Um levantamento feito pelo site Repórter Brasil, divulgado pela agência APublica, mostra que a água que sai pela torneira em quase 20% dos municípios paranaenses está contaminada com produtos tóxicos ou radioativos. Cidades como Londrina, Maringá, Guarapuava, Ponta Grossa, Umuarama, Cascavel e Medianeira apresentaram nos exames laboratoriais, contágios por agrotóxicos ou resíduos industriais. São produtos jogados em rios e represas, que não são retidos em filtros e que não desaparecem caso a água seja fervida.
As informações podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água, que destaca quais substâncias extrapolaram o limite e explica seus riscos. Os dados são resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde. O Paraná é o segundo estado que mais testa a qualidade de água. Foram 258.780 testes entregues ao Ministério da Saúde e em 457 deles houve apontamento de contaminação entre os anos de 2018 e 2020.
Em nota, a Sanepar informou que atende rigorosamente os requisitos estabelecidos no Anexo XX da Portaria de Consolidação nº5/17 MS alterada pela Portaria 888/21 GM/MS e Portaria 2.472/21 GM/MS, que estabelece limites de parâmetros que podem causar riscos à saúde e a frequência de amostragem para o monitoramento da qualidade da água desde a captação até o ponto de consumo da população.
Com impacto silencioso, esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera. Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves. Estudos que associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde são carimbados pelos mais respeitados órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
O Mapa destaca o risco para a saúde e as atividades econômicas em que cada substância é utilizada. O nitrato, por exemplo, terceira que mais vezes excedeu o limite, é usado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e medicamentos. Ele é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela OMS.
Os trihalometanos foram o grupo com mais testes fora do padrão em todo o Brasil. Classificado como possivelmente cancerígeno pela OMS, podem causar problemas nos rins e fígado. Esses elementos são usados em agrotóxicos, solventes, anestésicos e extintores de incêndio. Sua principal origem na água, porém, vem do processo de tratamento.
Esta reportagem sobre a qualidade da água faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de agrotóxicos.