Por Caio Gottlieb
Vindos de todos os continentes, os migrantes e refugiados que desembarcam no Brasil, obrigados a deixar tudo para trás, a terra onde nasceram, seus lares, família e carreira profissional, em função de guerras, perseguições religiosas e desastres naturais, trazem no coração o sonho de começar uma vida nova e promissora, mas representam um grande desafio para as empresas dispostas a abrigá-los em seus quadros funcionais.
O problema é que não se trata apenas de dar um emprego. Vai muito além disso. Exige um enorme esforço de compreensão cultural envolvendo inúmeros aspectos, onde o idioma é só a primeira de muitas barreiras a serem transpostas.
É nesse contexto que a Fiasul, maior fábrica de fios de algodão e de poliéster do Paraná e uma das dez maiores do país, vem se destacando por seu exemplo inspirador na adoção de políticas que fazem dela um lugar acolhedor e respeitoso para essa gente que, apesar de tantas provações, não perdeu a esperança.
Fundada há quase 30 anos em Toledo, empregando mais de 1.000 colaboradores, a Fiasul virou uma referência nacional na contratação de migrantes e refugiados.
Seus códigos de conduta para esse procedimento chamaram a atenção de agências da Organização das Nações Unidas, que enviaram representantes para conferir de perto o clima de cooperação, generosidade e pertencimento existente no ambiente de trabalho.
Por sinal, a experiência recente e bem-sucedida de contratar um grupo de afegãos levou o Ministério do Trabalho a reconhecer as boas práticas da empresa na seleção de mão-de-obra estrangeira e incluí-la no mapa da ONU sobre empregabilidade.
Aliás, cabe ressaltar que a história da Fiasul com migrantes já vem de tempos. A primeira contratação se deu ainda em 2010 e, de lá para cá, a companhia, literalmente, abriu suas portas para o mundo.
Nessa bonita caminhada, a empresa já registrou em sua folha de salários homens e mulheres oriundos de mais de 15 países.
CEO da Fiasul, o empresário Rainer Zielasko compartilha com seus sócios o entendimento de que, para além do mero preenchimento de vagas nos diferentes setores da indústria, a empregabilidade de migrantes e refugiados tornou-se um propósito institucional para a construção de um mundo socialmente mais justo e igualitário.
Ele lembra que, para a consolidação desse posicionamento da empresa, muitos obstáculos tiveram que ser superados, como, por exemplo, a língua, os costumes e até mesmo a forma, o preparo e o sabor da comida servida no refeitório.
Cada uma dessas adaptações foi, por si só, gerando mais empatia e integração.
Para efetivar as contratações, a Fiasul atua em parceria com a Embaixada Solidária, uma organização da sociedade civil também sediada em Toledo, que atende migrantes e refugiados de mais de 30 países nos municípios da região Oeste do Estado.
Pode-se dizer, ainda, que se a Fiasul é uma empresa que tem alma, é porque também tem memória, pois Rainer conhece muito bem a trajetória de um migrante em busca de oportunidade.
Seu próprio pai, logo após o término da Segunda Guerra, zarpou junto com centenas de alemães no navio Flandria rumo ao Brasil.
Já a bordo, o colar de pérolas que a avó de Rainer trazia no pescoço teve que ser trocado por um punhado de pães, que foi o alimento da família durante toda a viagem.
Com muito trabalho nas décadas que se seguiram, eles, enfim, venceram no país que os acolheu.
É o que a Fiasul espera também propiciar àqueles que hoje batem à sua porta em busca de uma chance para recomeçar uma nova história de vida.
Caio Gottlieb é jornalista, publicitário e editor do blog caiogottlieb.jor.br