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17/04/2024



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Copas do Mundo e suas esquisitices (IV)

 Copas do Mundo e suas esquisitices (IV)

A preparação para a Copa de 70 vinha mal, até que uma campanha da imprensa esportiva carioca no fim de 1968 emplacou João Saldanha como técnico da seleção. O treinador era jornalista de profissão, mas tinha experiência à beira do campo: havia treinado o Botafogo que venceu o Campeonato Carioca de 1957.

Era conhecida a ligação de Saldanha com o Partido Comunista Brasileiro, o que não foi empecilho para sua designação, mesmo em pleno regime militar. O treinador assumiu já escalando o time titular e os reservas, embora não houvesse nenhum jogo programado para o período.

Meses depois, a seleção ganhou os seis jogos que disputou nas Eliminatórias, empolgando a torcida. Mas Saldanha começou a perder a mão no início de 1970. Envolveu-se em polêmica ao afirmar que Pelé estava cego. Era um eufemismo, que ninguém entendeu à época, sobre Pelé não entender de futebol. O craque tinha chamado a atenção do treinador para a marcação sobre o atacante Fischer em um jogo contra a Argentina – que venceu o Brasil por 2 x 0 em Porto Alegre, com Fisher deitando e rolando.

Depois, a seleção precisou da ajuda do árbitro Armando Marques, convencido a inventar um pênalti salvador em um jogo contra o Bangu, em Moça Bonita. João Havelange, presidente da CBD, foi à concentração depois da partida, mas encontrou apenas João Saldanha dormindo em um sofá, uma garrafa de whisky ao lado. Os jogadores tinham saído de folga. Como me contou o médico Lídio Toledo, anos mais tarde, Havelange afirmou que demitiria Saldanha na segunda-feira. Dito e feito.

Depois Saldanha inventou a tese de que teria sido mandado embora por motivos políticos. Era uma afirmação falsa, de um homem com inteligência acima da média, embora fosse mitômano. Nas redações cariocas eram conhecidos seus exageros, inclusive sobre estar ao lado de Mao Tsé Tung na entrada do líder chinês em Pequim em 1949.

Zagalo assumiu, mexeu no time e o Brasil fez a Copa mais arrasadora de todos os tempos. As esquisitices ficaram por conta dos antológicos gols que Pelé não fez. Incentivada por aqui pelas vitórias expressivas e a música “Pra Frente Brasil”, e no México pela constelação de craques que povoavam o time, como Pelé, Rivelino, Gerson, Jairzinho e Tostão, a seleção assombrou o mundo e trouxe a Taça Jules Rimet em definitivo. A taça que depois foi roubada de dentro da sede da CBD e derretida, enquanto a entidade guardava uma réplica do troféu em um cofre super protegido. O lógico não seria o contrário?

Zagalo foi mantido para a Copa de 1974, aquela em que jogaram duas Alemanhas. A Ocidental, procurando fugir da seleção brasileira, perdeu para a Oriental, que foi derrotada pelo Brasil. Chegamos às semifinais, mas levamos uma tunda de tamancos dos holandeses. Foi a única Copa em que jogou Ademir da Guia, um dos grandes craques brasileiros de todos os tempos. E só na disputa pelo terceiro lugar, jogo que perdemos para a Polônia.

Esquisita mesmo foi a Copa de 1978, na Argentina. Com o país vizinho também vivendo sob o tacão de uma ditadura, o Brasil arrostou-se na primeira fase para deslanchar na segunda. Acontece que os jogos decisivos não ocorriam ao mesmo tempo. Enquanto o Brasil vencia a Polônia por 3 x 1, a Argentina entrou em campo mais tarde sabendo de quanto precisaria para classificar-se em primeiro lugar, o que lhe levaria à final contra a Holanda.

Até hoje especula-se o que aconteceu antes e durante aquele 6 x 0 contra o Peru. Se houve dinheiro envolvido, se os militares argentinos abordaram seus colegas peruanos, se compraram o goleiro Quiroga, argentino de nascimento e pouco decidido a defender o gol do Peru naquele jogo. Ao Brasil restou vencer a Itália por 2 x 1 e trazer o terceiro lugar – “somos campeões morais”, disse o nosso treinador Cláudio Coutinho, o que não serviu nem de consolo.

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