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TITTON-CABECA-COLUNA

O amor

25/02/2025

Embalada pelo beijo, pensei em divagar sobre o amor. Dessas coisas complexas da vida que acontecem por acaso, muitas vezes confundidas com paixão, ou iniciadas por ela. Como saber se é mesmo amor ou outro sentimento travestido? Será que importa? Amor platônico, amor carnal, amor materno ou paterno… amor pelas coisas ou pela natureza, é, de fato, muito complicado! Eros, também denominado Cupido na mitologia romana, parece ter escapado do Olimpo para fazer das suas entre nós, os ingênuos humanos habitantes do planeta Terra.

Ser alado, Eros, o deus do amor e do desejo, era filho de Afrodite deusa da beleza e do amor, que em um relacionamento com Ares, o deus da guerra, gerou o rebento “traquinas”, que era, então, representado por um jovem com arco e flexa e que, a partir do Renascimento, passou a ser representado pelo bebê gordinho que conhecemos como Cupido. Eros sabia inflamar corações. Quando atingida por uma de suas flechas, a vítima não escapava de vívidas paixões. Ele, por sua vez, se casou com Psiquê. Dá para imaginar a união do amor e do desejo com a alma – o sopro da vida? Mas Kronos, o deus do tempo, se encarregou de, literalmente, cortar as asinhas do jovem deus, de forma que poucos seriam os amores que resistiriam à passagem do tempo.

“Psiquê revivida pelo beijjo de Eros” – Antonio Canova – (1755-1822) – mármore – 1,55×1,68m – (1789-1793) Museu do Louvre-Paris.

Já a ciência encontra outras origens para o amor. “Pesquisadores do Centro de Neuroética da Universidade de Oxford concluíram que tanto o amor quanto as drogas inundam o cérebro com dopamina, o que causa uma forte sensação de recompensa, provocando o ciclo vicioso de euforia, desejo, dependência e abstinência”. (National Geographic-Ciência). Muito pouco romântica, essa visão explica alguns comportamentos relacionados ao chamado amor.

“O Tempo (Cronos) cortando as asas do Amor (Eros)”- Pierre Mignard – 1694 óleo – 66x51cm – Museu de Arte de Denver – Colorado.

Nas artes, seja na literatura, na música, ou em outras formas de expressão artísticas, o amor esbanja assunto, nas dores ou alegrias que o sentimento provoca. O ciúme, fruto do medo da perda daquilo que lhe é tão caro, faz do poeta um sofredor cheio de dúvidas. O que sente não parece ser suficiente. Nem as palavras, ou mesmo os beijos, dão paz a esse a quem o Cupido flexou, transformando o sentimento numa doidice!

“Eu gosto de você!

Compreende? Eu tenho por você uma doidice…

Falo falo, nem sei o que,

Mas gosto, gosto de você

Você ouviu bem isso que eu disse?…”

(“Expansões”, da obra Eu e Você, de Paul Géraldy, tradução de Guilherme de Almeira – Companhia Editora Nacional, 1975)

Nesse clima de loucura pelo ser amado e sentimento de perda, os franceses têm sido compositores e intérpretes fantásticos. Várias são as canções que nos transmitem a beleza e o desespero do fim do amor, como “Ne me quitte pas”, interpretada por Jaques Brel, ou o “Hino ao amor”, de Edith Piaf, as canções de Charles Aznavour, as trilhas sonoras de ”Um Homem e uma Mulher”, como “O amor é mais forte que nós”. Já o filme “Jules e Jim” de François Truffaut, fala da impossibilidade de um triangulo amoroso. Mais recentemente, a composição e interpretação de Fredie Mercury e Montserrat Caballé, em Barcelona, 1988, “Como posso seguir”.

“Sem título” – Rogério Dias”- acrílica sobre tela – 80x50cm – (anterior a 2009)

Os amores parecem inspirar mais quando há ruptura, ou medo da perda. Mas há outros amores, como o materno, ou aquele pela natureza, tão em voga nos dias de hoje, que geram obras de inequívoca beleza e encantamento, como as do paranaense Rogério Dias com seus coloridos seres alados.

O amor, seja em quais forem as suas formas, traz vida ao nosso dia-a-dia e agito aos moradores do nosso planeta Terra.

(Ilustração de abertura: “Leda e o Cisne” – Louis Icart (1888-1950) – gravura em metal – 1934 – Placa 62x 37,5 cm – tiragem desconhecida – assinada a lápis – coleção particular.)

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