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O mundo em guerra e o Brasil indefeso

06/02/2024
brasil

O ambiente internacional está se deteriorando cada vez mais, com a manutenção e expansão de conflitos armados em larga escala por todo planeta. É altamente provável que tais conflitos interajam entre si levando a uma Terceira Guerra Mundial. Embora sob imenso risco de vir a ser engolfado por uma ou mais guerras o Brasil continua seguindo uma política de defesa fracassada que nos deixa expostos a toda e qualquer ameaça externa.

 

Em 29 de março de 2022 esta coluna alertava que os eventos militares como a Guerra da Ucrânia, as guerras civis no Iêmen e na Síria deveriam colocar em questão a política de defesa do Brasil, leia aqui.  Desde então a situação piorou drasticamente, com a Guerra da Ucrânia ameaçando se converter num conflito entre a Federação Russa e a OTAN (Organização do Tratado do Atlantico Norte); as guerras civis no Iêmen e na Síria se conectaram com a Segunda Guerra do Yom Kippur, deflagrada pelo Hamas contra Israel a partir da Faixa de Gaza em outubro de 2023, atingindo a Jordânia, o Líbano e o Iraque com potencial também de envolver diretamente o Irã, além de ameaçar todo tráfego marítimo nas regiões do Oceano Índico, Mar Vermelho, Golfo Persico e Mar Mediterrâneo.

 

Permanece em aberto a questão se as disputas sobre os destinos do Mar Ártico, do Mar do Sul da China e Taiwan irão ou não se converter em algum tipo de conflito, respectivamente, entre os Estados Unidos contra a Federação Russa e a China. Além de todos os riscos à segurança e aos interesses nacionais brasileiros colocados por tais guerras, a ameaça de um novo conflito em nossas fronteiras se tornou bastante real a partir das reivindicações territoriais da Venezuela para com a Guiana a partir de dezembro de 2023.

 

Neste contexto de tantos e tamanhos riscos, cada vez maiores e mais próximos, a reforma e atualização da Política Nacional de Defesa já deveria ter sido alçada à condição de questão prioritária. Infelizmente ocorreu o contrário, com a reiteração da fracassada política de defesa vigente e a cristalização da condição das forças armadas em um mero Partido Fardado, um tipo de “centrão” uniformizado cujas demandas insaciáveis por mais e maiores recursos não tem relação com a modernização e aumento de nossas capacidades militares. Há mais de um ano esta coluna lançou este alerta como consta em “O fracasso da transição na área da Defesa” leia aqui.

 

As reivindicações territoriais da Venezuela junto à Guiana, com seus potenciais riscos à soberania brasileira, provocaram pelo menos alguma reação de nossas autoridades militares. Contudo, o caráter precário, insuficiente e tardio de reforços tão minúsculos – 680 militares e 28 veículos blindados – é realçado pela longa viagem de três semanas que fizerm até seu destino final. De forma alguma se poderia contar com expedientes tão toscos e precários para conseguir se reagir a uma emergência militar real na Região Norte do país, a qual segue basicamente desguarnecida.

 

São imensos os riscos a que o Brasil se expõe no contexto atual. Dada a ausência de qualquer Política Nacional de Defesa atualizada e coerente, o desinteresse e ignorância dos membros do Congresso Nacional sobre o tema e, na inexistência de qualquer movimento político ou ideológico organizado empenhado em promover a causa da Defesa do Brasil só poderemos esperar pelo pior dos desfechos caso sejamos desafiados a manter e preservar nossa soberania.


Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e coautor em parceria com Vitelio Brustolin e Alcides Peron do artigo “Exploring the relationship between Crypto AG and the CIA in the use of rigged encryption machines for espionage in Brazil” (Cambridge Review of International Affairs, 2020)

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