Boa parte dos supermercados ainda tem prateleiras tímidas quando se fala de cachaça. Falta de orgulho do destilado nacional? Sem entrar na psicologia mercadológica, apontamos para o que costuma motivar sua compra: o preparo de uma boa caipirinha.
Para tal finalidade, a recomendação é uma cachaça que faça bonito sem se sobrepor. Nesse sentido, como se fosse a tequila para uma margarita ou o rum para um refrescante mojito, apostamos no estilo prata.
O que é cachaça?
Pinga, aguardente, caninha, marvada, branquinha. Chame a cachaça como quiser. Trata-se do caldo da cana que, uma vez fermentado, converte o açúcar em álcool.
Filtrada, a garapa é destilada, ou seja, aquecida em uma serpentina para separar quimicamente elementos presentes nela. Nesse processo, o álcool evaporado se condensa.
A primeira parte do líquido (a “cabeça”) é descartada. A do meio (o “coração”, que corresponde a uns 80% do todo) é reservada para ser engarrafada ou envelhecer em barris. Ah, o finzinho, pobre etilicamente falando, também costuma ser desprezado.
Veja qual a melhor cachaça para caipirinha
Com que cachaça se faz uma caipirinha?
Como um rum para um mojito, na coquetelaria clássica, o ideal para o drink nacional é selecionar uma cachaça não envelhecida, límpida, com um sabor intenso e puro de cana. Seria a do tipo prata, transparente. No mais das vezes, a mais barata.
Aqui no Brasil, ela pode aparecer como branca ou cristalina. No entanto, para ter um recorte mais preciso, Paladar optou pelas que estampam prata claramente no rótulo.
Como foi feito o teste?
Paladar Testou é uma iniciativa 100% editorial. Em todas as provas realizadas por Paladar, a reportagem faz um levantamento das marcas disponíveis no mercado. Nos dias anteriores ao teste, as amostras são compradas* em grandes redes de supermercado e empórios da capital paulista, de modo que as marcas não sabem que seus produtos serão submetidos a uma degustação às cegas. O júri tampouco sabe o que irá enfrentar.
No caso das cachaças para caipirinha, Paladar convocou cinco experts. De trás do balcão esteve Robson Bonfim, head bartender do Il Covo, que fatiava limões taiti à la minute para cada uma das 10 marcas de pinga que seria avaliada.
Do outro lado do bar, as barwomen Stephanie Marinkovic (do novo e promissor Fifty Fifty Cocktail Bar) e Kyoko Sato (do incensado Exímia), o expert em cachaça Jean Ponce (um dos maiores e mais premiados bartenders do país, que completa 9 anos à frente de seu Guarita) e Michel Berndt (CEO da TUAQ Ice e criador de conteúdo do @mix_o_logic) degustavam as caipirinhas e os 10 exemplares de caninha prata pura, garantindo uma percepção ainda mais precisa de aromas e sabores.
A saber: a grande prova etílica foi realizada em plena tarde de segunda-feira, no Guarita, na Vila Madalena. Veja aqui o resultado do teste às cegas.
* os valores dos produtos mencionados a seguir são de compras feitas entre os dias 23 e 28 de abril de 2025, data do teste
As três melhores cachaças para caipirinha do Brasil
Tiê
Equilibrada, limpa, cristalina e com teor alcoólico tão agradável que foi considerada perfeita para a caipirinha tradicional.
Ouro 1
Uma cachaça pura, bem-feita, perfumada e com bom equilíbrio
Cabaré
Com corpo interessante e personalidade, propicia uma caipirinha mais aveludada
As 10 marcas avaliadas pelo júri em ordem alfabética
1922 – Sem presença de cana-de-açúcar, perde em aroma e sabor e é, portanto, “fraca” (700 ml, R$ 68, Santa Luzia)
Cabaré – Certa doçura e volume em boca agradaram aos especialistas ( 700 ml, R$ 33,90, Mambo)
Cachaça da Tulha – Embora venha classificada como prata, ela passa por jequitibá. Resultado: não é transparente e deixa a desejar na pureza (750 ml, R$ 62, Santa Luzia)
Margô – Tem mais aroma do que corpo, picância interessante e álcool ligeiro (o que não é um elogio). Júri crê que numa caipirinha de caju performaria melhor (500 ml, R$ 81, Santa Luzia)
Ouro 1 – Com teor alcoólico correto e belo perfil aromático, não só na caipirinha tradicional, ela também faria bonito em outros clássicos da coquetelaria brasileira como o macunaíma e o rabo de galo (750 ml, R$ 69, Santa Luzia)
Pindorama – Diluída e açucarada, provocou comentários como “maldosa”, “para derrubar no carnaval” (750 ml, R$ 146, Santa Luzia)
Saliníssima – Docinha, parece não ter álcool, o que lhe rouba profundidade. Um produto leve, “pensado para o público brasileiro” (670 ml, R$ 37,49, Pão de Açúcar)
Tiê – Com menos açúcar e mais álcool, “superou expectativas” e foi eleita a predileta por unanimidade (700 ml, R$ 63, Santa Luzia)
Weber Haus – O júri torceu o nariz: faltou corpo, aroma e complexidade. Para um dos jurados, “faltou vontade” (700 ml, R$ 71, Santa Luzia)
Ypióca – Os especialistas questionaram a qualidade do álcool e cogitaram ser a Velho Barreiro, por uma “memória adolescência” (960 ml, R$ 44,98, Mambo)
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