Em artigo publicado no Valor Econômico, Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do IEE/USP, reflete sobre os desafios da transição do mundo para a economia verde e sugere caminhos. No texto, ele relata passagens do livro How the World Really Works (Como o Mundo Realmente Funciona, em tradução livre), escrito por Vaclav Smil, que é professor emérito da Universidade de Manitoba no Canadá. Segundo informa Abramovay, o autor alerta que “não há qualquer chance de as metas de descarbonização da economia global serem atingidas nos prazos em que os acordos internacionais as estabelecem, ou seja 2030 ou 2050”. “Seu capítulo final oferece argumentos que mostram a superficialidade das previsões otimistas quanto ao futuro”, escreve o acadêmico brasileiro.
Transição difícil
Segundo Ricardo Abramovay, o livro reúne uma “espantosa quantidade de informações sobre o desafio da transição para que se descarbonize mais de 80% do uso final de energia pelas indústrias, pelos domicílios, pelos transportes, pelo comércio e na agricultura” e considera que a mudança é “muito mais difícil do que foi a transição do uso da energia humana, animal e da biomassa para a energia fóssil em larga escala”. Smil tem 40 livros e mais de 500 artigos sobre alimentação, energia, padrões de consumo e inúmeros outros temas decisivos para o desenvolvimento sustentável.
Cidade zero emissões
A cidade de Ithaca, que fica no estado americano de Nova York e é a sede da conhecida Universidade de Cornell, vai investir US$ 100 milhões para financiar um plano local de descarbonização até 2030. A ideia é neutralizar as emissões dos edifícios e residências onde vivem 30 mil pessoas. Para isso, ganhou o reforço da própria comunidade universitária. Dois professores da faculdade de arquitetura, Felix Heisel e Timur Dogan, colocaram à disposição do município softwares que estão fazendo um mapa virtual da comunidade. Os programas ajudam a quantificar o consumo de energia e a pegada de carbono das edificações.
Escala e custos reduzidos
A novidade em Ithaca é que o modelo criado faz um agrupamento de prédios com as mesmas características, utilizando um sistema de cores que classifica o conjunto das construções. Até hoje, a tecnologia existente permitia avaliar apenas um prédio de cada vez. Com a evolução, os projetos de redução de emissões ou de compensações podem ser realizados em escala maior, reduzindo investimentos. A tecnologia de machine learning estima os custos de adaptação para cada construção.
Biocombustível pode esperar
A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) emitiu uma nota criticando o decreto federal publicado na semana passada que estendeu para 2023 o prazo para que distribuidoras de combustíveis comprovem o cumprimento de metas da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), instituída em 2017 pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para estimular a produção nacional.
Andou para trás
“O país andou para trás neste ano, com a redução da mistura para 10% (B10), quando já deveria estar em B14, e convive com o enfraquecimento de uma agenda que induz eficiência e valoriza os investimentos em tecnologia limpa”, diz a crítica da Aprobio. O governo federal coloca a decisão na conta da instabilidade do mercado global de petróleo e do Estado de Emergência aprovado pelo Congresso Nacional.
Crédito sustentável
Em julho, a Petrobras captou pela primeira vez um financiamento internacional atrelado aos compromissos da companhia com a sustentabilidade. O crédito de US$ 1,25 bilhão foi tomado junto ao Banco da China, Banco da Nova Escócia e MUFG (Tokio-Mitsubishi). A estatal informou que conseguiu custos competitivos para a tomada do dinheiro e declarou que a iniciativa reforça o foco na descarbonização de suas operações. Segundo a empresa, as metas apresentadas estão baseadas nos indicadores de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na exploração, produção e refino de petróleo.
Mais hidrogênio verde I
A Unigel, uma das maiores empresas químicas da América Latina e a maior produtora nacional de fertilizantes nitrogenados, anunciou a construção de uma Fábrica de Hidrogênio Verde no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. O investimento é de US$ 120 milhões e a empresa espera produzir já a partir de 2023 10 mil toneladas por ano de hidrogênio verde, que poderá ser convertido em 60 mil toneladas de amônia verde.
Mais hidrogênio verde II
Há projetos semelhantes em desenvolvimento nos portos de Açu, no Rio de Janeiro, e de Pecém, no Ceará. A Qair Brasil, por exemplo, informa que vai investir US$ 6,95 bilhões em uma planta no complexo portuário cearense, com capacidade para produzir 2.240 MW de hidrogênio verde. Para alcançar este volume, a companhia dividiu o empreendimento em quatro etapas, começando em 2025 e terminando em 2031. O investimento no terminal carioca tem capital da Shell, que estima colocar entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões numa planta-piloto.
Energia solar em alta
As usinas e painéis solares são a terceira maior fonte de geração de energia do Brasil. A matriz alcançou 16,4 gigawatts de potência instalada, superando a capacidade das termelétricas. O sol responde por 8,1% da matriz brasileira, atrás das fontes hídrica (53,9%) e eólica (10,8%), segundo levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Foto: Towfiqu Barbhuiya/Unsplash