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04/05/2024

Ainda existe o futebol romântico?

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Por Glenn Stenger

 

Venho falar de um tema que vem e vai aparecer nas rodas de conversa do imenso percentual de brasileiros que e é apaixonado por futebol. Principalmente nas conversas daqueles que tem o sufixo “enta” em sua idade biológica: “no meu tempo os jogadores jogavam por amor à camisa…”!

 

Pois é. Realmente temos inúmeros casos onde os jogadores profissionais tinham enorme identificação com o clube em que jogavam. Por vezes permaneciam a carreira toda em uma única agremiação ou, se saiam, faziam questão do retorno ao time amado.

 

Mas hoje vivemos novos tempos. Não digo nem que isso é bom e nem que isso é ruim. Só afirmo, pela experiência vivida, que hoje é assim e continuará sendo.

 

O futebol não pode mais ser visto apenas como diversão de final de semana, como programa de família, como uma reunião de confrades para descontrair. Futebol é o esporte mais praticado no mundo e tem o maior poder de engajamento entre todos os esportes. Isso gera valor econômico astronômico. Isso faz com que se transforme o esporte em si, no maior business de entretenimento do planeta.

 

E aí, trocando a palavra esporte pela palavra business, a coisa muda totalmente de figura. Ao encararmos um negócio desse porte, temos que ter a ciência que vivemos em um ambiente essencialmente capitalista. E nesse ambiente a potencialização dos resultados financeiros é o foco. Não esperemos que, em um mercado com capacidade de gerar trilhões de dólares anualmente, tenhamos empresas, pessoas, associações, atletas, empresários e todo o entorno do futebol preocupado com eventual vínculo afetivo. O foco será sempre a perseguição de metas e objetivos econômicos crescentes.

 

Alguns países no mundo saíram na frente pois tiveram a capacidade de enxergar o que nossa mentalidade “tupiniquim” não permitiu ainda. Constituíram “LIGAS” onde os interesses dos envolvidos (clubes, atletas, empresários, etc) se sobrepõem aos interesses “estatais” das eventuais federações às quais pertencem. Resultado: vendem melhor, vendem mais caro o produto que oferecem, conquistam adeptos muito longe de suas fronteiras territoriais e capitalizam recursos que quem ainda não está engajado nesse processo não capitaliza.

 

Tive a oportunidade de conversar com dirigentes de clubes inclusos em ligas europeias. Estão anos luz à nossa frente. Miram o mercado asiático como a menina dos olhos. Vendem seu produto principal (o jogo em si) para inúmeros veículos (streaming, tv fechada, tv aberta) para milhões de consumidores que sequer sabem onde ficam os estádios em que as equipes jogam. Mas consomem diariamente o produto. Até pelo fato do fuso horário proporcionar preenchimento de grade de transmissão em horários que eles não teriam em seus países. Lembrando sempre que o que vende é o evento ao vivo. Ninguém gosta de ficar assistindo replay.

 

E aí alguns perguntam: só o jogo em si é vendido? Que nada! O jogo é um dos produtos (o principal obviamente). Mas a gama de outros produtos e serviços que são comercializados em continentes distintos, aquele em que os jogos ocorrem, é incomensurável. Dirigente de equipe espanhola afirmou para mim que o volume de camisas, souvenires, acessórios, etc, vendidos aos mercados Chinês, de Singapura, Índia e Países Árabes é cerca de cinco vezes superior ao que é consumido pelo torcedor (chamado de fã) regional.

 

Aqui no Brasil, participei desde o início da montagem do processo das ditas ligas. Ainda acredito que consigamos olhar para um horizonte diferente e fazer com que as duas ligas hoje existentes, convirjam para uma liga única. Só encontraremos vantagens (se a união acontecer) para podermos concorrer no mercado internacional.

 

O que temos no momento são apenas dois blocos que se reuniram para vender direitos de transmissão de seus jogos. Só isso. Ainda estamos longe do modelo necessário de união que proporcionará ganhos muito maiores aos seus integrantes. Ganhos técnicos, ganhos financeiros e ganhos conceituais.

 

E saindo do processo coletivo e falando do processo individual (que buscarei tratar com mais profundidade em outro artigo). Se os clubes não estiverem adaptados à realidade financeira que o mercado impõe, certamente estarão fadados ao desaparecimento breve. Ninguém consegue disputar e pensar em ter sucesso numa corrida de Porsches, pilotando um Fusca e ainda devendo para o fornecedor de pneus e de combustível. Analogia até um pouco pesada essa, mas que evidencia a situação de vários clubes que hoje temos no Brasil.

 

Volto, então, ao início do texto. E vou procurar dar resposta à questão que está no título. Para aqueles saudosistas (e eu me incluo) que ainda gostariam de ver o futebol mais “romântico” que era praticado décadas atrás, esqueçam. Esse futebol e todos os “atores” que faziam parte do esporte não existirão mais como existiram antes. Não esperem ver mais “Krugers” ou “Sicupiras”. O futebol já é hoje um dos maiores business em todos os segmentos comerciais do planeta (não só entretenimento) e só crescerá ano após ano. O futebol dito “romântico” só estará em nossas boas lembranças…


Glenn Stenger é presidente do Coritiba Foot Ball Club

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