A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas de 8 de Janeiro deve abrir um novo flanco de investigação que mira ainda mais o círculo imediato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A relatora Eliziane Gama (PSD-MA) quer pedir quebras de sigilo do general Mauro Lourana Cid, do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. Os governista também querem aprovar nesta terça-feira, 22, a solicitação de relatórios de inteligência financeira (RIFS) de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Veja quais informações a relatora quer obter de cada suspeito:
General Mauro Lourena Cid – sigilo bancário e relatório de inteligência financeira do Coaf
Presidente do PL, Valdemar Costa Neto – sigilo telefônico
Deputada Carla Zambelli – relatório de inteligência financeira do Coaf e sigilo sigilo telefônico
Ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira – sigilo telefônico
Eliziane se reuniu na manhã desta terça-feira, 22, com integrantes do colegiado para costurar os acordos que podem viabilizar a aprovação desses requerimentos. As negociações, contudo, terminaram sem um entendimento entre a base governista e a oposição.
O governo quer aproveitar o cerco a Bolsonaro para obter informações sobre a sua movimentação financeira nos últimos anos. Esses requerimentos foram incluídos na pauta de deliberação desta terça-feira, o que provocou a revolta da oposição. A tropa de choque bolsonarista diz aceitar a produção dos RIFS pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), desde que sejam aprovadas outros pedidos de informação que, segundo eles, também não têm relação com o objeto da CPMI, como a quebra de sigilo da primeira-dama Janja.
Os oposicionistas ainda acusam Eliziane de obstruir as suas pautas. Eles cobram a aprovação das quebras de sigilo telefônico e telemático do comandante da Força Nacional e do hacker Walter Delgatti Netto, de 2019 a 2023.
O impasse fez com que o presidente da CPMI, Arthur Maia (União Brasil-BA), adiasse mais uma vez o início da sessão deliberativa, agora prevista para as 14h. Antes do início da votação, Maia vai se reunir às 12h com alguns parlamentares governistas e oposicionistas para bater o martelo sobre a pauta desta terça-feira O governo tem maioria para aprovar os requerimentos que desejar, mas o presidente do colegiado tem feito costuras para não deixar os bolsonaristas completamente desprestigiados. Caso não haja acordo, é possível que as pautas do governo sequer sejam pautadas.
Os pedidos de quebra de sigilo apresentados pela relatora estão amparados em depoimentos recentes prestados à CPMI, como o do hacker Walter Delgatti Netto, que acusou Bolsonaro de oferecer um indulto a ele em troca de invadir o sistema das urnas eletrônicas. De acordo com a declaração de Delgatti, os participantes da trama golpista eram justamente Zambelli, Valdemar e Nogueira, além do ex-presidente.
A quebra do sigilo bancário do general Cid, que é pai do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, figura numa outra frente de investigação que apura se o esquema de desvios de presentes do acervo pessoal da Presidência foi usado para financiar os atos golpistas de 8 de Janeiro e a estadia de Bolsonaro nos Estados Unidos no penúltimo dia de seu mandato.
As quebras de sigilo são tidas como peças fundamentais para basear as próximas convocações da CPMI. Os eventos recentes envolvendo Bolsonaro fizeram com que os integrantes do colegiado passassem a discutir de forma mais ativa a viabilidade de sua convocação. Para isso, no entanto, há a compreensão de que é preciso fechar o cerco contra aliados do ex-presidente e obter mais informações financeiras para confrontá-lo com dados.
Leia outras notícias no HojePR.