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‘Sweet Tooth’ mostra como os humanos sobrevivem a uma praga ecológica na Terra

06/05/2023

Produzida pelo ator Robert Downey Jr., com base na HQ homônima, a série Sweet Tooth foi aprovada na competitiva prova de resistência da audiência da Netflix e garantiu uma segunda temporada, que começou na quinta-feira (27) investindo pesado no componente que garantiu seu sucesso: o discurso ecológico.

 

“Essa história é um alerta acerca da urgência de se aprender a conviver em harmonia com a natureza”, diz Nonso Anozie, um carismático ator inglês de ancestrais nigerianos, conhecido pela série Game of Thrones e que, do alto de seu 1,98m, virou um dos destaques de Sweet Tooth no papel de Jepperd, figura boa de briga, infalível na mira, perplexa diante da devastação da Terra – e que, nos novos episódios, vai enfrentar seus demônios.

 

Em um diálogo com os gibis do canadense Jeff Lemire, publicados nos EUA de 2009 a 2013 via DC Comics, a versão distópica da Terra na qual crianças nascem com feições animais em decorrência de uma praga está a um passo de uma segunda onda dessa pandemia, chamada Flagelo, ameaçando um extermínio geral.

 

Em meio a isso, o protagonista da trama, o menino-alce Gus (Christian Convery), foi capturado ao lado de um grupo de meninas e meninos igualmente híbridos, com traços de criança e de bichos diversos. Eles são mantidos como prisioneiros pelo General Abbot (Neil Sandilands) e sua horda, denominada Últimos Homens. Em um traço de vilania bem definido, porém humanizado, Abbott obriga Gus a virar cobaia de experimentos. Isso até Jepper, guardião do menino, conseguir alcançar o guri. O problema é que, nessa nova leva de episódios, a parte mais nebulosa do passado de Jepperd vem à tona.

 

“Durante a pandemia da covid-19, o mundo buscou meios de se unir ao perceber o que a gente fez deste planeta. O que Jeff Lemire trouxe para uma estrutura já conhecida (a ficção apocalíptica) foi a possibilidade de continuar essa discussão a partir de novos elementos, como estamos fazendo nesta segunda temporada”, explica Jim Mickle, produtor executivo, roteirista e diretor de Sweet Tooth, em entrevista ao Estadão. “Imagina levar elementos daqueles filmes de grandes golpes ou mesmo de Prison Break ao universo de Sweet Tooth? É o que a gente tenta fazer nessa nova safra.”

 

Cura

Procurando consolidar seu poder ao encontrar uma cura para os efeitos do Flagelo, Abbot usa Gus como argamassa para experimentos do Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar), cientista que corre contra o tempo para salvar Rani (Aliza Vellani), sua mulher infectada. Gus pode ser a chave para decifrar o que causou o Grande Esfacelamento, evento no qual o planeta ruiu, atingido por uma doença que transforma geneticamente a humanidade.

 

Fora da reserva, Jepperd (Nonso Anozie) e uma jovem com ares heroicos (mas também cheia de mistérios) chamada Aimee Eden (Dania Ramirez) se unem para libertar os híbridos. “Estamos no trilho certo ao partir de uma celebração das diferenças e falar de amor na forma de uma nova concepção de família, que é o que se forma entre os personagens”, explica Dania. “A série abriu uma forte discussão sobre o que há de relevante no mundo.”

 

Numa interseção entre o bem e o mal capaz de driblar maniqueísmos clássicos, Adeel Akhtar faz uma reflexão sobre o lugar de Sweet Tooth na tradição das narrativas distópicas, cada vez mais pop entre séries, como The Last of Us. “Distopias são uma crítica à modernidade que nos ensinam o que é necessário para preservar o planeta”, diz.

 

Aventura

Em meio a revelações sobre a mãe de Gus, Sweet Tooth narra o processo de amadurecimento do menino em escolhas para preservar as relações que criou com pré-adolescentes e com Jepperd. Alternando situações sombrias, assustadores, com momentos de fino lirismo, a série se desenha como uma aventura, tendo a amizade como eixo. Lemire sempre mostra Gus comendo chocolates e outras guloseimas, justificando o apelido Dente Doce. Mas deu ao menino uma dimensão de metáfora, traduzindo a inocência perdida pela predação civilizatória.

 

“Existem situações de trevas que nos cercam. As minhas histórias passam por elas para falar de perseverança”, disse Lemire ao Estadão, quando a série estreou, em 2021.

 

Ao pensar no legado do artista gráfico, Mickle diz encontrar em HQs um conteúdo mais ambicioso como o dele, que serve bem ao formato dos streamings.

 

“Logo que o quadrinho saiu, li e pensei que não caberia num filme. Mas o formato das séries, mesmo sem ser um show de grande orçamento, permite que a gente invista numa narrativa ampla”, disse Mickle, que preservou um astro veterano no posto de narrador da série: James Brolin. Com seu vozeirão, o ator de 82 anos ajuda a base de assinantes da Netflix a se aclimatar naquele clima de tensão frente a um apocalipse iminente.

 

“Quando a produtora Susan Downey e o Robert me procuraram e me chamaram pra almoçar com um convite para a série, nem havia espaço pra que eu propusesse uma composição, pois eles foram diretos: ‘James, a gente quer essa sua voz aí”, brincou Brolin, que é casado com a atriz e cantora Barbra Streisand desde 1998. “Essa série lida com a sustentabilidade do mundo”

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(Foto: Divulgação)

(Estadão Conteúdo)

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