O escritor e jornalista João do Rio, pseudônimo mais famoso de Paulo Barreto (1881-1921), será o autor homenageado da 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que ocorre entre os dias 9 e 13 de outubro.
Segundo ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornou-se muito conhecido pelas crônicas sobre o cotidiano do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu, fez carreira e morreu. No entanto, também escreveu romances, ensaios, contos e peças de teatro.
Como repórter, foi um dos pioneiros do jornalismo literário no Brasil, misturando reportagem, literatura, ficção e fato. Em comunicado à imprensa, a organização da Flip afirmou que o estilo de João do Rio mudou a forma de fazer jornalismo e destacou que ele é considerado o fundador da crônica moderna.
“Muito se diz que a crônica, como ela se deu no Brasil, é um gênero totalmente brasileiro. Vem um pouco da tradição do ensaio, claro, mas aqui ganhou pitadas de humor, de observação sagaz. João do Rio, como um dos pioneiros, foi além: registrou a história de uma cidade que se transformava, e não é exagero dizer que ele fez uma etnografia no início do século”, disse a curadora Ana Lima Cecilio em nota.
Os trabalhos do escritor são hoje considerados como algumas das primeiras análises antropológicas e sociológicas do Brasil dos séculos 19 e 20. “Ele desempenhou um papel crucial ao documentar a vida urbana do Rio de Janeiro com uma perspectiva única e detalhada num momento em que a então capital federal se expandia de maneira desgovernada”, explicou Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip.
João do Rio era frequentador de bares e cafés do centro da capital fluminense, habitual caminhante de suas ruas, um verdadeiro flâneur. Conquistou sua vaga na ABL com apenas 29 anos, sucedendo o poeta Guimarães Passos. Também usou pseudônimos como Claude, Caran d’Ache, Joe e José Antônio José.
A homenagem da Flip é também uma tentativa de resgatar a memória do escritor, que foi perdida com o passar do tempo. Em 2021, uma reportagem do Estadão destacou como o centenário da morte de João do Rio foi ignorado pela cidade que o consagrou. No mesmo ano, o escritor e biógrafo Ruy Castro criticou o esquecimento do jornalista na literatura brasileira.
“Ainda que tenha morrido famoso – seu enterro arrastou multidões -, permaneceu quase esquecido por mais de um século. A homenagem da Flip quer destacar essas contradições, justamente por ajudarem a explicar o Brasil”, afirmou Ana Lima.
Cinco livros de João do Rio
– A alma encantadora das ruas (Companhia de Bolso, 256 págs.; R$40,69);
– Vida vertiginosa (José Olympio, 336 págs.; R$40);
– Dentro da Noite (Brasiliaris, 158 págs.; R$42,38);
– As religiões no Rio (José Olympio, 272 págs.; R$35,11);
– João do Rio: um dândi na Cafelândia (Boitempo, 232 págs.; R$ 58).
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(Foto: Reprodução)