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01/05/2024



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Gente do bem que se vai

 Gente do bem que se vai

Começo com uma platitude, ao escrever que todos sabemos da inexorabilidade da foice maldita. Nada mais lugar-comum. Ocorre que o, felizmente, já passado mês de junho exagerou na dose, levando embora quatro amigos que tive a oportunidade de fazer nos 52 anos de comunicação que carrego no lombo.

 

O primeiro a se despedir foi Renato Mazanek, que levava um Ladislau como nome do meio, para não esquecermos de suas raízes na Polônia. Quando entrei como repórter na Rádio Clube Paranaense, meu primeiro emprego com carteira assinada, era o diretor comercial. Ao chegar a época de entregar a declaração de Imposto de Renda, perguntei a ele como fazia:

 

– Senta ali, datilografe nome completo, data e local de nascimento, filiação, número do RG, endereço e deixa que eu faço.

 

Não gastou mais que uns 10 minutos. Todo pimpão, fui entregar pessoalmente entregar a declaração na sede da Receita Federal e saí de lá com meu CPF.

 

Renato era um sujeito pronto a ajudar quem quer que fosse. Trabalhava feito um mouro. Durante anos, a sede da sua agência de propaganda ficava na Rua Jacarezinho. Domingo de manhã, o carro dele estava estacionado na frente. Sábado à tarde, batata. Tinha vocação de inventor, criava aratacas eletrônicas usando o que aprendeu como técnico de rádio no início da carreira. Dindobre panhe, Renato – se é assim que se escreve “muito obrigado” em polonês, e copiando a frase com que a Múltipla Propaganda agradeceu, pelo jornal, os serviços que a ela prestou.

 

Depois foi a vez de Luiz Fernando Magalhães partir. Conheci no Badep o Passarinho, como os amigos o chamavam, fazendo parte de um timaço de jornalistas, comandados pelo monstro do texto que era Milton Cavalcanti, em que também despontavam Clemente Orokoski, Geraldo Bolda e Dalva Bonilha. Depois participamos juntos da primeira composição do Conselho da Casa do Jornalista, sob o comando de Ayrton Baptista, fomos vizinhos no mesmo prédio no Batel e compartilhamos, durante muitos anos, as mesas de conselho do Paraná Clube.

 

Luiz Fernando foi um dos homens mais gentis que pude conhecer. Cortês, sem jamais levantar a voz, ganhava todos com sua simpatia. Era profundo conhecedor da língua portuguesa, teria sido um ótimo professor da matéria. Suas atas como secretário de conselho eram irrepreensíveis, usando a norma culta. Até porque, tinha enorme cultura. Minhas dúvidas sobre assuntos do Badep, sempre que havia algo a escrever sobre o banco, ele as sanava, com infinita paciência e muito talento narrativo.

 

Aí recebo a notícia do falecimento de Rogério Florenzano, outro gigante na arte de se dar bem com o mundo. As páginas da Gazeta do Povo estiveram sempre abertas, durante as décadas em que dirigiu seu departamento comercial, para receber anúncios, mesmo depois do expediente, nos sábados à tarde, domingos à noite.

 

Circulava pelas agências de propaganda distribuindo sorrisos, abraçando a todos, pronto a resolver qualquer problema que surgisse com um simples telefonema.

 

– Ernanão, você vai bem? dizia quando me encontrava.

 

Foi a única pessoa a me chamar de Ernanão. Soa estranho, mas vindo do Rogério era um elogio a um amigo que ele queria bem. E queria muito bem a tantos, a todos.

 

Um dia depois, e o mês parecia ir acabando sem mais aquela, eis que surge a trágica notícia da viagem desprogramada do Gil Rocha (foto). Era dono de uma série de qualidades, entre as quais se avolumava o amor pela família, além do rigor profissional. Poucas vezes conheci alguém tão entusiasmado com os seus. Adorava as atividades artísticas e esportivas da Ana e dos filhos. Vivia postando fotos da vida familiar. Bem humorado, também tinha a arte de unir pessoas como uma de suas qualidades.

 

Quando Amarildo Lopes convidou-me a fazer comentários na CBN, ano passado, foi ao Gil que me reportei, mostrando a impossibilidade de aceitar a função. Ele ouviu e respondeu:

 

– Fica tranquilo, vamos tomar um café.

 

No nosso último almoço de sábado, há uns dois meses, Carneiro Neto declarou, ao Tusca e a mim, sobre o Gil:

 

– É excelente caráter, uma pessoa do bem.

 

Espero que a minha cota de amigos perdidos tenha sido preenchida. Não sei se este desconjuntado coração, já por tantas tristezas que me tem sido dadas a suportar, aguentará outro mês tão funesto, com tantas ceifadas, quanto o inominável junho de 2023.

 

Leia outras colunas do Ernani Buchmann aqui.

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