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28/03/2024



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Campeão de vôlei com licor

 Campeão de vôlei com licor

Desencavo a história porque os fatos se deram há mais de 50 anos. Eventuais vergonhas já estão cicatrizadas, o que me credencia à indiscrição.

 

Estávamos em Itajuba, praia entre Barra Velha e Piçarras, em Santa Catarina, estância em que minha família veraneava. Era um daqueles verões verdadeiros, com sol e pancadas de chuva no fim do dia. Não havia baladas, que naquele tempo era coisa desconhecida. Todo mundo ia à praia pela manhã. À tarde, quem era jovem passeava pelas areias, aventurava-se subindo nas pedras, cruzava o rio em direção à praia do Grant. Ali só existia, no morro que dá acesso à praia, o velho Hotel Grant, por isso mesmo nome da prainha. Construído por um inglês, décadas antes, já estava em decadência naquele janeiro de 1966.

 

Foi quando descobrimos uma turma do Sesc Paraná que ali passava férias. Não lembro quem nos aproximou dos comerciários, acho que minha prima. Eles estavam organizando um campeonato de vôlei e fomos encaixados em um dos times.

 

Um dos sesquianos, eu conhecia de vista, talvez do Colégio Estadual. Os demais ficaram amigos a partir do primeiro jogo. Em times mistos, o nosso sobressaia-se por alguma razão. Minha memória seletiva considera que o saque de canhota que aprimorei (sacava-se por baixo, o craque Renan ainda não tinha inventado o saque viagem), capaz de fazer a bola sair girando, era arma mortal. Como a veracidade da informação não poderá ser comprovada, fica meu dito pelo não acreditado.

 

Ao fim daquela semana de jogos, chegamos à final. Era decisão capaz de disparar corações, fazer aquela imensa plateia de Maracanãzinho, composta por uma dezena de esposas, maridos e filhos de comerciários suar de nervosismo.

 

Eis que vencemos a parada, por algum placar que o tempo já escondeu. Veio então a comemoração do título. Naquela noite, no salão de festas do hotel, houve a cerimônia de despedida da caravana do Sesc. Como ponto alto, a entrega de faixas aos campeões.

 

Com muito orgulho, enverguei minha primeira faixa de campeão de vôlei. Era de papel higiênico, pintado com batom vermelho, com os solenes dizeres: Campeão de Vôlei – Colônia de Férias do Sesc PR 1996.

 

Foi a última temporada dos comerciários em hotel alugado. No fim daquele ano, o governador Paulo Pimentel desceu serra em direção ao litoral do Paraná para inaugurar a Colônia de Férias do Sesc em Caiobá.

 

Minha carreira terminou no Hotel do Grant. A faixa ficou enrolada no quarto que habitei naquelas férias, até passar de troféu a consolo de emergência.

 

Ao exagerar no consumo de chocolate com recheio de licor, fui vítima de uma violenta dor de barriga em certa madrugada. O banheiro estava carente de papel higiênico e não me restou outra opção.

 

Ainda hoje vejo aqueles dizeres heroicos viajando em direção às profundezas. A última palavra desaparecendo – oãepmaC – jamais sairá desta desgastada memória. Nem dos meus intestinos.

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