No momento em que este texto está sendo escrito as Forças Armadas da Ucrânia continuam a realizar atividades ofensivas em diferentes áreas ocupadas pelos russos. Mas o terreno conquistado e os avanços obtidos depois de três meses inteiros de extensas e custosas ações ofensivas seguem sendo muito pequenos. Talvez ainda seja cedo para falar em fracasso da ofensiva ucraniana, mas os ganhos obtidos também não permitem falar em vitória. O eventual esgotamento da ofensiva ucraniana pode levar tanto à estabilização da linha de frente em suas posições atuais quanto criar as condições para uma contraofensiva russa que, neste caso, surpreenderia os ucranianos justamente quando fossem menos capazes de opor resistência aos seus inimigos.
Os combates mais intensos se desenvolvem nas regiões de Pyatikhatki, Zherebyanki e Rabotino. Mas ainda não se pode falar em ruptura das linhas de defesa russa. Todas estas localidades fazem parte da zona de segurança avançada da linha de frente, uma área que não faz parte da primeira das três grandes linhas de defesa russa. Trata-se apenas de uma barreira protetora composta por áreas fortificadas avançadas, com campos minados e uma ampla zona de matança.
A primeira linha de defesa russa fica mais a sul de Rabotino. É lá que se encontram os obstáculos contra blindados conhecidos como “dentes de dragão” feitos de concreto, campos minados adicionais e valas antitanque. As forças ucranianas ainda não chegaram lá. E, caso cheguem, serão desafiadas em seguida a penetrar outras duas linhas defensivas igualmente densas. A primeira linha de defesa em torno da estratégica cidade de Tokmak fica quase 15 km ao sul da zona de segurança da linha de frente, dentro da qual os ucranianos ainda estão enredados.
Nada disso prognostica um êxito de caráter estratégico para os ucranianos. Afinal de contas, para mudar o rumo da guerra a seu favor seria importante que a atual ofensiva ucraniana alcançasse o litoral do Mar de Azov. Desta forma, seriam cortadas as comunicações e vias de transportes terrestres que ligam a Rússia à Criméia. Tal avanço também permitiria recuperar os portos ucranianos de Melitopol e Berdyansk atualmente em mãos russas.
Contudo, em três meses de ofensiva, as tropas ucranianas não lograram avançar mais do que alguns poucos quilômetros. Para chegar a Melitopol teriam que avançar cerca de 160 km. Também teriam que percorrer 130 km em direção a Berdyansk. Enquanto isso os russos seguem atacando nas regiões de Donetsk e Luhansk, drenando reforços que poderiam ser empregados na ofensiva ucraniana e criando ameaças com seus avanços.
A continuidade da ofensiva ucraniana irá exigir quantidades ainda maiores de munição, artilharia, blindados, drones, equipamentos de guerra eletrônica etc. Todo esse material está sendo fornecido aos ucranianos pelos países da OTAN, somando até aqui um valor próximo de 50 bilhões de dólares.
Outra demanda indispensável para continuar atacando diz respeito ao potencial humano. Para organizar uma nova contraofensiva, por exemplo, no início de 2024, estima-se que seria necessário começar a recrutar agora cerca de 200 mil pessoas para as Forças Armadas da Ucrânia. Atualmente são recrutados de 7 a 9 mil homens por mês, o que sequer compensa as perdas sofridas no campo de batalha.
As próximas semanas serão muito importantes para o desfecho da guerra. Pode ocorrer a paralização final dos esforços ofensivos ucranianos. A partir daí duas hipóteses são as mais prováveis de virem a ocorrer: ou a estabilização da linha de frente nas atuais posições ou uma contraofensiva, caso os russos tenham reservas para empregar num ataque de larga escala aos ucranianos.
Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e autor de “Extermine o Inimigo – Blindados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial” para adquirir clique aqui.
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