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Quais pontos um bom gestor precisa aprimorar diante do novo mundo dos negócios?

29/05/2025

estadão

Teletrabalho, inteligência artificial, convívio com pessoas de diferentes gerações e outros aspectos podem impor desafios a gestores — por vezes formados para uma realidade bem distinta da atual (e futura). Consultorias especializadas e estudos acadêmicos têm apontado uma realidade de um “novo mundo dos negócios”, do pós-pandemia e da transformação digital acelerada.

Nesse cenário, universidades e instituições segmentadas têm lançado e atualizado cursos de pós-graduação lato sensu na área de gestão — com a inclusão de tecnologia, inteligência emocional e outros temas na grade dos cursos. Além disso, opções focadas em nichos específicos ganharam espaço, tanto nas especializações quanto nos MBAs.

Estudos apontam como gestores devem mudar

Relatórios variados sobre o “futuro do trabalho” e sobre carências na formação de gestores têm sido lançados no último ano. O cenário é tratado como mais complexo e em acelerada transformação.

Publicado pela Harvard Business Publishing, o Estudo Global de Desenvolvimento de Liderança 2024 aponta, por exemplo, quatro pontos chave a se aprimorar. São eles:

ampliação no conjunto de habilidades;
desafio aos paradigmas e padrões;
gerenciamento de polaridades e paradoxos;
potencialização das pessoas.

“Liderança se tornou uma ocupação complexa e especializada, não muito diferente de cargos em medicina, finanças, ensino ou direito. No entanto, os profissionais não são tradicionalmente equipados com níveis semelhantes de educação dedicada e desenvolvimento profissional”, avalia. O estudo ouviu 1,1 mil profissionais de liderança e desenvolvimento.

Em paralelo, consultorias internacionais lançaram estudos sobre as diferentes gerações hoje no mercado de trabalho e novas realidades do trabalho. A Pesquisa sobre a Geração Z e a Geração Y, de 2025, da Deloitte aponta que os profissionais mais jovens rejeitam algumas regras tradicionais e que consideram antiquadas e, embora não deixem de ter ambições, muitas vezes não anseiam por chegar a posições de liderança.

Já recente relatório da McKinsey focado em Europa e Estados Unidos identificou a necessidade não apenas de aperfeiçoamento de conhecimento tecnológico, mas também de pensamento crítico e criatividade. Apontamento semelhante está no Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial, que indica o pensamento analítico como a mais procurada habilidade profissional.

Ao Estadão, o gerente da multinacional de recrutamento Robert Half, Alexandre Mendonça aponta que alguns dos principais pilares buscados para gestores fortes são habilidades em gestão de pessoas, conhecimentos em processos e habilidade estratégica, o que inclui familiaridade com ferramentas tecnológicas.

Em gestão de pessoas, destaca a importância a adaptabilidade, a comunicação, a liderança e o saber lidar com diferentes. “Os processos de gestão atualmente tem necessidade de adaptar com as diferentes gerações (baby boomer, geração x, millennial e geração z) que estão no mercado atualmente”, indica.

Especialização e MBA em gestão

Nas modalidades à distância, presencial ou semipresencial, mais de 50 mil cursos de pós-graduação lato sensu em gestão são credenciados no Brasil pelo Ministério da Educação (MEC). Nem todos estão, contudo, turmas abertas ou em andamento.

Essa oferta inclui opções mais gerais e outras focadas em segmentos específicos da gestão — como de pessoas, tributária e pública. Há até pós ainda mais nichadas, voltadas a segmentos de mercado, como saúde, energia e educação, por exemplo. Além disso, algumas instituições oferecem também turmas fechadas, contratadas por organizações.

Esse cenário se relaciona aos desafios citados nos estudos internacionais. Em relação a tecnologias, por exemplo, o diretor dos cursos de MBA da Fiap, Rafael Ronqui, vê as novas opções de cursos de gestão nessa área como um “movimento natural do mercado”, ainda mais em São Paulo, mas não só.

“As pessoas entendem que, vindo fazer MBA, vão conseguir respirar melhor as tendências atuais de mercado e se adaptar mais facilmente às novas tecnologias. Hoje é a IA generativa, amanhã pode ser outra coisa”, explica. É o aprender não só para o que está rolando agora, mas para o que está por vir”, resume.

Professor do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Flávio Osten avalia que, hoje, os estudantes buscam cursos mais especializados. “Há 20 anos, a gente tinha educação executiva de MBA em que se aprendia gestão de um jeito amplo, com marketing, finanças, RH, operações e assim por diante. Hoje, mudou bastante, desse perfil mais generalista para algo mais pontual”, analisa.

Por isso, a instituição optou pela criação de dezenas de cursos que envolvem gestão, “em vez de ficar dentro de um círculo menor”, diz Osten. Somente na última semana, a PUCPR lançou quatro novos MBAs, todos com inteligência artificial incluída no currículo.

Segundo ele, enquanto um curso mais geral tratará de temas como liderança, marketing etc. Já a opção mais especialização terá mais subdivisões muito mais específicas.

Nesse cenário, o professor aponta que alguns desafios atuais têm sido incorporados nos currículos, por serem hoje cobrados pelo mercado, como inteligência artificial. “Afeta RH, afeta processos estratégicos”, explica. “Estamos preparando os estudantes para olhar para esses dados (analisados pela IA) e tomar boas decisões. Isso a IA não sabe fazer: alocar recursos, pessoas”, justifica.

Outro ponto é a questão geracional. Ele cita, como exemplo, que disciplinas de liderança e gestão de pessoas estão entre as mais populares entre as eletivas de todos os cursos de pós-graduação da universidade — mesmo nas especializações de outras áreas.

“Demonstra que o choque geracional está acontecendo no mercado. Mesmo um profissional de finanças que busca além do conhecimento técnico também está buscando entender como liderar nesse contexto”, exemplifica. “O conflito geracional não é novo, mas, agora, essa questão da geração z, que tem anseios diferentes: como a questão de mobilidade, de trabalhar remotamente, de não aceitar tantas horas extras, de o trabalho não ser um valor”, completa.

O professor explica que esses cursos são procurados basicamente por dois perfis de alunos: profissionais de outras áreas que estão ou buscam funções de gestão (em novos cargos ou ao empreender) e, também, aqueles que querem aperfeiçoar uma base específica, como marketing, auditoria etc.

O administrador Ailton da Penha Isidorio resolveu ingressar em uma pós-graduação cerca de sete anos após se formar em processos gerenciais, por exemplo. “Continuei realizando cursos rápidos (após a graduação), mas senti a necessidade de aprofundar meus conhecimentos em alguns temas”, explica.

A decisão pela especialização de Administração de Negócios e Gestão da Inovação Empresarial na PUCPR ocorreu após assumir uma nova posição na empresa em que trabalha. Ele concluiu o curso em maio e, na sequência, ingressou em mais uma pós, de Liderança na Transformação de Negócios.

“Me motivei a continuar estudando: desejo melhorar meus conhecimentos. Atuo na área de transporte, no setor financeiro, e, hoje, meu desafio é ajudar a empresa a manter a saúde financeira”, justifica.

(Imagem: Freepik)

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