NOVOS NEVADOS
O inverno de mil novecentos e setenta e cinco
Nos deixou comovidos como diabos
Foi como a lua furar o nosso zinco
E a neve entrar pelos buracos
Infelizmente morava em Brasília
Mas senti Curitiba pelo frio dos livros
Que meu avô enviou para a família
Eles gelaram meus dedos então benditos
Este mesmo avô pisou em flocos
E escorregou na nevasca mais bonita
Pra quebrar a cara e os óculos
Com as mãos nos bolsos em plena Boca Maldita
Sérgio Viralobos
AMASSANDO GEADA
Um dia, por um céu
Fundou-se uma cidade
Ninguém sabe disso
Mas é a pura verdade
Olhando para cima
É madrugada na estrada
Serenidade na cabeça
O orvalho da geada
O Céu de Curitiba
Às seis da tarde já mudou
É a tela de um filme
Que o universo acelerou
De manhã lápis-lazúli
De tarde, o chumbo derreteu
De noite, outra estação
A cara outra metade socorrendo
Só teu céu é que me explica
Tanta especificidade
A luz de Curitiba
É uma senhora com muitas vaidades
Sérgio Viralobos e Carlos Careqa
CIDADE DE NEBLINAS
Ser como eu sou
Pode não ser o melhor sentimento
Ouço logo pela manhã do meu espelho
Atravesso ruas em atropelo
Pra não ir ao meu show
Em palco aberto em pelo
Quatro esquinas de vento
Me moendo por dentro
Francisco Cardoso e Sérgio Viralobos
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