O conceito de “luxo” atravessou uma transformação tão abrangente que agora abraça uma vasta gama de produtos e experiências, desde carros esportivos e viagens até itens cotidianos como colchões e maquiagem. Sua presença generalizada parece desafiar a exclusividade que costumava caracterizá-lo.
Neste cenário em evolução da estética do luxo, emerge o conceito de “quiet luxury” – traduzido literalmente como luxo silencioso (também conhecido como “stealth wealth” ou “riqueza discreta”). Aqui, os indivíduos abastados ou aqueles aspirantes a tal status, valorizam cada vez mais peças que não ostentam logotipos evidentes ou etiquetas de preço exorbitantes.
Se olharmos para o final do século XVIII, com o declínio da monarquia francesa e o advento da industrialização e urbanização, aqueles no poder abandonaram as perucas, rendas e trajes extravagantes. A vida na corte cedeu lugar ao ascenso da classe industrial, cujo poder era simbolizado por ternos escuros e austeros, expressando uma atitude de indiferença em relação às tendências de moda da época.
Projeto assinado por Renata Pisani
Há um ditado em inglês que diz “when you know, you know” – algo como “quem sabe, sabe”. Essa tendência de riqueza discreta se alinha perfeitamente com esse ditado, pois é construída sobre casas repletas de marcas exclusivas, mas sem nenhum sinal visível que revele a origem de cada peça aos olhos de um observador externo.
O “quiet luxury” é destinado a sobreviver às mudanças cíclicas, pois é essencialmente sinônimo de elegância discreta e atemporal. Ele vai além, incorporando uma seleção cuidadosa de elementos que transcendem as tendências passageiras e alcançá-lo não é apenas uma questão de estética, mas também de mentalidade.
Especialistas argumentam que esse movimento surgiu discretamente em resposta a diversas crises recentes, incluindo a pandemia, conflitos globais e pressões econômicas, refletindo uma mudança de paradigma no comportamento de consumo. Consumo este em contraste com a ostentação, abraçando uma abordagem mais discreta, afastando-se de itens de grife ou com marcas proeminentes. Isto é, não se trata apenas do valor monetário investido em uma peça, mas sim da elegância sutil de sua apresentação.
Projeto assinado por Rodolfo Fontana
O perfil dos clientes que buscam esse estilo é geralmente composto por pessoas que valorizam a elegância discreta e a responsabilidade social, evitando excessos e optando por uma abordagem mais consciente e minimalista em sua vida e em seu consumo. Essa tendência representa uma mudança significativa na percepção e no consumo, e a indústria está se adaptando para valorizar peças que resistam ao tempo e incentivem um consumo mais consciente e sustentável.
Na arquitetura e no design de interiores, observa-se uma preferência por uma estética limpa e sóbria, com um forte apreço pelo design funcional. Mesmo em espaços residenciais amplos, o conforto é prioritário. O foco está na qualidade, durabilidade e versatilidade dos itens, considerando-os como investimentos.
Esses elementos conferem elegância ao ambiente, sem abrir mão da discrição – uma espécie de minimalismo distinto, paletas de cores neutras, materiais de alta qualidade, iluminação suave, climatização, sonorização, integração de elementos naturais, móveis confortáveis e refinados, detalhes sofisticados e espaços que promovem serenidade e a rejeição de logotipos e tendências passageiras tornam-se mais evidentes. Em resumo, ele busca criar ambientes luxuosos, porém serenos, com móveis simples em tons neutros, evitando ostentação em um contexto de recessão pós-pandêmica.
Para montar uma casa minimalista, distinta e chique, não é necessário gastar milhões. E não se trata de “fake it until you make it” e sim de viver a casa com um propósito, seguindo uma determinada estratégia, sendo fiel ao seu próprio estilo e, acima de tudo, fiel a sua realidade.
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