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12/05/2024

Um clássico épico

futebol

Meninos, eu vi. Não o jogo de ontem, mas os de antigamente. A cidade pegava fogo, com o bando da zona sul enfrentando a turma da zona norte. Não se tratava de nenhum Fluminense x Vasco, mas era um clássico de proporções homéricas.

 

Refiro-me a América x Caxias, o maior duelo do norte-catarinense a partir de 1921. Em termos gerais, o alvirrubro era o preferido dos que tinham sobrenomes portugueses, dos comerciantes turcos e dos profissionais liberais. Os caxienses tinham a preferência dos industriais e dos que traziam o sobrenome alemão.

 

Durante 55 anos os times se enfrentaram como se estivessem munidos de canivete no bolso e revólver na cinta. Até que as exigências de um profissionalismo mais exigente fizeram com que as duas facções da cidade se unissem.

 

Algo impossível, embora o Joinville leve as cores de ambos em seu uniforme. O América logo deixou claro seu desgosto, quando os industriais (João Hansen Neto à frente), que comandavam o novo time, escolheram o estádio do Caxias para sediar os seus jogos. Ora, o Ernesto Schemm Sobrinho era acanhado em comparação com o Olímpico da Rua Edgar Schneider, hoje Estádio Sadalla Amin Ganem.

 

O América seguiu disputando o campeonato amador de Joinville, do qual é o maior campeão, com 15 conquistas – o Caxias tem 12, mas ficou parado bastante tempo.

 

No cômputo geral, o América leva vantagem em títulos catarinenses, 5 x 3. O Caxias venceu também um campeonato da 2ª divisão e outro da 3ª, enquanto o América foi duas vezes campeão amador do estado.

 

Durante os últimos 47 anos os times só se encontraram em eventos festivos, com veteranos de avantajada barriga jogando bola a esperar que o churrasco assasse e a cerveja gelasse.

 

Tinham ficado para trás os grandes duelos das décadas anteriores. Já não se viam em campo os grandes Bosse (pai e o filho Raul, que morreu na última sexta-feira), Gungadin, Badeco, Gaivota, Ladinho, Norberto Hoppe e seu irmão Arthur, Puccini, Antoninho, Fontan, Teixeirinha, Lico, Beto Fuscão, Zabott, Ibrahim, Juarez,Vi e tantos outros.

 

Na relação dos clássicos, o Caxias leva boa vantagem. Um dos meus traumas foi a goleada de 6 x 2 imposta ao América nos anos 50. O velho Klein, caxiense fervoroso, passou buzinando com seu calhambeque em frente a nossa casa. Antipatizei com o velho a partir de então, do que hoje me arrependo, porque ele teve um trágico fim de vida.

 

Pois não é que América e Caxias voltaram a disputar um jogo de competição oficial na tarde de anteontem? Os dois agora disputam a 1ª Divisão da Liga Joinvilense de Futebol, lutando para se classificar para os playoffs decisivos.

 

As arquibancadas de concreto do estádio americano devem ter sentido a falta de figuras como a Judith, gritando “Vai, América”, do pessoal da Rádio Difusora, PYA-5, com Léo César, Jota Gonçalves, Arino Brazil e Maninho Bezerra, e da charanga do Caxias, um patrimônio do time a azucrinar nossos ouvidos.

 

Fiquem certos – houve um América x Caxias oficial neste histórico domingo, 20 de agosto de 2023. Não foi grande o público, infelizmente. Os joinvilenses de hoje não sabem o que perderam. No mínimo, deixaram de ouvir os ecos que ecoaram do passado distante.

 

E quase esqueço: o resultado foi 0 x 1. O Caxias ganhou de novo. Vou xingar o velho Klein.

 

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