os preços devem estabilizar após o período das férias, especialmente em janeiro, quando é esperada uma queda muito forte.
Já Maluf acredita que essa alta deverá continuar em dezembro. Para 2025, ele afirma que a tendência é a de um cenário com recomposição dos preços. “O que temos de informação de coleta de preço são duas deflações seguidas entre janeiro e fevereiro”, afirma o economista da XP.
O que as empresas áreas dizem
A Latam e a Azul informaram em nota que os valores das passagens aéreas são influenciados por diversos fatores, que incluem a sazonalidade, trecho escolhido, se a compra foi antecipada ou não, e disponibilidade de assentos, entre outros. “Fatores externos, como a alta do dólar, o preço do combustível e conflitos internacionais, são elementos que também influenciam nos valores das passagens”, informa a nota da Azul.
A Latam diz que a dica é os passageiros programarem as suas viagens e adquirirem os bilhetes com antecedência para encontrar preços mais atrativos. A companhia também afiram que realiza diversas promoções no decorrer do ano.
Procuradas, a GOL e a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) não responderam até a publicação da matéria. Caso se manifestem, o texto será atualizado.
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