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Por que é mais fácil enxergar o erro dos outros e é tão doloroso assumir os nossos?

26/05/2022

Para que a vida faça sentido, temos uma tendência a conectar situações à causas. Apesar de muitas vezes essa relação não ter nenhum fundamento, escolhemos eventos externos como causa dos nossos erros ou dos nossos problemas. Quando há uma situação incoerente que pode afetar nossa identidade, como mecanismo de defesa acabamos culpando algo ou alguém para que sejamos eximidos de auto responsabilidade. Estudos na área da psicologia mostram o quanto isso é comum desde o momento em que nos compreendemos como seres humanos, aprendendo que precisamos fazer tudo com perfeição e que o erro demonstra que não somos bons o suficiente. Essa crença é assimilada como uma verdade absoluta, dificilmente sendo questionada ao longo da vida.

 

De acordo com a dissertação de mestrado da autora Cynthia de Freitas Melo, com o tema Avaliação da Estratégia Saúde da Família a partir de Crenças de seus Profissionais, “O processo de socialização se constitui em um incessante intercâmbio com pessoas e estímulos sociais que levam os indivíduos a formarem impressões sobre outras pessoas ou coisas. Estas informações são coletadas e processadas, até chegarem a julgamentos. Uma consequência direta desta tomada de conhecimento do ambiente social que os circunda é a formação de opiniões, crenças, atitudes e valores (Rodrigues, 1999). Desta forma, não existe uma pessoa que não possua crenças.” Além das crenças, comportamentos podem ser modelados. O psicólogo canadense Albert Bandura, de acordo com a sua teoria da Aprendizagem por Modelagem ou Aprendizagem Social, defende que muitos dos comportamentos que aprendemos são adquiridos de forma rápida, mesmo sem reforço, apenas através da observação do comportamento dos outros. Por isso, indivíduos que são referências para nós, como nossos pais e avós, ao demonstrarem insegurança e incômodo na hora de assumir seus erros, tornam atitudes como essa naturais e facilmente reproduzidas.

 

Também de acordo com o artigo “Nossos erros me afetam? Efeito de informações negativas na identificação com endogrupo e na autoestima” publicado na revista de Psicologia da USP, “a autoestima é associada à identificação com grupos (Stets & Burke, 2013). Uma das prerrogativas menos contestadas em psicologia social é a de que as pessoas são motivadas a proteger e aumentar sua autoestima (Vignoles et al., 2006).” Tendo em vista essas informações, é possível compreender como a autoestima está relacionada à dificuldade em assumir os erros. Um sujeito com baixa autoestima, vê como obstáculo o ato de reconhecer seus erros, já que isso ameaça o seu autoconceito.

 

Para entender como romper com este padrão, podemos utilizar como premissa a ideia apresentada no livro Assistentes do mercado de fundos de hedge: como os traders vencedores ganham, onde Ray Dalio, fundador, Chief Investment Officer (CIO), ex-CEO e atual mentor da Bridgewater, diz que adora erros porque acredita que eles proporcionam experiências de aprendizado que são o catalisador da melhoria. Além disso, é fundamental que haja consciência acerca da origem desta conduta, com o intuito de exercitar novos padrões, lidando com nossas vulnerabilidades e aceitando que mostrá-las não é um sinônimo de fraqueza, mas sim de inteligência, humildade e amor-próprio.


Referências:

(2004).Teorias e modelos do processo de aprendizagem. Projeto n.º 264-RD-2004 financiado pelo POEFDS. Disponível aqui.

(2009). Freitas Melo, Cynthia de. AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA A PARTIR DAS CRENÇAS DE SEUS PROFISSIONAIS. Disponível aqui

(2012). Ray Dalio: O homem que ama erros. Em Hedge Fund Market Wizards, JD Schwager (Ed.). Leia aqui.

(2012). Tom Stafford. De chaves perdidas a entrevistas fracassadas, culpamos outras pessoas por seus percalços, mas nunca a nós mesmos quando fazemos o mesmo. Por quê? Porque assumir causas nos ajuda a dar sentido ao mundo. BBC. Disponível aqui.

Loewenhaupt, Raquel e Pilati, Ronaldo Nossos erros me afetam? Efeito de informações negativas na identificação com endogrupo e na autoestima 1 1 Pesquisa conduzida com apoio de bolsa de mestrado da Capes vinculada a Raquel Loewenhaupt e de bolsa produtividade do CNPq vinculada a Ronaldo Pilati. . Psicologia USP [online]. 2018, v. 29, n. 2 [Acessado 25 Maio 2022] , pp. 262-276. Disponível aqui.

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