Por Daniela Amaral
Lembro de cada detalhe do dia em que nos conhecemos. Cada palavra dita, dos risos, das pausas dadas, da respiração pesada. Estávamos lá, lado a lado, sempre juntos, pelo menos era o que eu pensava. Até que continuei a caminhar e notei que às vezes você ficava para trás. Tentei esperar por você, andar mais devagar, mas a vida tem pressa e uma urgência que você não tem. Corri, segui em frente, sempre lembrando do que somos e do que fomos.
Você continuava ali, observando, rindo e me fazendo lembrar que eu te pertencia. Mas, eu sabia que você nunca seria meu. Em minhas memórias ainda sinto a tua presença e continuo te perseguindo, um dia após o outro. Por que nos afastamos? Nos tornamos estranhos e alheios a tudo aquilo que já vivemos? Será que um dia caminharemos juntos novamente?
A saudade me invade, sinto tua falta nas tardes de sol de inverno, em que nos sentávamos na porta da casa de minha mãe, deitávamo-nos no chão e víamos os desenhos das nuvens no céu. O sol aquecia nossos rostos, corando as nossas bochechas. Ali juntos, comíamos mimosas suculentas, que exalavam no ar o cheiro cítrico da época. Nesses pequenos momentos, eu me sentia viva, não havia solidão, pois estávamos juntos. Éramos um só, num mundo só nosso. Onde foi que nos perdemos? No final da juventude? No início da vida adulta? Quando a solidão se tornou mais forte que o nosso elo, e tudo aquilo que vivemos se tornou uma lembrança? Me desculpe, se em algum momento me distraí e caminhei rápido demais, e por um instante te esqueci. Me perdoe por ter guardado nossas lembranças em uma gaveta, como algo sem valor. Tantos anos se passaram e penso no que vivemos, sinto falta do que ficou e do que éramos um para o outro. A vida ainda segue urgentemente, apressada, corro atrás dela e olho constantemente para trás, tentando te encontrar, te reencontrar, te controlar. Te vejo em tudo que sou, te vejo por aqui e por ali, te chamo e espero que você seja sempre meu. Tempo.
Daniela Amaral é bibliotecária por formação e escritora por vocação.