O ferry boat de Guaratuba é um problema longe de acabar. A falta de respeito com o paranaense registrou mais um capítulo dessa famigerada história nesta quarta-feira (6). Motoristas indignados enviaram vídeos e fotografias para as redações de jornais reclamando das filas e do tempo perdido. De acordo com a empresária Kassia Novochadlo, que usa o serviço rotineiramente, a espera chegou a quase 5 horas para carros e caminhões. Nem os veículos que teriam preferência de passagem, como ambulâncias e viaturas policiais, escaparam da ineficiência da operadora. Para esses, a espera chegou a 1h30, disse a empresária.
O que nem a empresa que opera o serviço, a baiana Internacional Marítima, nem o governo do Estado parecem se importar é o transtorno que a demora em longas filas têm causado ao comércio do Litoral. A empresária Kassia Novochadlo mora em Guaratuba e tem empresa em Matinhos. Ela depende, diariamente, do ferry boat para se deslocar de uma cidade a outra. “Normalmente saio às 20h do meu estabelecimento. Com esse absurdo que está, chego em casa perto das 23h. Tem dias que a vontade é fechar tudo”, disse ela. “Não existe mais serviço de entrega ou de prestação de serviços entre Guaratuba e Matinhos. Não tem como se comprometer com cliente do outro lado da balsa, porque não se sabe quanto tempo levará para chegar”, completou a empresária em entrevista ao G1.
Os constantes problemas do ferry boat de Guaratuba são um reflexo da má administração da coisa pública. Em 2020, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER) licitou o serviço de travessia entre Matinhos e Guaratuba sem tomar o cuidado de exigir, por exemplo, qualificação técnica das empresas que disputariam a concorrência e comprovação da qualificação dos funcionários e operadores.
Não foi exigido, também, que as empresas detalhassem a especificação técnica do equipamento operacional a ser disponibilizado para realizar as travessias. Dessa forma, a BR Travessias, empresa que ganhou a licitação, sequer trouxe equipamentos novos para a prestação do serviço contratado. Assumiu o serviço com a estrutura já existente, com ferry boats em operação há mais de 50 anos, construídos, conforme imagem nessa reportagem, no governo Moisés Lupion.
Um dimensionamento da capacidade de tráfego e da quantidade de veículos que fariam uso do serviço também não foi exigida. Os cálculos para a demanda operacional do sistema foram feitos com estudos preparados em décadas passadas. Dessa forma, nem o DER nem as empresas que disputaram a licitação sabem qual é a quantidade necessária de embarcações para oferecer um serviço minimamente razoável. É de se perguntar para que serve a Agepar, agência criada pelo governo do Paraná para exercer a regulação e fiscalização dos contratos, além de regular o transporte das travessias marítimas, fluviais e lacustres (em especial da travessia da baía de Guaratuba pelo sistema de ferry boat).
Diante de inúmeros problemas, como longas filas e tempo de espera exorbitantes, sem contar o vexame de um atracadouro afundado, o DER rompeu o contrato com a BR Travessias e, em fevereiro deste ano, sem nova licitação, contratou emergencialmente a Internacional Marítima. A nova empresa, porém, chegou ao Paraná e não mudou nada na operação do serviço. Continuou usando as mesmas balsas e os mesmos ferrys. Obviamente, os problemas continuaram.
Nenhum investimento foi feito por parte da nova empresa responsável pela operação do ferry boat. As longas filas continuaram a ser uma constante. O DER tentou contornar os problemas implantando medidas paliativas. No Carnaval, pediu que os motoristas adotassem rotas alternativas para chegar a Guaratuba e restringiu a passagem de veículos pesados pelo ferry boat. No final de março, uma estranha colisão entre uma balsa e um dos ferrys causou pânico em motoristas e usuários do serviço. Cabe indagar se a Capitania do Portos do Paraná já tem algum resultado do inquérito administrativo que foi aberto para apurar a causa desse acidente.
O governo insiste que a solução para o problema do ferry boat é a construção de uma ponte. Uma providência que, se sair do papel, vai demorar anos para se tornar realidade. Até lá, o paranaense vai continuar a ficar horas esperando para atravessar a Baía de Guaratuba.
Outro lado
Em nota, a Internacional Marítima disse que o fluxo das balsas na travessia sofreu alteração para atividades de manutenção, “no sentido de garantir a segurança, comodidade e eficiência dirigida aos usuários”.
A empresa disse, também, que mantém o compromisso de trabalhar para garantir um atendimento cada vez melhor aos clientes.