Ah, o cinema dos anos 1960. Uma época mágica para os amantes da sétima arte, com grandes diretores e atores, produções espetaculares, clima de experimentação total, avanços dos efeitos especiais e, como a Guerra Fria comia solta, também uma época de muita paranoia. Assim se criou o cenário perfeito para a explosão das ficções científicas, com suas sagas intermináveis e grande apelo popular. Para visitar este gênero tão querido, nada melhor que apelar para Planeta dos Macacos (1968). E ele tem de tudo, desde o fim da civilização humana e naves espaciais até viagem no tempo e, obviamente, macacos [risos descontrolados da platéia].
Baseado no livro de mesmo nome de Pierre Boulle, publicado em 63, o filme acompanha o astronauta estadunidense George Taylor (Charlton Heston), que pousa em um planeta desconhecido em um futuro distante após um acidente com sua nave. Nesaa terra desértica, os macacos são seres civilizados e escravizam os humanos, que perderam a capacidade de falar. Para escapar de uma vida de servidão, Taylor precisa lutar por sua liberdade, com a ajuda do casal de cientistas chimpanzés Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall).
A premissa pode até parecer simples, mas os elementos são trabalhados em cena de um jeito que fazem a sua cabeça explodir. Cada personagem representa uma ideia naquele novo universo e desempenha uma função específica na história, deixando tudo bem amarradinho. Construindo uma crítica sobre a sociedade humana, com suas guerras, preconceitos e crenças sem sentido, Planeta dos Macacos também faz o espectador pensar sobre a maneira terrível como tratamos os animais não-humanos.
O roteiro do filme concerta o desfecho horroroso do livro (coisa que o Tim Burton fez o “favor” de desconcertar quando dirigiu sua versão de Planeta dos Macacos em 2001) , e consegue criar uma das maiores cenas finais da história do cinema. Inclusive, não faltaram continuações malucas para o longa. Ao logo de quase 60 anos, foram quatro filmes lançados em sequência, uma série de TV animada e uma live action, a produção de Tim Burton (estrelada por Mark Wahlberg e vencedora do Framboesa de Ouro) e a série de quatro filmes reboot que vão de Planeta dos Macacos: A Origem (2011) e segue até hoje com Planeta dos Macacos: O Reinado (2024).
Além da narrativa surpreendente, cheia de reviravoltas e revelações, Planeta dos Macacos marcou a história do cinema com suas inovações técnicas brilhantes. Apesar dos cenários e roupas simples, quando o assunto é maquiagem, não dá para poupar elogios. O maquiador responsável, John Chambers, recebeu um Oscar honorário por seu trabalho, em uma época em que a categoria sequer existia. Para cada sessão de filmagens, os atores passavam mais de 3h para a montagem, mais 1h para retirar as próteses. Aliás, só nessa brincadeira, lá se foram 17% do orçamento do filme.
Apesar de conter as marcas do tempo em que foi produzido, como a forma terrível como o filme trata seus personagens negros e mulheres, o longa oferece boas percepções sobre os problemas enfrentados pela sociedade, como a desigualdade e a interferência de religião na ciência, o que mantém a narrativa atemporal. Para os fãs de ficção-científica, com certeza é um prato cheio. E apesar de que nenhum filme da saga chegue à grandiosidade do primeiro, é divertido se perder nas linhas do tempo e nas aventuras dos macacos mais espertos do cinema em uma maratona. Menos o filme do Tim Burton, esse aí está por sua conta em risco.
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