Nas últimas semanas, muitos curitibanos compartilharam o vídeo da música “Monsieur le Consul à Curityba”, até então desconhecida pela maioria. Eu mesmo a recebi muitas vezes e à todos respondi que já a conhecia, expliquei de onde, mas omiti um fato: ela foi a razão de ter levado a única bronca do Jaime Lerner em todos os anos em que trabalhei com ele.
Antes de contar a história, vamos falar sobre a música: ela foi composta por Marc Hevral com letra de Fernand Vimont e Henry Le Marchand e ganhou o Grande Prêmio da Canção Francesa de 1950. A canção fala de alguém que está no Brasil em uma cidade “pequena, charmosa e tranquila chamada Curitiba”, e descreve como uma pessoa, o “Senhor Cônsul de Curitiba” vive em sua casa. No entanto, ao contrário do que se pode imaginar, não se trata do Cônsul francês, a casa era do Cônsul da Inglaterra, Harry Blas Gomm, onde o autor da música foi recebido. É a mesma que foi tombada pelo Patrimônio do Estado do Paraná e removida do lugar original para a construção do Shopping Pátio Batel. Hoje a “Casa Gomm” está em terreno vizinho e é a sede da Coordenação do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura.
Dito isso, vamos ao histórico do pito que o Jaime me passou: em março de 1996 ele assinou o protocolo de intenções entre o Governo do Paraná e a Renault para instalação, em S. J. dos Pinhais, daquela que seria a 2ª indústria automotiva do Estado. A 1ª, a Volvo, já funcionava na Cidade Industrial de Curitiba desde 1979, quando ele mesmo era Prefeito da cidade.
A assinatura exigia sigilo em razão da negociação em paralelo com as empresas que vieram depois para compor o “polo automobilístico”. A reunião foi no gabinete alternativo onde o Jaime costumava despachar nas manhãs, chamado de “Chapéu Pensador”, construído à pedido dele no “Bosque da Copel” no Bigorrilho.
Nessa ocasião eu estava no gabinete no Palácio Iguaçu, já que só em algumas ocasiões precisava atender o Jaime naquele lugar, e no meio da reunião ele ligou e me pediu para conseguir a música “Monsieur le Consul à Curityba” para mostrar aos franceses.
Mas aí, quando as coisas estavam dando certo para o Paraná, deram errado para mim (rsrsrs).
Imediatamente comecei a telefonar para pessoas que imaginava poderem ajudar, sem deixar transparecer a razão do pedido, exatamente pela preocupação em preservar o sigilo.
Não consegui a gravação e, quando retornei ao Jaime para dar a má notícia, passei a lista de todos com quem conversei.
Quando mencionei o nome de uma pessoa, o Jaime teve uma reação inédita em nosso relacionamento e “me passou uma carraspana”:
– Você pediu ajuda para esse cara? Não sabe que ele é incapaz de guardar um segredo? Claro que ele vai ligar uma coisa à outra e vai sair contando!
À bem da verdade o Jaime conhecia a pessoa muito mais que eu, e quando desliguei comecei a torcer para que nada desse errado. Felizmente a reunião não vazou, o anúncio foi feito na data programada, o “Chefe” nunca mais tocou no assunto e o resto é história.
Antes que esqueça: como o personagem em questão ainda não está no chamado “plano espiritual” e já tenho desafetos suficientes, prefiro não identificá-lo…
Quanto a tal música, abaixo está um trecho, traduzido, assim como o vídeo com a interpretação.
“Há uma cidade no Brasil
Um cantinho charmoso e tranquilo
Onde a vida é doce e fácil
Chamada Curityba
Lá conheci um cônsul
Não era o cônsul da França
Mas para um cônsul, que sorte
Viver naquele país
Entre tuias e magnólias
Ele tem uma casa com varanda
Ele tem jardins cheios de resedá
O senhor cônsul em Curityba”.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HV-bU0sz0IM
(Crédito da foto: Turistória/Casa Gomm na década de 40 – Acervo de Cid Destefani)
Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.
Em 1986, fomos à Casa Gomm, ali na Avenida Batel, onde funcionava uma espécie de clínica, para minha mulher ter uma consulta com uma psicóloga clínica (patrícia) chamada Rosalind Bromfmann Tockus.
Posteriormente, com a extinção da clínica naquele local, a Ivet continuou a ter consultas na casa dela, um apartamento na Rua XV de Novembro, logo após a Ubaldino do Amaral.
O filho dela, que possuía uma fábrica de móveis, era meu cliente na agência Barão do Cerro Azul da Caixa Econômica Federal.