Gostava de sentar no piano da casa da Tia Bena e ficar tocando o “Bife”. Achava que o nome era “O Pife”.
O “Bife” nada mais é que uma canção antiga na qual se toca simultaneamente duas notas no piano com os indicadores das duas mãos. Ora subindo ora descendo.
Tia Bena era professora de piano e observando isso, resolveu me ensinar a ler as notas musicais.
Assim aprendi a fazer a clave de sol. Depois o DÓ que tinha um chapéu. O MI na primeira linha, o SOL na segunda linha e assim por diante.
Na altura dos 10 anos fui ter aulas com outra professora e esta se mostrou decidida a acelerar meu aprendizado que estava atrasado para a idade. Demonstrei disciplina e criaram-se expectativas.
Entre sustenidos e bemóis tive que percorrer diariamente métodos como Hanon, Czerny, Schmoll, O Pianista Virtuoso,…
Minhas horas musicais deixaram de ser momentos agradáveis.
Os dedos pareciam teimosos e os constantes erros faziam ter a certeza que era uma aluna desprovida de talento.
Uma nova professora e minha incompetência musical só se tornou mais evidente. Fui arrastando essa impressão durante mais alguns anos.
Até que um dia o piano emudeceu por completo. Decidi não mais fazer aulas.
O instrumento perdeu a finalidade e tornou-se um estorvo. Acabou sendo vendido.
Como saldo ficaram resquícios de “Sobre as Ondas”, “Le Lac de Come”, “Noturno”, “Tico Tico no Fubá”, “Pour Elise” e mais uma ou duas músicas básicas no repertório de um pianista pouco mais que iniciante… tocadas sofridamente.
O “Bife” ou o “Pife”” foi o presságio de tudo: Uma expectativa que não se cumpriu: PIFEI.
(Tia Bena era casada com o irmão mais velho do meu pai e morou no terceiro andar deste terceiro prédio (ao lado do amarelo) em um certo período. O imóvel fica na Rua XV de Novembro e foi construído pelo meu avô. Tem o nome: EDIFÍCIO ROMANÓ).
Fotos: Arquivo Pessoal
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