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A morte do presidente americano e o telegrama da minha tia-avó

20/11/2023
telegrama

Este 22 de novembro marcará o 60º aniversário da morte de John F. Kennedy, o 35º presidente dos Estados Unidos. Nesse dia, em 1963 e aos 46 anos, ele foi assassinado em Dallas, no Texas.

 

Kennedy estava na cidade com sua esposa, Jacqueline, em campanha pela reeleição, quando o carro presidencial foi alvejado por tiros. Atingido na cabeça e no pescoço, morreu após alguns minutos. O suspeito, Lee Harvey Oswald, foi preso no mesmo dia, mas foi morto por Jack Ruby, um dono de boate, dois dias depois. Esses fatos geraram controvérsias e teorias da conspiração que persistem até hoje.

 

Eu tinha 16 anos e lembro muito bem da comoção que tomou conta do mundo. Kennedy representava uma esperança de paz e prosperidade para todos. Com apenas 43 anos ao iniciar o mandato, era uma figura carismática e inspiradora. Com uma abordagem inovadora para a política e em um país que ainda se ressentia fortemente da participação na 2ª Guerra Mundial, que acabara há pouco mais de 15 anos, ele usou o termo “New Frontier” para descrever seu programa de governo, propondo a ampliação dos direitos civis, a melhoria da educação e da saúde pública e a promoção do desenvolvimento econômico.

 

Mais do que o retrospecto de um acontecimento histórico, quero mostrar aos mais novos os avanços que minha geração presenciou e ainda está vendo acontecer, especialmente na área da comunicação.

 

Minha avó paterna, Sofia, tinha cinco irmãos. Na saída da Europa a família dividiu-se: ela e outros dois vieram para Curitiba e os demais se radicaram nos Estados Unidos. Uma irmã, minha tia-avó Mira (“Mirel”, em iídiche) morava em Pittsburgh e naquele dia estava em Curitiba visitando os irmãos. Ela, como americana, ficou em choque. O relato dessa história é exatamente o que dará aos mais jovens a dimensão da mudança pela qual o mundo passou.

 

Logo que tomou conhecimento do ocorrido, ela me pediu para passar um telegrama de condolências para os filhos, e me deu um papel com a mensagem que não esqueço: “greatly shocked sad news”.

 

Quase toda a família Guelmann morava na Ângelo Sampaio na quadra entre Petit Carneiro e Brasílio Itiberê; para ir ao Centro pegávamos o ônibus no ponto em frente ao armazém do “seu” Lima (Valdomiro Rubineck, sobre o qual ainda pretendo escrever). A linha chamava-se “Capelinha”, começava na avenida Água Verde e ia até a praça Carlos Gomes. O ponto final era em frente à redação e gráfica do jornal Gazeta do Povo.

 

Com o “papelzinho da cola” no bolso, caminhei até a Ébano Pereira, onde ficava a “Radional”, no local onde depois funcionou a loja Fedato Sports. A Radional era a subsidiária da empresa americana ITT e operava por rádio. Em um mundo onde o primeiro satélite de comunicações havia sido lançado recentemente, era a melhor opção e ali passei o telegrama.

 

Hoje, quando rememoro essa história, tenho que contar aos mais moços como a mensagem da minha tia chegou aos filhos dela. E isso fica mais fácil de entender, nessa sequência:

 

1. Minha tia decidiu mandar o telegrama; peguei o ônibus e fui até a Radional;

 

2. Feito o pagamento no balcão, o telegrama foi transmitido via rádio. Claro que havia uma antena em cima do prédio; podemos imaginar que um operador (daqueles com fones antigos) fez a transmissão, mas não sei se foi direta ou retransmitida através de uma ou mais estações de rádio;

 

3. No correio de Pittsburgh um operador recebeu a mensagem e a transcreveu para um formulário, usando uma máquina de escrever;

 

4. O telegrama foi entregue a um mensageiro, provavelmente de bicicleta, que foi até a casa dos meus parentes e o entregou.

 

Vamos admitir que todo esse processo tenha levado, digamos, umas 4 ou 5 horas?

 

Você que já nasceu “digitalizado” e com o mundo ao alcance da mão pelo celular, consegue imaginar? Considerando que fala com familiares e amigos em qualquer lugar do mundo, com voz e imagem, a qualquer momento e a um custo irrisório, acredita que há algumas décadas era assim?

 

Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.

5 comentários em “A morte do presidente americano e o telegrama da minha tia-avó”

  1. Josila Katz Gartenberg

    Para ver como em pouco tempo nossa tecnologia e evoluiu. Me trouxe boas recordações, inclusive me lembrei das fichas telefônicas

  2. Excelente seu texto! Nem me lembrava mais da Radional, entre outros ! Você, muitas e muitas vezes tira recordações desse lindo baú que é a sua memória, e que nos faz tão bem!

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