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28/04/2024



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Única Coisa

 Única Coisa

Nas terceiras quintas-feiras de cada mês, a coluna Frente Fria tem uma pauta diversificada. Posso falar de filmes ou peças de teatro que me emocionaram. Ou de eventos culturais que acontecerão em breve em Curitiba. É o caso do tema de hoje: Única Coisa.

Trata-se de um grande trabalho cultural que resultou numa série de videopoemas, feitos há 25 anos. No dia 26 de agosto, na Galeria 373, o trio que gestou a obra – Amarildo Anzolin, Lúcio Machado e Marcelo Borges – recebeu convidados como Roberto Prado, Luiz Felipe Leprevost, Rodrigo Barros, Thadeu Wojciechowski, Luiz Ferreira, eu mesmo, entre outros, para celebrar a data, com direito a exibição dos vídeos originais, leitura de poemas e sons e noises por Edith Camargo, numa noite meio mágica aos pés de uma grande fogueira: a ilha de fogo.

Para quem não teve a oportunidade de participar há uma segunda chance no dia 20 de setembro no Wonka Bar, templo da poesia alternativa de Curitiba.

O poeta multimídia Amarildo Anzolin concedeu um longo depoimento à Frente Fria sobre as dores e prazeres do parto da Única Coisa:

“Ia 1997. Enquanto morria a princesa Diana e Jobs voltava à Apple, comecei a frequentar o Peixe-Cachorro, templo de experiências e experimentações únicas. Rápido fiquei parceiro de todos de alguma forma. Jahir Eleutério, Camarão, Lique, sobretudo. Com Lúcio Machado e Marcelo Borges, iniciei um projeto ambicioso pra época. Ainda o seria. Ainda o é. Vinha da publicação de dois livrinhos de poesia às próprias custas. Mas queria mais. Em pouco tempo produzimos de forma caseira (processo que em parte migrou pro formato final do trabalho, em que divide espaço e procedimentos de linguagem high tech), peças sonoras sequenciadas eletronicamente por Lúcio Machado, que abraçavam o arsenal imagético de Marcelo Borges, que, por sua vez, se entrelaçava com a palavra: falada e cantada. As faixas começaram a ganhar corpo e precisávamos de grana pra viabilizar a coisa toda. Enquanto aguardávamos a aprovação do projeto na Fundação Cultural de Curitiba, fazíamos apresentações precárias e barulhentas por locais como 92 Graus, Teatro do Paiol, entre outros, com rica aprendizagem e boa resposta de público e crítica, ainda que sentíssemos que causávamos algum choque e bastante estranheza. Quando saiu a contemplação ao projeto, o que parecia uma solução, foi o início de um calvário. A santíssima trindade, espinha dorsal de Única Coisa, aflorou os ânimos e egos e tudo que resultava de produtivo era fruto de muito esforço e até de certo sacrifício. Eu, Marcelo e Lúcio, cada um de um jeito e com uma medida, queríamos centralizar o peso e a importância da criação, ainda que desde o início fosse cristalino que se tratava de um trabalho de videopoemas, alguns derivando à videoarte, a posteriori. Uma produção inicialmente prevista para um semestre, se arrastou por quase dois anos. Excessos de toda sorte, brigas às vias de fato ou não, dividiram as atenções de um período muito fértil. Em pouquíssimas peças conseguimos trabalhar os três juntos, sendo com Lúcio em raras exceções. Eu e Marcelo, em parte por temperamentos relativamente mais afeitos e próximos, em parte pela demanda ao processo da feitura dos vídeos, acabamos por dividir dezenas e dezenas de dias e madrugadas em infindáveis filmagens e edições. Tudo era muito novo em termos de tecnologia, a “ilha” para as imagens era um robusto computador, alimentado por câmeras e processos mecânicos e artesanais. Lúcio investiu em placas de áudio, alguns instrumentos musicais e forjou um aquário pra gravação nas costas de um guarda-roupa. Tal ousadia ajudou a registrar o áudio de Única Coisa, e também teria sido pivô de sua separação com a esposa à época. Eu trouxe um e outro poema já feito, alguma letra de canção e saí fazendo outros novos, sendo alguns com vistas às possibilidades técnicas disponíveis em termos cinemáticos e de animação. Direta ou indiretamente, cerca de 50 pessoas participaram de alguma maneira da execução. Trabalho finalizado, amizades azedadas e em frangalhos. Além do célebre lançamento na Cinemateca de Curitiba, em outubro de 2.000, pouco nos preocupamos em divulgar, inscrever a obra em festivais, tudo ficando resumido a ações pessoais de cada um, quase sempre sem interesses comuns. Animosidades, inexperiência, imaturidade à parte, o trabalho foi concluído da melhor forma que poderíamos ter feito com o que tínhamos, com o que éramos. Longe de sermos unânimes, gostamos e nos orgulhamos de tê-lo feito. Causa impacto até hoje. Se o VHS, o CD praticamente não são mais tangíveis como mídia, a linguagem barroca e agressiva, lírica e mordaz, clean e hard, bela e suja de Única Coisa ainda encontra pouquíssimos pares pelo país”.

 

 

Fisicamente, Única Coisa é um pacote cultural composto de um livro, um CD e uma fita de VHS! Mas não desanime se já não tiver um videocassete ou um toca CD para ver as obras: entre no Youtube, digite “Única Coisa Amarildo Anzolin” e surgirão diversos videopoemas com temáticas diversas, mas sempre com uma pegada peculiar.

Agora, nada melhor do que curtir uma experiência como esta ao vivo. E, talvez, seja a última chance de ouvir uma trupe dos melhores poetas de Curitiba recitando a Única Coisa na próxima terça-feira (20 de setembro), a partir das 20 horas no Wonka Bar. Aceite o convite do trio e nos encontramos lá!

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