Maior produtor de petróleo dos Estados Unidos, o Texas retirou na última semana US$ 8,5 bilhões que mantinha aplicados em ativos geridos pela BlackRock, a maior empresa de investimentos do mundo. O argumento do governo texano, comandado pelo republicano Greg Abbott, é de que a gestora promove boicote às ações de empresas do setor de combustíveis fósseis usando fatores da agenda ESG, que resumidamente trata de boas práticas ambientais, sociais e de governança.
A guerra dos conservadores americanos contra a agenda ESG não é nova. Praticamente todos os governantes republicanos sustentam que investimentos em ativos sustentáveis fere a tradição do País de que aplicações financeiras servem unicamente para ganhar dinheiro. A queda de braço com a Black Rock ocorre porque a empresa defende ativos verdes, com perspectivas de lucro a longo prazo. O saldo da briga é que a gestora foi forçada a retirar a sigla ESG de seus comunicados para não perder mais clientes.
Ao contrário do movimento anti-ESG, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) optou por outro caminho e valida o tripé da sustentabilidade – ambiental, social e econômico. Pela primeira vez na história, o órgão regulador do mercado financeiro americano vai exigir das empresas cotadas em bolsa a divulgação de emissões de gases de efeito estufa, além de planos e custos para enfrentar as ameaças da mudança climática. Em caso de atividades não sustentáveis, as companhias devem informar riscos financeiros e aos ativos físicos, e considerar a possibilidade de prejuízos com a judicialização de suas práticas.
ESG made in EUA
Anualmente, os desastres naturais causados pela mudança climática geram prejuízos de US$ 100 bilhões nos Estados Unidos e a decisão da SEC segue uma tendência global de exigir relatórios confiáveis das companhias para proteger investidores que aplicam bilhões em bolsa de valores. A norma vale a partir de 2026 e a decisão também envolveu preferências políticas, com representantes de democratas votando a favor e de republicanos votando contra. A medida foi parar na Justiça, que deve decidir se o órgão regulador tem autonomia para impor regras que têm força de lei, instituindo inclusive penalidades pelo descumprimento do novo regulamento.
Metano no satélite (I)
Um satélite recém-lançado na órbita terrestre vai monitorar a emissão de metano em poços de petróleo e gás de todo o mundo. As informações estarão disponíveis em tempo real. O equipamento circula a Terra a cada 95 minutos e com um sensor infravermelho de alta resolução vai escanear áreas de até 125 quilômetros de largura para detectar concentrações elevadas de metano. O projeto envolveu o Fundo de Defesa Ambiental dos Estados Unidos, a Universidade de Harvard e outros parceiros. O Google é um deles e ajudará a disponibilizar os dados publicamente.
Metano no satélite (II)
O metano é o segundo principal causador do aquecimento global, depois do dióxido de carbono, mas 80 vezes mais prejudicial que o CO2. A extração de petróleo é a segunda maior fonte de emissões do gás, depois da agricultura. O monitoramento dos poços vai identificar vazamentos e concentrações na atmosfera. Com isso, pode contribuir para desacelerar o processo de efeito estufa e de mudanças climáticas.
Energia indiana
A companhia indiana Adani Green Energy Limited (AGEL) iniciou a construção de um gigantesco parque gerador de energia, conjugando as fontes eólica e solar, com investimento estimado de US$ 100 bilhões. A área vai ocupar um território cinco vezes maior que a cidade de Paris e terá capacidade para produzir 30 gigawatts (GW). Até 2030, a Índia projeta gerar 500 GW de eletricidade a partir de fontes limpas.
Limpa trilho (I)
A operadora de ferrovias Rumo está testando a eficiência de duas locomotivas híbridas, fornecidas pela companhia americana Progress Rail, para reduzir os impactos ambientais de suas operações. A avaliação da eficiência dos equipamentos acontece na linha entre Guarapuava e Ponta Grossa. A expectativa é diminuir o consumo de diesel em até 42%, evitar emissões de poluentes e reduzir o barulho do trem.
Limpa trilho (II)
A descarbonização das operações ferroviárias é uma batalha mundial e há diversas soluções de maquinário elétrico ou movido à hidrogênio já em operação. A indústria estima que a troca de locomotivas a diesel por propulsores movidos por combustível limpo vai movimentar US$ 32 bilhões até o final desta década.
Zero surpresa
O CERAWeek, encontro realizado na semana passada em Houston (EUA) para discutir o uso de energias, consolidou o entendimento dos grandes produtores de petróleo, inclusive o Brasil, de que a transição energética não afetará o consumo de combustíveis fósseis no curto prazo. O resultado final é de que, mesmo que haja queda de demanda nas economias desenvolvidas, que apostam em combustível renovável, a mudança da matriz vai demorar para chegar às nações subdesenvolvidas e ainda haverá um mercado crescente por décadas.
(Foto: Robert Bye/Unsplash)
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