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08/05/2024

Polêmicas nas Academias

graça

Nas chamadas priscas eras, as polêmicas intelectuais eram travadas em páginas de jornais, muitas vezes repercutindo o que havia sido dito em uma tribuna ou em rodas de conversas. Naquela época anterior à televisão, quando o rádio era ainda um veículo incipiente e as redes sociais não tinham sido ao menos imaginadas, aos jornais cabia o papel de divulgadores dos embates de ideias, muitos deles virulentos.

 

Não vou entrar na questão dos grandes debates sobre relações internacionais, tema explorado à exaustão sob pontos de vista antagônicos. Realistas x idealistas, ontológicos x epistemológicos, positivistas x pós-positivistas, Rússia x Ucrânia.

 

Interessante é ver as ideias de Eça de Queiroz chocarem-se com as de Machado de Assis. Ou relembrar as polêmicas de Graça Aranha (foto) na Academia Brasileira de Letras. José Sarney, conterrâneo e sucessor de Aranha na ABL, lembrou de um fato muito comentado à época.

 

Em uma solenidade, Graça Aranha subiu à tribuna e decretou:

 

– Morra a academia! Morra a Grécia!

 

Coelho Neto, na platéia, reage:

 

– Mas eu serei o último heleno.

 

Curioso é o fato de todos os citados serem maranhenses, o que não impediu o conflito de ideias entre os dois mais velhos.

 

Em Curitiba tivemos tanto debates de alto nível como de baixa extração. Merece ser contada a briga ocorrida em 1922, envolvendo outro maranhense, o escritor Raul Azevedo, radicado em Curitiba por conta de sua função de chefe dos Correios, com Raul Gomes, também escritor, xará e funcionário da repartição.

 

Azevedo criou as Tardes de Arte, realizadas aos domingos no Teatro Guaira. Gomes atacou pelos jornais, criticando a iniciativa. Mais ainda: como o adversário havia publicado um livro intitulado “Amores de Gente Nova”, Raul Gomes publicou uma crônica com o título “Amores de Gente Velha”, referência evidente ao romance clandestino mantido por Azevedo com Emita Helena, também funcionária dos Correios.

 

O pau quebrou. E a corda estourou no Centro de Letras, dividido entre as duas alas. Houve eleição para uma nova diretoria, vencida pela chapa comandada por Raul Gomes, paranaense de nascimento e mais bem relacionado entre os associados. Os perdedores retiraram-se do Centro e, algum tempo mais tarde, criaram a Academia de Letras do Paraná.

 

Que não durou muito, morreu de inanição literária alguns anos mais tarde. Só em 1936 é que nasceria a Academia Paranaense de Letras, em plena vitalidade até os dias de hoje.

 

Tanto que, nesta noite de 25 de abril de 2023, reúne-se em sessão solene no Palacete dos Leões, na Rua João Gualberto, para dar posse ao cineasta Fernando Severo. O discurso de saudação ao novo acadêmico será de Guido Viaro. Promete muito.

 

A entrada é gratuita. Mas adianto, não deverá ocorrer polêmica como as de antigamente.

 

Leia outras colunas do Ernani Buchmann aqui.

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